|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Elio Gaspari
As prévias de Tasso podem oxigenar o PSDB
Sabe-se mais das propostas de Obama para os EUA do
que as plataformas dos candidatos a prefeito no Brasil
|
HÁ UMA BOA notícia no cenário
eleitoral brasileiro. É a proposta
do senador Tasso Jereissati
criando um sistema de prévias para a escolha dos candidatos a cargos executivos
do PSDB. Quem está acompanhando as
campanhas americanas pode avaliar o
caráter purificador desse mecanismo.
Obriga os candidatos a sair dos conchavos para disputar os votos da patuléia antes da hora do vamos ver.
As chances da proposta de Tasso são,
no máximo, de 20%. Por enquanto, ela
está aberta ao debate e o simples fato de
provocá-lo já é um bom passo. As prévias
do PSDB poderão ser abertas a todos os
eleitores ou fechadas, só para os filiados.
Elas poderiam definir diretamente até
80% dos votos das convenções. Os outros 20% ficariam com as bancadas federais e estaduais do partido. Os Estados
poderiam formar delegações de tamanhos diferentes ou ter pesos diversos na
convenção.
Depois que a caciquia do PSDB deixou-se fotografar em 2006 numa mesa
de restaurante, dando a impressão (falsa) de que escolhiam o candidato a presidente da República, as decisões do tucanato adquiriram um travo de vinho italiano estragado.
A forma da prévia importa pouco. O
essencial é o processo. O sistema americano levou quase 40 anos para amadurecer, mas faltam oito meses para o pleito
e a campanha presidencial de Barack
Obama, Hillary Clinton e James McCain
entrou em todos os lares do mundo. Sabe-se mais das propostas de Obama para
os Estados Unidos do que das plataformas de qualquer candidato a prefeito no
Brasil. Esse é o milagre das prévias. Seria
cópia de um modelo estrangeiro? Sem
dúvida, como a calça comprida foi copiada aos bárbaros, prevalecendo sobre a
tanga.
A idéia tem adversários e dificuldades.
A tentativa de organizar prévias para a
escolha do candidato no Rio naufragou
como um ferro de passar numa piscina.
Em 2000, o PPS tentou organizar uma
primária para a escolha do candidato a
prefeito de São Paulo, e o professor
Mangabeira Unger foi denunciado por
comprar inscrições. Coisas da vida. Seria
bom para todo mundo que houvesse a
discussão. Quem é contra bota a cara na
vitrine e quem é a favor sobe no caixote.
O MISTÉRIO DO LAPTOP DO NARCOGUERRILHEIRO
Os militares colombianos
dizem que capturaram o laptop do comandante Raúl Reyes, segundo homem das Farc
e genro do chefão "Tirofijo".
No disco do companheiro teriam encontrado coisas do arco da velha: o rastro de US$
300 milhões de Hugo Chávez,
negócios de cocaína, acordos
com o governo do presidente
equatoriano Rafael Correa e
uma mirabolante transação
de urânio.
Há um motivo para duvidar
dessa história. Admita-se que
o computador de Reyes não
tivesse qualquer tipo de segurança e ainda assim é difícil
acreditar que ele não protegesse com alguma senha os
documentos mais sigilosos.
Um dos textos indica que seus
redatores usaram um código
numérico para proteger nomes. Não faria sentido criptografar meia dúzia de identidades e deixar o caroço acessível
para qualquer curioso.
Apesar disso, há motivos
para acreditar nos generais
colombianos. Em 1962, caiu
nas montanhas do Peru um
avião da Varig que levava o
poeta Mário Faustino e uma
comitiva de 11 cubanos. Entre
os destroços foi encontrada
uma mala diplomática com
farto papelório sobre os focos
guerrilheiros que o castrismo
estava montando no Brasil.
Havia até relatórios de um
campo de treinamento em
Goiás, visitado por um fiscal
cubano.
