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MÍDIA
Velocidade na divulgação traz riscos para a confiabilidade das informações
Ombudsmans discutem como
jornais devem usar a internet
DA REPORTAGEM LOCAL
Para atrair um público mais jovem, o diário holandês "Volkskrant" permitiu, no final de 2005,
que qualquer pessoa pudesse
criar um blog na internet com a
chancela do jornal. Embora leve o
nome do diário, não há qualquer
aviso no blog informando que o
seu conteúdo não é de responsabilidade do jornal.
Um dos blogs patrocinados pelo
"Volkskrant" publica uma foto e
comentários quase diários do primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, descrevendo suas
opiniões ou suas férias. O problema é que o verdadeiro "dono" do
blog não é o primeiro-ministro.
"Abrimos a caixa de Pandora",
disse ontem Thom Meens, ombudsman do "Volkskrant", que
luta contra o jornal para modificar a decisão. "É uma situação
horrível." Meens cita o caso de seu
jornal como um "não-exemplo"
de como a internet pode ser usada
na atividade jornalística.
O jornalismo na internet foi um
dos principais temas debatidos no
primeiro dia da 26ª Conferência
Anual da ONO (Organization of
News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), promovida em São Paulo e
organizada pela Folha -o jornal
prefere aportuguesar o plural de
"ombudsman" porque a palavra é
de origem sueca, e não inglesa.
Ombudsmans de 12 países participam até quarta-feira do encontro, fechado ao público e realizado pela primeira vez em um
país da América Latina.
No painel "Ética Jornalística na
Era de Internet", Edward Wasserman, professor de Ética Jornalística da Washington and Lee University, dos Estados Unidos, discutiu, com exemplos teóricos e
práticos, as implicações da velocidade e abrangência da internet.
Desafios
O jornalismo eletrônico coloca
uma série de desafios e oportunidades para a atividade. O fundamental, porém, seria preservar
padrões éticos e de confiabilidade
no jornalismo, hoje ameaçados
pela velocidade e "voracidade" da
internet. Wasserman elencou
uma série de pontos que trazem
"novos desafios à ética convencional na prática do jornalismo".
Uma das implicações é a "distribuição instantânea" de informações, o que levanta questões sobre
se uma notícia "está pronta ou
não", do ponto de vista de sua veracidade, para ser publicada.
Essa preocupação leva a outros
dois pontos: o acesso "universal"
a todas as informações que são
colocadas na rede, precisas ou incorretas, e sua durabilidade.
Acessadas por meio de programas de busca, informações não-precisas podem se perpetuar na
rede e gerar novos erros. Para
Wasserman, ainda não existem
mecanismos seguros de correção
ou meios de evitar a disseminação
de informações imprecisas.
A abrangência da internet, segundo ele, gera "desafios e oportunidades". Wasserman destacou
o fato de jornalistas terem em
mãos hoje um "poderoso instrumento" de propagação de informações, como os blogs, sem depender necessariamente de uma
grande empresa jornalística.
Wasserman lembrou o caso do
blog norte-americano de Matt
Drudge. Ele vazou em primeira
mão que a revista "Newsweek" teria escrito e não publicado reportagem sobre o caso entre o ex-presidente Bill Clinton e a estagiária
Monica Lewinsky. O escândalo
chegou a ameaçar Clinton de impeachment, em 1999.
América Latina
Em outro painel, Germán Rey,
ex-ombudsman do diário colombiano "El Tiempo" e professor da
Universidad de los Andes, discorreu para seus cerca de 40 colegas
de 12 diferentes países sobre a situação do jornalismo na América
Latina -um dos temas centrais
desta conferência da ONO.
Alguns participantes do encontro já haviam demonstrado surpresa com os baixos níveis de circulação dos jornais impressos latino-americanos se comparados
aos de países mais avançados.
Rey afirmou que os 213 milhões
de pobres na América Latina e um
PIB per capita médio quase 10 vezes inferior na comparação com
os EUA explicam esse quadro, assim como a predominância da TV
e do rádio como meios de comunicação de massa na região.
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