São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Entrei e sairei na forma da lei, diz reitor

À noite, Timothy Mulholland foi denunciado pelo Ministério Público por usar verba para decorar apartamento funcional da UnB

Estudantes pedem saída do reitor; Lula disse ontem, em reunião com senadores, que está preocupado com o andamento da invasão

ANDRÉA MICHAEL
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, afirmou ontem que não deixará o cargo e que tem esperança que a invasão da reitoria por estudantes seja solucionada em breve e de forma pacífica.
"Entrei na UnB na forma da lei e sairei na forma da lei. As negociações serão levadas à exaustão, até as forças se esgotarem. Mas há uma decisão judicial [de reintegração de posse], imaginamos que esse prazo não seja tão longo", disse o reitor, em uma entrevista coletiva realizada pela manhã.
A entrevista foi convocada após o sexto dia de invasão da reitoria. Anteontem, os estudantes ampliaram a invasão a outros andares da reitoria. Eles pedem a saída do reitor, por conta de uma investigação feita pelo Ministério Público.
O reitor evitou responder sobre a possível invasão da Polícia Federal. Disse que está trabalhando para que a solução não seja violenta, mas lembrou o alerta da própria PF sobre possível responsabilização criminal dos líderes do movimento.
A PF instaurou inquérito para apurar responsabilidades dos invasores. Serão investigados os crimes de lesão corporal, dano qualificado ao patrimônio da União, atentado contra o serviço de segurança e desobediência à decisão judicial que desde a última semana ordenou a saída dos alunos.
Na entrevista, Mulholland disse que se sentia "completamente" à vontade no cargo, apesar da investigação.
"Aquilo foi um processo institucional, não é questão pessoal", afirmou. Ele disse que o escândalo da compra dos móveis deu "oportunidade para intensificar ataques" à sua pessoa e à universidade e que foi criticado pelas políticas de inclusão.
Durante a entrevista, Mulholland listou vários problemas criados com a invasão da reitoria, como o possível atraso de pagamento dos funcionários e de bolsas de estudantes.

Denúncia
À noite, o reitor e seu decano de administração, Erico Paulo Weidle, foram denunciados pelo Ministério Público Federal acusados de usar de forma "ilegal e imoral" dinheiro para decorar o apartamento funcional.
A ação de improbidade administrativa pede o ressarcimento integral do dano causado, a perda da função pública, suspensão dos direitos políticos por até cinco anos, o pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração recebida e o pagamento de indenização por danos morais.
A Folha procurou a assessoria de imprensa da UnB, mas não conseguiu contato. O vice-reitor, Edgar Mamiya, disse que Timothy recebeu a notícia da ação no fim do dia com "tranqüilidade" e que vai analisá-la para apresentar a defesa.
Mulholland se reuniu com estudantes no Ministério Público para negociar o fim da invasão, mas não houve acordo.
Em reunião com a bancada do PDT no Senado, o presidente Lula disse que está preocupado com a invasão e, segundo relatos, afirmou que o reitor deveria se afastar do cargo.

Acidente
O estudante João Victor Venâncio Medeiros, 18, aluno de Artes Cênicas, caiu ontem à noite de um dos andares do prédio da reitoria. Bombeiros foram chamados e o levaram ao Hospital de Base de Brasília. Segundo os bombeiros, o estudante estava consciente, reclamando de dor nas costas e iria tirar um raio-X. Dois estudantes ouvidos pela Folha disseram que a queda ocorreu devido à falta de luz. A UnB cortou energia e água anteontem.


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