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"NYT" diz que Brasil enviou dinheiro a
Pinochet, mas chilena não confirma
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
O governo brasileiro e outros
países enviaram dinheiro diretamente ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990), informou ontem o jornal "The New
York Times", com base em documentos divulgados na semana
passada pela jornalista chilena independente Patricia Verdugo. A
jornalista, porém, não confirmou
as informações publicadas pelo
diário norte-americano.
Segundo o "NYT", o Brasil enviou, numa operação conjunta
com a Malásia e o Reino Unido,
US$ 3 milhões para o ex-ditador.
Os Estados Unidos depositaram
US$ 3 milhões; o Paraguai, US$
1,5 milhão; a Espanha, US$ 1 milhão; a China, US$ 2,5 milhões.
Em outra remessa conjunta, o
Reino Unido e a China deram
mais US$ 2,5 milhões.
Ao todo, Pinochet teria recebido de outros países ao menos US$
12,3 milhões de 1974 a 1997 -ou
seja, mesmo até sete anos depois
de ter deixado o poder.
A reportagem, assinada por
Larry Rohter, correspondente do
"NYT" no Brasil, e por Timothy L.
O'Brien, afirma que os documentos sobre essas operações foram
fornecidos ao Banco Riggs pelo
Ministério da Defesa chileno e
analisados por um alto funcionário desse banco americano.
Rohter ficou conhecido no país
neste ano ao publicar um polêmico artigo sobre o suposto hábito
de beber do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com a reportagem,
esses depósitos foram classificados como "comissões por viagem
ao, e serviços no, exterior".
Esses documentos, divulgados
na sexta-feira por Verdugo, fazem
parte de uma investigação do Senado americano, concluída em
julho, sobre a prática de lavagem
de dinheiro no Riggs. A investigação descobriu que Pinochet mantinha até US$ 8 milhões em contas
secretas nesse banco.
Outra versão
Verdugo, porém, afirmou na semana passada que Pinochet recebeu do próprio governo chileno
US$ 6,8 milhões a título de "comissões de serviços no exterior"
entre 1974 e 1977, baseada nos
mesmos documentos do Ministério da Defesa chileno.
As duas versões trazem vários
valores e datas idênticos. Segundo
Verdugo, por exemplo, o ex-ditador recebeu US$ 3 milhões do governo chileno para visitar os Estados Unidos em 1976 -o mesmo
ano em que, segundo o "NYT",
ele teria obtido o mesmo montante de Washington.
Quando visitou o Brasil para assistir à posse do presidente Ernesto Geisel, em março de 1974, Pinochet recebeu US$ 800 mil, segundo Verdugo, autora de diversos livros sobre o violento regime do
ex-ditador e citada pela própria
reportagem do "NYT" como a
primeira a analisar os novos documentos.
Questionada pela Folha se a reportagem do "NYT" estava equivocada, Verdugo respondeu, por
e-mail: "Eu não posso dizer que
um diário tão prestigioso como o
"NYT" tenha cometido um erro. O
diário terá de indicar as suas fontes... Eu tenho as minhas, e dizem
outra coisa".
O setor de relações públicas do
"NYT" disse que as informações
da reportagem estão corretas e
que foram obtidas em documentos localizados no Senado americano. Procurado para comentar o
assunto, o porta-voz do Banco
Riggs Mark Hendrix disse: "Você
deve dirigir as suas perguntas ao
general Pinochet". O governo
brasileiro não comentou a reportagem do "NYT".
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