São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Ministro se opõe a Palocci e diz que Brasil tem crises demais

Dirceu aponta esquizofrenia no país e cobra crescimento

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse ontem que o Brasil tem crises e problemas demais e vive uma situação um "pouco esquizofrênica". Segundo ele, o país "tem condições para se desenvolver, mas não consegue romper o círculo vicioso de estagnação".
O discurso contrariou o diagnóstico feito pelo colega Antonio Palocci (Fazenda) na reunião ministerial da sexta-feira. Na ocasião, Palocci disse que a situação do país era de "céu de brigadeiro".
Dirceu, que trava desde o começo do governo uma disputa nos bastidores com Palocci, fez elogios ao ministro, afirmando que está conduzindo a economia brasileira a um porto seguro (a estabilidade), mas cobrou crescimento. "O Brasil precisa crescer, se desenvolver, porque senão a estabilidade não se mantém, porque precisa resolver seus problemas sociais, os seus problemas de pobreza e miséria", disse.
As declarações de Dirceu foram dadas num hotel de Brasília, em seminário dirigido a empresários sobre infra-estrutura, no mesmo dia em que o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), discursou em desagravo a Dirceu.
"Acredito que os resultados [do encontro sobre desenvolvimento da infra-estrutura] serão determinantes para o futuro do país e, particularmente, para aproveitarmos esse momento que nós estamos vivendo para resolver essa situação que é um pouco esquizofrênica, inclusive, de um país com tanta demanda social de infra-estrutura, com tanta pobreza e com tantas possibilidades e condições para se desenvolver e que não consegue romper o círculo vicioso de estagnação", disse Dirceu.

Juros mais baixos
Aos empresários, Dirceu afirmou que "o Brasil tem problemas demais". "Nós temos de definir quais são as prioridades e enfrentá-las. Crises, o Brasil também tem demais. O que nós não podemos é transformá-las em crises político-institucionais, transformar casos policiais em casos políticos", disse o ministro, sem revelar de que crises estava falando.
O ministro repetiu que metade dos problemas do país desaparecerão quando a economia voltar a crescer, ignorando o discurso da Fazenda de que a economia já voltou a crescer.
"O país está preparado para isso [o crescimento]. Podem contar conosco, nós não vamos decepcionar o empresariado. O governo será o parceiro seguro e confiável. Podem investir, podem confiar no Brasil, porque o Brasil vai crescer e, juntos, nós vamos viver num país melhor", disse ele.
Ao lembrar que o atual governo baixou os juros básicos da economia de 26% ao ano para 16%, o ministro afirmou que o país precisa de juros mais baixos. "Mas nós sabemos também que não temos desvios, atalhos nesse caminho, que tem que ser persistente, de reduzir os juros." Segundo ele, a política econômica deu as condições para a retomada do crescimento, mas o país precisa de uma política de desenvolvimento.


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