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CASO PC
Investigações sobre ligações do ex-tesoureiro de Collor com a máfia mostram vinda de criminosos para o país
Brasil combate "migração' de mafiosos
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
As investigações feitas em conjunto pelo Brasil e pela Itália que
procuram esclarecer ligações do
empresário alagoano Paulo César
Farias com a máfia têm endereço
certo: combater o recente fenômeno da transferência de mafiosos
para o Brasil.
A Interpol (polícia internacional) e as polícias dos dois países
descobriram que, em razão do aumento da repressão à máfia nas últimas duas décadas, criminosos
estão fugindo da Itália e se instalando no Brasil, onde encontram
refúgio para continuar atuando no
globalizado mundo do crime.
O trabalho conjunto já começa a
dar resultados. No ano passado, a
pedido da Justiça da Itália, 13 italianos foram presos no Brasil, sendo que 2 foram soltos depois (veja
quadro). Entre 94 e 96, o número
de prisões não passou de 9.
O resultado, que significa um
aumento de 333% no número de
prisões, não foi obtido por sorte,
mas por ações cuidadosamente
calculadas a partir da Itália.
Na maioria dos casos, quando os
pedidos de prisão chegavam ao
Brasil, os criminosos já estavam
sendo seguidos pela Interpol e pela Polícia Federal brasileira.
Foi o caso da prisão, em maio de
97, no Rio, de Mario Baratta, um
dos chefes da Cosenza, família
mafiosa da "Ndrangheta (máfia
da Calábria, sul da Itália).
Considerado um dos 500 mafiosos mais perigosos e procurados
pela Itália, de acordo com lista elaborada pelo Ministério do Interior
italiano, Baratta era procurado no
mundo inteiro desde 94.
Condenado à prisão perpétua na
Itália por homicídio, agiotagem e
tráfico de drogas, Baratta viveu
três anos no Brasil com visto de
permanência falso e apartamento
próprio em Copacabana, até ser
descoberto pela Interpol e pela PF.
De acordo com o IBGF (Instituto
Brasileiro Giovanni Falcone), que
estuda o assunto e estimula o
combate à máfia no Brasil, outros
50 mafiosos vivem no país.
O IBGF, que mantém estreitos
laços com órgãos antimáfia da Itália, afirma que esses mafiosos vivem em apartamentos de luxo e
casas de campo, e trabalham na
montagem do tráfico de cocaína e
heroína e lavagem de dinheiro.
A maioria pertenceria a famílias
mafiosas da Cosa Nostra, da Sicília, e da Camorra, de Nápoles. No
Brasil, o Nordeste (Ceará, Bahia e
Pernambuco) e o Estado de São
Paulo são os locais mais visados.
Doce exílio
Mas por que fugir para o Brasil?
Os motivos são vários, segundo
investigadores brasileiros e italianos ouvidos pela Folha.
Desde a década de 80, a máfia
vem se associando aos cartéis de
droga da Colômbia para levar cocaína para a Europa. O Brasil é um
excelente ponto para articular esse
tipo de negócio.
A Justiça e a polícia do Brasil não
estão preparadas para combater o
crime organizado. Além disso, no
Brasil, um bom advogado pode
solucionar grande parte dos problemas com a Justiça.
A legislação antidroga e o combate à lavagem de dinheiro no Brasil estão atrasados em comparação
com Europa e Estados Unidos.
Em 95, o Ministério da Justiça
começou a ter os primeiros sinais
de que a máfia estava entrando no
Brasil pelo aumento de pedidos de
cidadania de italianos com base
em casamentos. Os processos foram "congelados" e passaram a
receber uma análise especial.
Grande parte dos pedidos tinha
as mesmas características: separação de bens, diferença de idade
acentuada, ausência de cerimônia
religiosa e matrimônio próximo à
data de desembarque do noivo no
Brasil, em alguns casos com diferença de somente um dia.
A PF foi acionada e descobriu
que muitas das noivas eram dançarinas de boates. Resultado: pedidos de cidadania de italianos passaram a sofrer triagem rigorosa.
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