São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO
Confusão teve início no gramado do Congresso; porta de vidro do plenário da Câmara foi quebrada Manifestantes trocam socos e pontapés

da Sucursal de Brasília



A convenção do PMDB foi transformada em cenário de guerra por militantes e seguranças, que trocaram socos, pontapés e empurrões dentro e fora do plenário.
O resultado foi uma porta de vidro quebrada e manifestantes contratados pelos governistas e do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) ligado ao ex-governador Orestes Quércia) feridos. A confusão começou antes mesmo do início da convenção, do lado de fora do Congresso. Manifestantes e policiais promoveram um empurra-empurra no gramado em frente ao Congresso.
Do lado de dentro, o primeiro incidente ocorreu quando um grupo de manifestantes contratado pelos governistas enfrentou os seguranças da Câmara. Eles tentavam entrar à força no plenário, onde ocorria a convenção.
A porta de vidro da entrada principal acabou sendo quebrada, e o plenário foi ocupado pelos manifestantes. Eram 9h38.
"Se ficar todo mundo batendo palmas, o Itamar (ex-presidente Itamar Franco) vem fazer discurso de presidente. Quero ver ele fazer discurso assim", afirmou o ministro Eliseu Padilha (Transportes).
O coordenador dos manifestantes, Fábio Simão, disse à Folha que estava ali a pedido do deputado governista Sandro Mabel (GO).
"Fala com o Sandro Mabel. Ele fala por nós. Agora dá licença que eu sou convencional e quero votar", afirmou. Simão foi secretário particular do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB-DF).
Mabel negou que tivesse qualquer relação com os manifestantes, mas não quis acompanhar o repórter da Folha até Simão, para esclarecer a acusação.
"Eles são nossos, só não sei de onde", disse mais tarde à Folha, ao ser questionado sobre o fato de os manifestantes de camiseta amarela estarem com os militantes pró-FHC. Eles usavam camisetas com a frase: "Sou PMDB. Vou de FHC".
O próprio Mabel se envolveu em uma briga na entrada do plenário. Ele trocou empurrões com Amauri Perusso, que disse ser membro do Diretório Municipal do PMDB de Porto Alegre. "Tira esse cara da porta. Ele é porteiro?", gritava Mabel a Perusso, que impedia sua entrada no plenário.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), acompanhou o tumulto do seu gabinete. Ele determinou a liberação do plenário para a entrada dos manifestantes, mas a segurança demorou para encontrar a chave da porta.

Microfone
Os manifestantes governistas, todos com físico de frequentadores de academia de ginástica, demonstravam que queriam briga. Inicialmente, ficaram postados na lateral do plenário, à esquerda da Mesa. A segurança da Câmara não conseguiu convencê-los a sair do plenário.
O tumulto aumentou quando chegaram os militantes do MR-8, partidários da candidatura própria. Eles entraram pela porta exclusiva dos deputados.
Os seguranças da Câmara deixaram que eles brigassem. "Deixa eles se matarem, depois a gente carrega os corpos", afirmou um segurança. Quando os dois grupos se encontraram no meio do plenário, partiram para a agressão.
A briga acabou provocando ferimentos. Um militante do grupo pró-candidatura própria feriu-se no rosto. Com o sangue escorrendo até o pescoço, o militante se jogou contra a claque governista.
Na Mesa da Câmara, os líderes do PMDB, senador Jader Barbalho (PA) e deputado Geddel Vieira Lima (BA), negociavam com o presidente do partido, Paes de Andrade (CE), a retirada dos manifestantes do plenário. O presidente do PMDB não concordou.
Enquanto Jader discursava, estourou uma nova briga entre os manifestantes. Terminada a intervenção de Jader, defensores da candidatura própria tentaram arrancar o microfone das mãos do senador. Jader e Geddel resistiram e o fio do microfone rompeu-se.
(LUIZA DAMÉ E LUCIO VAZ)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.