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HERANÇA MILITAR
Vice-presidente diz que vai cumprir decisão judicial, mas que documentos "não podem ser abertos na praça da Sé"
Para Alencar, abrir arquivos exige critérios
JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente e ministro da
Defesa, José Alencar, afirmou ontem que a decisão da Justiça tem
de ser cumprida, mas com critérios. Defendeu que os documentos do Araguaia não podem ser
abertos "na praça da Sé".
"Uma decisão do Judiciário não
se discute, cumpre-se. É claro que
os arquivos não serão carregados
e abertos na praça da Sé. Estão arquivados. As pessoas interessadas
vão procurar saber o que aconteceu com seus ancestrais, com seus
descendentes, com seus parentes.
É um direito do cidadão", disse.
Alencar declarou que o governo
não recorrerá da decisão da Justiça, pois é "natural" que as pessoas
venham a saber o que aconteceu.
Para ele, a decisão já era esperada
"por todos": "É assim mesmo.
Não tem nenhum problema".
Questionado se tem conhecimento da eventual incineração de
documentos do Exército sobre a
guerrilha do Araguaia, disse: "Eu
não sei. Nunca conversamos [ele e
o comandante do Exército, Francisco Albuquerque] sobre isso".
A guerrilha do Araguaia foi um
movimento armado organizado
pelo PC do B no sul do Pará e no
norte do Tocantins, extinto pelos
militares entre 1972 e 1975.
Alencar afirmou que aceitará
um convite da Justiça para discutir a abertura dos arquivos. "Nós
vamos examinar com o maior
apreço tudo aquilo que foi objeto
de decisão da Justiça", completou.
Para o vice-presidente, não haverá resistência de setores das
Forças Armadas a que os arquivos
sejam abertos. "Não há nada disso. Estamos vivendo regime democrático no Estado de Direito. E
o cidadão é rigorosamente respeitado. É preciso que nós todos
compreendamos que isso é uma
coisa natural", declarou.
O advogado-geral da União, Alvaro Ribeiro da Costa, evitou fazer comentários sobre a decisão
do presidente de não recorrer à
Justiça. "Politicamente, a decisão
é do Lula. O nosso trabalho é jurídico", disse ontem o ministro.
O ministro-chefe do Gabinete
de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, disse
que o governo organizará os arquivos antes de divulgá-los. "Primeiro vamos organizar tudo e depois veremos como essa coisa vai
ser feita. Foi uma decisão. E decisão da Justiça e presidencial a gente não comenta, cumpre."
Indagado sobre a decisão, o comandante do Exército disse: "Eu
só quero desejar um feliz Ano Novo para vocês [jornalistas]".
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