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Absolvição no Pará prejudica imagem do país, avalia Lula
Presidente diz estar indignado com decisão que inocentou fazendeiro do crime de homicídio da freira Dorothy Stang
Ministro da Defesa acredita que julgamento não vai interferir na imagem do país no exterior; vice-presidente afirma que ficou surpreso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ter ficado "indignado" com a absolvição do fazendeiro Vitalmiro
Bastos de Moura, o Bida, da
acusação de ser o mandante do
assassinato, em fevereiro de
2005, da freira norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang. Para ele, a decisão
da Justiça paraense prejudica a
imagem do Brasil no exterior.
"Como brasileiro, como cidadão comum, eu obviamente
que estou indignado com o resultado", disse em entrevista
no Planalto, dois dias após o
Tribunal do Júri de Belém ter
considerado que Bida não é culpado do crime de homicídio.
Ontem, Lula falou sobre o tema após evento no qual sancionou a lei que altera o Código de
Processo Civil e, como conseqüência, diminuirá a quantidade de ações que chegam ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
contestando decisões de tribunais de segunda instância.
O presidente primeiro se disse "indignado", mas depois
ponderou. "Como presidente
da República, eu não dou palpite na decisão de uma instância
do Judiciário. Obviamente vão
ter os recursos e nós vamos ver
o que vai acontecer. Eu acho
que depõe um pouco contra a
imagem do Brasil no exterior.
Faz com que parte da sociedade
comece a ter dúvida sobre o julgamento", disse.
"De qualquer forma, é o foro
legitimamente reconhecido, e
eu acho que nós temos que esperar que os advogados façam
recursos para que a gente possa
saber então se o mandante vai
ser punido ou não."
Antes da entrevista, em discurso durante a solenidade, Lula disse que, muitas vezes,
quando um Poder tentava fazer
sugestões ao Judiciário, "havia
a compreensão, e eu diria de
forma incompreensiva, de que
pessoas de fora estavam querendo meter o dedo nas coisas
do poder Judiciário". Lula já
criou polêmica ao citar a "caixa-preta" do Judiciário.
"Toda a vez que uma conversa meio extraviada passa a impressão de que alguém quer se
intrometer na seara de outro
alguém, você não consegue dar
um passo e passa séculos sem
mudar uma única vírgula nas
coisas que precisam ser mudadas", declarou o presidente.
Contraponto
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, por sua vez, disse que a
absolvição de Bida não deve ser
questionada. Para ele, é um
problema "desqualificar as
nossas instituições".
Jobim não emitiu opinião sobre o caso concreto, por não conhecer o processo. Ele afirmou
que a decisão do júri "faz parte
das instituições democráticas".
Para o ministro, o tribunal não
deve alterar o veredicto preocupado com a imagem do país.
"O Brasil não toma decisões
por imagem. Toma decisões
que devem ser tomadas pelas
nossas instituições, que tem de
ser respeitadas. Se nós começarmos a desqualificar as nossas instituições porque os outros pensam mal delas, teremos
grandes problemas", declarou.
"Eu, como advogado e juiz que
fui, sei que as decisões tomadas
pelos tribunais são em cima do
processo", completou.
O vice-presidente José de
Alencar afirmou que o "Brasil
ficou de certa forma preocupado". "É uma decisão do Judiciário que nós respeitamos, porém
isso surpreendeu o país."
(EDUARDO SCOLESE E ITALO NOGUEIRA)
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