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JANIO DE FREITAS
A conexão bancária
Com a revelação de que o
Banco Central teve em 99 o
prejuízo de R$ 13 bilhões, a serem cobertos pelo governo por
intermédio dos cofres do Tesouro Nacional, ficou-se sabendo a altitude de uma outra
quantia simbólica da atual administração do país: o Proer
criado por Fernando Henrique
Cardoso, inicialmente para socorrer o Banco Nacional, já
gastou R$ 30 bilhões, arredondados, em ajuda a bancos, ou
seja, banqueiros.
Diante dessas somas, pareceria contraditório que o ministro José Serra esteja brigando
por mais R$ 2,2 bilhões, indispensáveis à Saúde neste ano, e
no ano passado, como por certo ocorrerá outra vez, o ministro Paulo Renato Souza cortasse gastos com a Educação, para
diminuir o déficit do governo.
Não há contradição, porém.
É a lógica do governo Fernando Henrique Cardoso. A qual
explica a paralisação por dois
anos, agora descoberta quase
por acaso, do processo contra o
Banco Nacional no Banco Central. É claro que a autoria burocrática pelo sumiço do processo recairá em alguém. Mas,
ainda que se aceite a extravagante hipótese de que a diretoria toda do BC não notou a
evaporação do processo, só não
o notaria porque o inquérito,
como outros do gênero, nunca
esteve na cabeça da cúpula do
governo. Está excluído dos conceitos, propósitos e métodos
que compõem a lógica do governo.
É notável que nenhum dos
inúmeros escândalos dos últimos cinco anos contasse com o
governo Fernando Henrique
Cardoso para investigá-lo e
conduzi-lo às possíveis punições. Tudo o que teve algum
efeito foi empurrado adiante
pelo Ministério Público Federal e por CPI. A conexão com o
sistema bancário vai mais longe, no entanto. Sabia-se que sacava dos cofres do Banco Central para banqueiros e outros,
fossem os socorridos "quebrados" que continuam riquíssimos, fossem os compradores
articulados pelo BC. Sabe-se
agora que o governo tem um
modo a mais de corromper-se
na conexão bancária, com a
evaporação de inquérito.
A corrupção do tipo policial é
explícita. A corrupção do gênero que tonteia São Paulo sempre foi conhecida, desconhecidos eram só os pormenores.
Mas não só de explicitudes se
faz a corrupção, que pode ter
infinitas formas. Delas, a pior é
a corrupção inexplícita, encoberta por farsas como a depuração do sistema financeiro.
O governo de Fernando Henrique Cardoso não pode olhar
de cima o que se passa, por
exemplo, com a prefeitura de
São Paulo.
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