São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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HERANÇA MILITAR

Vice-presidente diz que vai cumprir decisão judicial, mas que documentos "não podem ser abertos na praça da Sé"

Para Alencar, abrir arquivos exige critérios

JULIA DUAILIBI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, afirmou ontem que a decisão da Justiça tem de ser cumprida, mas com critérios. Defendeu que os documentos do Araguaia não podem ser abertos "na praça da Sé".
"Uma decisão do Judiciário não se discute, cumpre-se. É claro que os arquivos não serão carregados e abertos na praça da Sé. Estão arquivados. As pessoas interessadas vão procurar saber o que aconteceu com seus ancestrais, com seus descendentes, com seus parentes. É um direito do cidadão", disse.
Alencar declarou que o governo não recorrerá da decisão da Justiça, pois é "natural" que as pessoas venham a saber o que aconteceu. Para ele, a decisão já era esperada "por todos": "É assim mesmo. Não tem nenhum problema".
Questionado se tem conhecimento da eventual incineração de documentos do Exército sobre a guerrilha do Araguaia, disse: "Eu não sei. Nunca conversamos [ele e o comandante do Exército, Francisco Albuquerque] sobre isso".
A guerrilha do Araguaia foi um movimento armado organizado pelo PC do B no sul do Pará e no norte do Tocantins, extinto pelos militares entre 1972 e 1975.
Alencar afirmou que aceitará um convite da Justiça para discutir a abertura dos arquivos. "Nós vamos examinar com o maior apreço tudo aquilo que foi objeto de decisão da Justiça", completou.
Para o vice-presidente, não haverá resistência de setores das Forças Armadas a que os arquivos sejam abertos. "Não há nada disso. Estamos vivendo regime democrático no Estado de Direito. E o cidadão é rigorosamente respeitado. É preciso que nós todos compreendamos que isso é uma coisa natural", declarou.
O advogado-geral da União, Alvaro Ribeiro da Costa, evitou fazer comentários sobre a decisão do presidente de não recorrer à Justiça. "Politicamente, a decisão é do Lula. O nosso trabalho é jurídico", disse ontem o ministro.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, disse que o governo organizará os arquivos antes de divulgá-los. "Primeiro vamos organizar tudo e depois veremos como essa coisa vai ser feita. Foi uma decisão. E decisão da Justiça e presidencial a gente não comenta, cumpre."
Indagado sobre a decisão, o comandante do Exército disse: "Eu só quero desejar um feliz Ano Novo para vocês [jornalistas]".


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