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GOVERNO EM DISPUTA
Ministro se opõe a Palocci e diz que Brasil tem crises demais
Dirceu aponta esquizofrenia
no país e cobra crescimento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) disse ontem que o Brasil
tem crises e problemas demais e
vive uma situação um "pouco esquizofrênica". Segundo ele, o país
"tem condições para se desenvolver, mas não consegue romper o
círculo vicioso de estagnação".
O discurso contrariou o diagnóstico feito pelo colega Antonio
Palocci (Fazenda) na reunião ministerial da sexta-feira. Na ocasião, Palocci disse que a situação
do país era de "céu de brigadeiro".
Dirceu, que trava desde o começo do governo uma disputa nos
bastidores com Palocci, fez elogios ao ministro, afirmando que
está conduzindo a economia brasileira a um porto seguro (a estabilidade), mas cobrou crescimento. "O Brasil precisa crescer, se desenvolver, porque senão a estabilidade não se mantém, porque
precisa resolver seus problemas
sociais, os seus problemas de pobreza e miséria", disse.
As declarações de Dirceu foram
dadas num hotel de Brasília, em
seminário dirigido a empresários
sobre infra-estrutura, no mesmo
dia em que o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), discursou em desagravo a Dirceu.
"Acredito que os resultados [do
encontro sobre desenvolvimento
da infra-estrutura] serão determinantes para o futuro do país e,
particularmente, para aproveitarmos esse momento que nós estamos vivendo para resolver essa situação que é um pouco esquizofrênica, inclusive, de um país com
tanta demanda social de infra-estrutura, com tanta pobreza e com
tantas possibilidades e condições
para se desenvolver e que não
consegue romper o círculo vicioso de estagnação", disse Dirceu.
Juros mais baixos
Aos empresários, Dirceu afirmou que "o Brasil tem problemas
demais". "Nós temos de definir
quais são as prioridades e enfrentá-las. Crises, o Brasil também
tem demais. O que nós não podemos é transformá-las em crises
político-institucionais, transformar casos policiais em casos políticos", disse o ministro, sem revelar de que crises estava falando.
O ministro repetiu que metade
dos problemas do país desaparecerão quando a economia voltar a
crescer, ignorando o discurso da
Fazenda de que a economia já voltou a crescer.
"O país está preparado para isso
[o crescimento]. Podem contar
conosco, nós não vamos decepcionar o empresariado. O governo será o parceiro seguro e confiável. Podem investir, podem confiar no Brasil, porque o Brasil vai
crescer e, juntos, nós vamos viver
num país melhor", disse ele.
Ao lembrar que o atual governo
baixou os juros básicos da economia de 26% ao ano para 16%, o
ministro afirmou que o país precisa de juros mais baixos. "Mas
nós sabemos também que não temos desvios, atalhos nesse caminho, que tem que ser persistente,
de reduzir os juros." Segundo ele,
a política econômica deu as condições para a retomada do crescimento, mas o país precisa de uma
política de desenvolvimento.
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