São Paulo, terça, 9 de junho de 1998

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EM CAMPANHA
"Não sou santo', afirma ex-presidente na TV
Collor diz que vota em Lula no 2º turno

Paulo Giandália/Folha Imagem
O ex-presidente Fernando Collor, em entrevista ao "Programa Livre"


da Reportagem Local

O ex-presidente Fernando Collor (90-92) disse ontem à tarde, em entrevista ao "Programa Livre", do SBT, que votaria em Luiz Inácio Lula da Silva em uma hipótese de segundo turno entre o candidato petista e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Eu acho que estaremos juntos novamente no segundo turno, eu e Lula, mas, se eu não estiver, votarei em Lula", disse Collor, que tenta na Justiça se candidatar às eleições deste ano. Ele respondia a pergunta feita pelo apresentador do programa, Serginho Groisman.
Collor disse se considerar "companheiro" de Lula. "Acho que tenho esse direito. Fomos companheiros na campanha pelas diretas, na disputa pela Presidência em 89 e, agora, nas críticas a FHC."
Depois, nos bastidores, explicou aos jornalistas o porquê da preferência por Lula. "Ele, pelo menos, é uma expectativa de mudança. Ambos somos oposição a Fernando Henrique, que está no pau-de-sebo, caindo nas pesquisas, porque não tem compromisso com o social."
Com uma platéia composta de alunos de escolas privadas com idade variando entre 15 e 18 anos Ätinham entre 9 e 12 anos na época do impeachment, em 92Ä, Collor acabou por sair-se bem do programa. Foi vaiado, mas também foi aplaudido.
Poucos sabiam exatamente de quem se tratava. "Só sei que ele roubou", disse Maria Fernanda Zarzuela, 16. Os adolescentes ao redor dela diziam "nada" saber sobre o ex-presidente. Muitos consultavam livros de história.
Collor foi aplaudido quando reconheceu ter errado Ä"Eu não sou santo. Ninguém é. Cometi meus erros" Ä, quando falou contra o uso de drogas e quando agradeceu pelo "poder de persuasão" que lhe atribuíram os estudantes.
Foi vaiado quando se disse inocentado pelo Supremo Tribunal Federal, quando falou que sua família não era oligárquica e quando afirmou ter largado o jet ski por sugestão do oceanógrafo Jacques Cousteau, "para não prejudicar os alevinos (embrião de peixes)".
Também provocou reação de descrédito ("ah!") com algumas afirmações. "Levei pancada no golpe militar, fui preso duas vezes." Ou: "Meu governo salvou os ianomâmis".
Algumas perguntas foram bem mais aplaudidas que as respostas do ex-presidente, que manteve a calma. "Como o sr. se sente sabendo que é considerado legalmente inocente, mas moralmente não é por aí?", perguntou um estudante. Outro: "O sr. dorme tranquilo sabendo que 150 milhões de brasileiros te odeiam?" "Não exagera", respondeu Collor.



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