São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2004

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"NYT" diz que Brasil enviou dinheiro a Pinochet, mas chilena não confirma

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

O governo brasileiro e outros países enviaram dinheiro diretamente ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990), informou ontem o jornal "The New York Times", com base em documentos divulgados na semana passada pela jornalista chilena independente Patricia Verdugo. A jornalista, porém, não confirmou as informações publicadas pelo diário norte-americano.
Segundo o "NYT", o Brasil enviou, numa operação conjunta com a Malásia e o Reino Unido, US$ 3 milhões para o ex-ditador. Os Estados Unidos depositaram US$ 3 milhões; o Paraguai, US$ 1,5 milhão; a Espanha, US$ 1 milhão; a China, US$ 2,5 milhões. Em outra remessa conjunta, o Reino Unido e a China deram mais US$ 2,5 milhões.
Ao todo, Pinochet teria recebido de outros países ao menos US$ 12,3 milhões de 1974 a 1997 -ou seja, mesmo até sete anos depois de ter deixado o poder.
A reportagem, assinada por Larry Rohter, correspondente do "NYT" no Brasil, e por Timothy L. O'Brien, afirma que os documentos sobre essas operações foram fornecidos ao Banco Riggs pelo Ministério da Defesa chileno e analisados por um alto funcionário desse banco americano.
Rohter ficou conhecido no país neste ano ao publicar um polêmico artigo sobre o suposto hábito de beber do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com a reportagem, esses depósitos foram classificados como "comissões por viagem ao, e serviços no, exterior".
Esses documentos, divulgados na sexta-feira por Verdugo, fazem parte de uma investigação do Senado americano, concluída em julho, sobre a prática de lavagem de dinheiro no Riggs. A investigação descobriu que Pinochet mantinha até US$ 8 milhões em contas secretas nesse banco.

Outra versão
Verdugo, porém, afirmou na semana passada que Pinochet recebeu do próprio governo chileno US$ 6,8 milhões a título de "comissões de serviços no exterior" entre 1974 e 1977, baseada nos mesmos documentos do Ministério da Defesa chileno.
As duas versões trazem vários valores e datas idênticos. Segundo Verdugo, por exemplo, o ex-ditador recebeu US$ 3 milhões do governo chileno para visitar os Estados Unidos em 1976 -o mesmo ano em que, segundo o "NYT", ele teria obtido o mesmo montante de Washington.
Quando visitou o Brasil para assistir à posse do presidente Ernesto Geisel, em março de 1974, Pinochet recebeu US$ 800 mil, segundo Verdugo, autora de diversos livros sobre o violento regime do ex-ditador e citada pela própria reportagem do "NYT" como a primeira a analisar os novos documentos.
Questionada pela Folha se a reportagem do "NYT" estava equivocada, Verdugo respondeu, por e-mail: "Eu não posso dizer que um diário tão prestigioso como o "NYT" tenha cometido um erro. O diário terá de indicar as suas fontes... Eu tenho as minhas, e dizem outra coisa".
O setor de relações públicas do "NYT" disse que as informações da reportagem estão corretas e que foram obtidas em documentos localizados no Senado americano. Procurado para comentar o assunto, o porta-voz do Banco Riggs Mark Hendrix disse: "Você deve dirigir as suas perguntas ao general Pinochet". O governo brasileiro não comentou a reportagem do "NYT".


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