São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA

Manifestantes pedem distribuição de cestas básicas em Pernambuco e agilidade em desapropriações

Sem-terra fecham estrada no Nordeste

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Cerca de 50 agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) interditaram ontem por uma hora e meia a BR-232, principal rodovia de ligação entre Recife e o interior de Pernambuco.
A manifestação ocorreu em Vitória de Santo Antão (PE). Os sem-terra pediam agilidade no processo de reforma agrária e a reativação do programa de distribuição de cestas básicas.
Os manifestantes bloquearam a rodovia com troncos e galhos. Dois trechos da pista, distantes cerca de 30 metros um do outro, foram interditados pelos agricultores. O protesto, que começou às 7h45, só terminou às 9h15.
Policiais militares e rodoviários foram ao local. Ninguém foi preso, mas houve tensão quando lavradores e motoristas discutiram pouco antes da chegada da polícia. "Depois matam quatro ou cinco, e vocês acham ruim", disse o autônomo Célio Couto. Os sem-terra responderam: "Então vem matar".
Por ordem da Justiça, os agricultores haviam sido despejados na noite anterior da fazenda Bento Velho, invadida por eles há dois anos e meio. Os barracos onde moravam foram queimados e o acesso às lavouras, proibido.
Na rodovia, eles reclamaram da fome e da demora no processo de desapropriação da área, que está em fase de vistoria.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o congestionamento chegou a 25 quilômetros de extensão. Um comboio de veículos do governo do Estado ficou preso no bloqueio.
Um dos integrantes da comitiva era o secretário estadual do Planejamento e Desenvolvimento Social, José Arlindo Soares. Ele viajava para Caruaru, onde assinaria convênios com o líder do MST Jaime Amorim.
Soares disse que já havia sugerido ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, um plano emergencial para manter as cestas básicas enquanto outro programa não fosse implantado. Afirmou que aguardava resposta de Jungmann e pediu aos sem-terra que liberassem a pista.
Os agricultores, no entanto, mantiveram a rodovia fechada e reafirmaram a disposição de saquear alimentos se não houver uma solução para o impasse. "Fechar a pista foi só o primeiro protesto", disse um dos líderes dos sem-terra, Ivo Pedro.
Às 8h20, a polícia conseguiu negociar a liberação de uma das pistas, sob o argumento de que havia risco de confronto com motoristas. O tráfego na rodovia foi liberado totalmente às 9h15, após uma reunião entre lideranças locais do MST.
Os lavradores consideraram que o protesto já havia atingido seu objetivo e autorizaram a retirada dos troncos e galhos.
Os trabalhadores rurais retornaram ao acampamento, montado em um sítio localizado a 500 metros de onde foram despejados. O grupo, formado por 56 famílias, está alojado sob duas lonas plásticas.


Texto Anterior: PFL pede ação de FHC para barrar candidatura de Aécio na Câmara
Próximo Texto: Programa de cesta básica vai mudar, afirma ministro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.