A papelada foi publicada
por "O Jornal" e os sábios do
Itamaraty acharam que era
tudo fantasia de anticomunistas profissionais.
Era tudo verdade. Infelizmente, Miguel Brugueras, o
segundo homem da Embaixada de Cuba na ocasião, morreu em 2006 sem contar sua
história.
XEPA DE FEIRA
Na tarde de quarta-feira, realizou-se no gabinete do senador
Garibaldi Alves uma reunião de
dirigentes partidários para discutir R$ 534 milhões dos intestinos do Orçamento da União.
Durou mais de duas horas e
juntou uns 20 deputados e senadores. Um dos participantes
do encontro assegura que já esteve em inúmeros cambalachos
dessa espécie, mas nunca viu
cenas, diálogos e condutas tão
repulsivas.
Aviso aos navegantes: um dia
alguém grava uma reunião desse tipo, e o Congresso desaba,
como o primeiro templo de Jerusalém.
VIDA SEM INTELIGÊNCIA
Surgiu um Frankenstein no
debate das células-tronco.
Criou-se uma distinção entre o
início da vida segundo os critérios científicos e o início da vida
de acordo com os princípios jurídicos, como se uma pudesse
depender da outra.
A vida começa sem relação
passada, presente ou futura
com a ordem jurídica. Durante
a maior parte do tempo de existência do Brasil como entidade
territorial, estabeleceu-se que
os negros não eram gente. Isso
para não falar nos países europeus que legislaram sobre a
procriação de judeus.
Se a vida começa (ou não) no
momento da fecundação é um
bonito debate. Mais: esse detalhe não é religioso. Um sujeito
pode ser ateu, acreditar no argumento da fecundação e, ainda assim, defender as pesquisas
com células-tronco (ou mesmo
o direito de uma mulher decidir
abortar). Achar que só há vida
depois que ela é reconhecida
em cartório ou autenticada pela OAB equivale a regredir ao
período em que o cérebro do
nosso macaco mal sabia comandar as pernas.
VOZ DA SABEDORIA
De um sábio que já viu de tudo, duvidando da hipótese de
Nosso Guia sair pelo Brasil carregando nos ombros um candidato-poste para elegê-lo presidente da República: -Conheço-o há mais de 30 anos. Lula
nunca apoiou ninguém.
PERIGO
A CUT já sentiu o cheiro de
queimado das relações incestuosas entre as centrais sindicais, o Ministério do Trabalho e
a bolsa da Viúva. Os companheiros tomam prudente distância dos homens-bomba.
REGISTRO
Nosso Guia é o pai dos pobres
e a mãe da banca. Em 2007, o
lucro de 101 instituições financeiras nacionais chegou a R$
45,4 bilhões, ou US$ 26 bilhões.
Essa cifra é maior que o PIB de
121 das 230 nações do mundo.
Se a banca brasileira fosse um
país, seu lucro ficaria abaixo da
Jordânia e acima do Paraguai.
(Essa comparação baseia-se na
Paridade do Poder de Compra.)
SAUDADES
A associação da diplomacia
espanhola à polícia dos aeroportos é coisa recente. O Brasil
já teve um embaixador espanhol capaz de comover um
combatente das tropas republicanas durante a Guerra Civil.
Chamava-se Jaime de Alba, um
aristocrata no porte e na conduta. Ele vivia no mesmo edifício da Vieira Souto habitado
por Juscelino Kubitschek. Era
embaixador da ditadura do generalíssimo Francisco Franco,
"caudillo de España por la gracia de Dios". Em 1964, quando
JK estava ameaçado de prisão
pelos coronéis da ditadura, Don
Jaime fez-lhe chegar um convite. Caso necessitasse, poderia
tomar o elevador e teria a proteção do solo espanhol.
Texto Anterior: Eleição à prefeitura paulista não deve ter duelo de "marqueteiros famosos' Próximo Texto: Marinha libera ficha do "almirante negro" Índice
|