São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Ex-ministro explica benefícios que recebeu da CNI, dizendo que prática é comum na Esplanada dos Ministérios

Favores são praxe no governo, diz Bezerra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao tentar justificar o recebimento de favores por parte da CNI (Confederação Nacional da Indústria), como o pagamento de assessores e o aluguel subsidiado de uma mansão em Brasília, o ex-ministro Fernando Bezerra acabou confessando uma prática ilegal que, segundo ele, seria praxe na Esplanada dos Ministérios.
Bezerra disse que durante sua gestão o seu chefe de gabinete, Cid Ferreira Lopes Filho, o antigo assessor pessoal para assuntos de comunicação Luiz Cláudio Cunha e uma de suas secretárias receberam cumulativamente dois salários: um pago pela CNI e outro por meio dos DAS (vencimentos de nível superior do funcionalismo público federal).
"Não vejo nada de aético nisso, nenhum crime. Trouxe alguns poucos funcionários da CNI, pois lá existe uma melhor estrutura técnica", afirmou Bezerra. Em seguida, disse que havia feito uma consulta jurídica sobre o tema e obteve resposta de que não haveria problemas -mas não informou quem o respondeu. Depois disse que não consultou a Comissão de Ética Pública do governo federal. "Achei tão normal."
Na esteira da confissão, Bezerra disse que a prática seria comum em outros ministérios e citou como exemplo o caso do assessor econômico do Ministério do Planejamento, José Guilherme Reis.
Por meio da assessoria do ministério, Reis disse que desde agosto de 99, quando foi trabalhar com o ministro Martus Tavares, obteve uma licença sem vencimentos e que desde então não recebe nenhum benefício da CNI.
Reis disse ainda que a acusação de Bezerra deve-se ao fato de ele ter recusado ocupar o cargo de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, no ano passado. Isso teria "chateado" o ex-ministro.
No início da noite, depois de ser citado pelo ex-ministro, o jornalista Luiz Cláudio Cunha pediu demissão do cargo de editor da revista "Época", cargo que ocupava havia apenas oito dias.

Mansão subsidiada
Bezerra disse que ocupava a mansão na QL 20 do Lago Sul, bairro nobre de Brasília, que pertence à CNI, mas que pagava um aluguel de R$ 2.000 -no mercado, a casa é alugada por pelo menos o dobro. "A diretoria da CNI queria que eu ficasse de graça, mas não aceitei", disse o ex-ministro, exibindo cópia do contrato de aluguel.
Ano passado, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a participar de um jantar com vários líderes políticos na casa de Bezerra. No dia seguinte, FHC teve de ficar em casa, sem poder trabalhar, com indisposição gástrica.
Além dos funcionários do gabinete e da casa, a CNI paga ainda os serviços de manutenção e de vigilância da mansão. Uma empresa especializada que cuida da imagem pessoal e política de Bezerra também é paga pela CNI.
(WILLIAM FRANÇA)


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