São Paulo, sábado, 09 de abril de 2005

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DIPLOMACIA

Presidente afirmou ainda, em Roma, que dará auxílio à ilha de Fidel Castro na luta contra o bloqueio econômico dos EUA

Lula diz que ajudará Cuba a ter democracia

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma rara declaração pedindo democracia em Cuba, governada desde 1959 pelo ditador Fidel Castro, seu amigo pessoal. Por "pedir" entenda-se uma cuidadosa ponderação de que o "Brasil pode ajudar a construir o processo democrático em Cuba".
Para chegar a essa formulação, respondendo a pergunta da Folha em conversa ontem com jornalistas em Roma, Lula discorreu sobre temas conhecidos do discurso petista pró-Fidel. "Temos muito a fazer pela democracia em Cuba. Temos que ajudar na luta contra o bloqueio [econômico imposto pelos norte-americanos há quatro décadas]. O Brasil tem uma chance de ajudar a dar normalidade nas relações de Cuba."
Lula havia se encontrado, pouco antes, com o presidente da Assembléia Nacional cubana, seu amigo Ricardo Alarcón -que lhe presenteou com uma caixa de charutos cubanos Romeo y Julieta. Lula não ia falar sobre o presente, mas a caixa nas mãos do cubano à entrada da Embaixada do Brasil em Roma e o cheiro de fumaça na sala contígua à da entrevista consumaram a denúncia.
O presidente discorria sobre a viagem que começa amanhã a cinco países africanos. Com o chanceler Celso Amorim a seu lado, repisou a retórica de que "o Brasil é o país do século 21" e falou de sua política de aproximação com a África. Para reforçar os laços entre brasileiros e africanos, disse: "Todos nós temos algo de negro, mesmo nas células". Amorim completou: "Na alma".
Lula ressaltou ainda que a aproximação pode ajudar a trazer a democracia ocidental para esses países. "Veja bem, não se trata de criticar o passado colonialista, Espanha, Portugal. Temos que olhar o futuro. A democracia avança a olhos vistos na África, e o exemplo do Brasil na sua democratização pode ser importante", disse Lula, com Amorim concordando. Foi nesse momento que lhe foi perguntado sobre Cuba.
Após elogiar o sistema educacional em Cuba, completou afirmando que seria bom ajudar o povo cubano a viver "experiências democráticas". "Mas isso não pode ser feito com imposições", disse. Evitando chamar Cuba de ditadura, afirmou que, "sempre que alguém é acuado, faz o pior", ao citar o embargo e a pressão por mudanças no regime de Fidel.
A ilha caribenha, único país nominalmente comunista das Américas, é uma espécie de objeto de desejo do PT e de suas principais lideranças. Era modelo ideológico e casa para então exilados como o hoje chefe da Casa Civil, José Dirceu. Agora, é constante na agenda dos principais ministros do governo e está nos planos de investimentos externos do governo.


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