São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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JANIO DE FREITAS
A conexão bancária

Com a revelação de que o Banco Central teve em 99 o prejuízo de R$ 13 bilhões, a serem cobertos pelo governo por intermédio dos cofres do Tesouro Nacional, ficou-se sabendo a altitude de uma outra quantia simbólica da atual administração do país: o Proer criado por Fernando Henrique Cardoso, inicialmente para socorrer o Banco Nacional, já gastou R$ 30 bilhões, arredondados, em ajuda a bancos, ou seja, banqueiros.
Diante dessas somas, pareceria contraditório que o ministro José Serra esteja brigando por mais R$ 2,2 bilhões, indispensáveis à Saúde neste ano, e no ano passado, como por certo ocorrerá outra vez, o ministro Paulo Renato Souza cortasse gastos com a Educação, para diminuir o déficit do governo.
Não há contradição, porém. É a lógica do governo Fernando Henrique Cardoso. A qual explica a paralisação por dois anos, agora descoberta quase por acaso, do processo contra o Banco Nacional no Banco Central. É claro que a autoria burocrática pelo sumiço do processo recairá em alguém. Mas, ainda que se aceite a extravagante hipótese de que a diretoria toda do BC não notou a evaporação do processo, só não o notaria porque o inquérito, como outros do gênero, nunca esteve na cabeça da cúpula do governo. Está excluído dos conceitos, propósitos e métodos que compõem a lógica do governo.
É notável que nenhum dos inúmeros escândalos dos últimos cinco anos contasse com o governo Fernando Henrique Cardoso para investigá-lo e conduzi-lo às possíveis punições. Tudo o que teve algum efeito foi empurrado adiante pelo Ministério Público Federal e por CPI. A conexão com o sistema bancário vai mais longe, no entanto. Sabia-se que sacava dos cofres do Banco Central para banqueiros e outros, fossem os socorridos "quebrados" que continuam riquíssimos, fossem os compradores articulados pelo BC. Sabe-se agora que o governo tem um modo a mais de corromper-se na conexão bancária, com a evaporação de inquérito.
A corrupção do tipo policial é explícita. A corrupção do gênero que tonteia São Paulo sempre foi conhecida, desconhecidos eram só os pormenores. Mas não só de explicitudes se faz a corrupção, que pode ter infinitas formas. Delas, a pior é a corrupção inexplícita, encoberta por farsas como a depuração do sistema financeiro.
O governo de Fernando Henrique Cardoso não pode olhar de cima o que se passa, por exemplo, com a prefeitura de São Paulo.



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