São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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MÍDIA

Velocidade na divulgação traz riscos para a confiabilidade das informações

Ombudsmans discutem como jornais devem usar a internet

DA REPORTAGEM LOCAL

Para atrair um público mais jovem, o diário holandês "Volkskrant" permitiu, no final de 2005, que qualquer pessoa pudesse criar um blog na internet com a chancela do jornal. Embora leve o nome do diário, não há qualquer aviso no blog informando que o seu conteúdo não é de responsabilidade do jornal.
Um dos blogs patrocinados pelo "Volkskrant" publica uma foto e comentários quase diários do primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, descrevendo suas opiniões ou suas férias. O problema é que o verdadeiro "dono" do blog não é o primeiro-ministro.
"Abrimos a caixa de Pandora", disse ontem Thom Meens, ombudsman do "Volkskrant", que luta contra o jornal para modificar a decisão. "É uma situação horrível." Meens cita o caso de seu jornal como um "não-exemplo" de como a internet pode ser usada na atividade jornalística.
O jornalismo na internet foi um dos principais temas debatidos no primeiro dia da 26ª Conferência Anual da ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), promovida em São Paulo e organizada pela Folha -o jornal prefere aportuguesar o plural de "ombudsman" porque a palavra é de origem sueca, e não inglesa.
Ombudsmans de 12 países participam até quarta-feira do encontro, fechado ao público e realizado pela primeira vez em um país da América Latina.
No painel "Ética Jornalística na Era de Internet", Edward Wasserman, professor de Ética Jornalística da Washington and Lee University, dos Estados Unidos, discutiu, com exemplos teóricos e práticos, as implicações da velocidade e abrangência da internet.

Desafios
O jornalismo eletrônico coloca uma série de desafios e oportunidades para a atividade. O fundamental, porém, seria preservar padrões éticos e de confiabilidade no jornalismo, hoje ameaçados pela velocidade e "voracidade" da internet. Wasserman elencou uma série de pontos que trazem "novos desafios à ética convencional na prática do jornalismo".
Uma das implicações é a "distribuição instantânea" de informações, o que levanta questões sobre se uma notícia "está pronta ou não", do ponto de vista de sua veracidade, para ser publicada.
Essa preocupação leva a outros dois pontos: o acesso "universal" a todas as informações que são colocadas na rede, precisas ou incorretas, e sua durabilidade.
Acessadas por meio de programas de busca, informações não-precisas podem se perpetuar na rede e gerar novos erros. Para Wasserman, ainda não existem mecanismos seguros de correção ou meios de evitar a disseminação de informações imprecisas.
A abrangência da internet, segundo ele, gera "desafios e oportunidades". Wasserman destacou o fato de jornalistas terem em mãos hoje um "poderoso instrumento" de propagação de informações, como os blogs, sem depender necessariamente de uma grande empresa jornalística.
Wasserman lembrou o caso do blog norte-americano de Matt Drudge. Ele vazou em primeira mão que a revista "Newsweek" teria escrito e não publicado reportagem sobre o caso entre o ex-presidente Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. O escândalo chegou a ameaçar Clinton de impeachment, em 1999.

América Latina
Em outro painel, Germán Rey, ex-ombudsman do diário colombiano "El Tiempo" e professor da Universidad de los Andes, discorreu para seus cerca de 40 colegas de 12 diferentes países sobre a situação do jornalismo na América Latina -um dos temas centrais desta conferência da ONO.
Alguns participantes do encontro já haviam demonstrado surpresa com os baixos níveis de circulação dos jornais impressos latino-americanos se comparados aos de países mais avançados.
Rey afirmou que os 213 milhões de pobres na América Latina e um PIB per capita médio quase 10 vezes inferior na comparação com os EUA explicam esse quadro, assim como a predominância da TV e do rádio como meios de comunicação de massa na região.


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