São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abuso do "off the records" é criticado

DA REPORTAGEM LOCAL

O apelo a informantes que não deixam ou não podem deixar seus nomes serem publicados pelos jornalistas afeta a credibilidade do jornalismo. O "off the records", expressão em inglês e jargão jornalístico para as informações fornecidas por fontes não reveladas para o leitor, deve sofrer alguma forma de restrição por parte das empresas de mídia.
Foi basicamente essa a conclusão da palestra de Manning Pynn, ombudsman do jornal "The Orlando Sentinel", da cidade norte-americana de Orlando, Flórida, e do debate que ele suscitou, em São Paulo, durante a 26ª Conferência Anual da ONO.
A questão é tão problemática nos Estados Unidos, disse Pynn, que ainda há duas semanas ela foi objeto de relatório de 97 páginas na reunião anual da Anse (sigla em inglês para a Associação Americana de Editores de Jornais).
Pynn citou pesquisa feita com pouco mais de 400 jornais americanos, na qual um quarto deles afirmou que em nenhuma circunstância publicava informações sem identificar a respectiva fonte. Outra pesquisa demonstrou que reportagens atribuídas genericamente a um informante não identificado era considerada "muito arriscada" por 68% dos leitores americanos mais jovens.
Jornais como o "New York Times", o "Washington Post" e o "Los Angeles Times", disse ainda Pynn, regulamentam o uso do "off the records". Jornais menores, como o "The Orlando Sentinel", tendem a aceitá-lo em despachos das agências -sobretudo quando tratam de política interna americana e são provenientes da capital, Washington.
Jeffrey Dvorkin, ombudsman da NPR (Rádio Pública Nacional americana), mediador do debate, citou o caso ocorrido nos anos 90, em que, com base numa denúncia anônima, a rede pública de televisão canadense, a CBS, noticiou que tropas canadenses haviam maltratado adolescentes na Somália. Foi, no entanto, uma iniciativa arriscada, disse ele.
"O uso do "off" é excessivo no Brasil", disse o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba. O excesso é constatado sobretudo em Brasília, nas reportagens políticas e econômicas. "Isso corrói a credibilidade dos jornais", afirmou.

Fórum Folha
Ao fim da conferência dos ombudsmans, amanhã, a Folha realizará o Fórum Folha de Jornalismo, aberto ao público que se inscreveu para assistir às mesas-redondas. As inscrições eram gratuitas, mas já estão esgotadas.
O fórum, a ser aberto por Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, terá quatro debates com a participação de especialistas estrangeiros da mídia dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Argentina e da Venezuela, entre outros. O primeiro painel, na quarta à tarde, será sobre "Transparência e Qualidade Jornalística". O segundo, em seguida, abordará "Poder e Jornalismo na América Latina".
A terceira mesa-redonda, na quinta, discutirá "Jornalismo e Democracia". A última, também na quinta-feira, terá como tema "Os Limites da Reportagem".


Texto Anterior: Mídia: Ombudsmans discutem como jornais devem usar a internet
Próximo Texto: Santo André: Dirceu é intimado, mas avisa que não irá depor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.