São Paulo, sábado, 9 de janeiro de 1999

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Economistas vêem prejuízo ao país

da Reportagem Local

Economistas ouvidos pela Folha avaliam que a atitude do governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), de anunciar a suspensão do pagamento das dívidas do Estado provocou desgaste na imagem do Brasil no exterior.
Na opinião de Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda (1988-1989), a decisão de Itamar atrapalha o esforço do Brasil de construir uma imagem de país que honra seus compromissos.
"O mercado até hoje não esqueceu a moratória decretada pelo governo Sarney em 1987. Quando um ex-presidente, que é considerado um dos pais do Real, decide decretar moratória de seu Estado, aumenta a desconfiança em relação ao Brasil", disse Mailson.
Na opinião do ex-ministro, a situação se torna mais grave porque o país passa por um momento em que precisa ajustar suas contas para ter maior credibilidade no exterior.
Segundo ele, o estrago deve durar de 30 a 60 dias e pode ser desfeito com as repercussões da reação do governo federal e com a aprovação, pelo Congresso, de algumas medidas do ajuste fiscal.
O ex-presidente do Banco Central Fernão Bracher também acha que o gesto do governador Itamar Franco prejudica a reputação do país no exterior.
"Por que o Brasil não é considerado sério lá fora? Porque existem forças políticas importantes no país que mostram que, quando a coisa não está dando certo internamente, apertam lá fora. Não ter dinheiro para pagar uma dívida é algo que pode acontecer, mas uma coisa é sentar para conversar, outra é tomar uma decisão unilateral. Isso que o Itamar fez é muito grave", afirmou Bracher, atualmente presidente do banco BBA.
O ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas (1980-85) avalia que houve exagero. "Existe um quadro difícil em Minas, mas o governador não poderia colocar as coisas como colocou. Se ele não pode pagar, deveria informar o governo federal e negociar".
Galvêas também citou os efeitos negativos provocados pela moratória decretada por Sarney. "Tivemos que pagar muito mais juros porque perdemos o poder de negociação."
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Empresários
O presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Stefan Salej, afirmou que a medida de Itamar "não é boa para o Estado nem para o país". "O caminho da negociação é sempre o mais importante para a solução dos problemas", declarou. Salej pediu "boa vontade" por parte dos governos de Minas e federal para uma "negociação" positiva.
Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo), também discordou da decisão de Itamar. "Significa rompimento de diálogo, de equilíbrio e de bom senso. Acredito que todos têm o direito de renegociar dívidas e o governador (Itamar), mais do que ninguém, deveria conhecer esse ritual da renegociação."
Para Couri, a decisão é "leviana e irresponsável" e afeta a credibilidade do país no exterior.



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