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ELIO GASPARI
Eu me elejo, nós tungamos, eles pagam
O governo insiste em dizer
que o seu projeto de reforma da Previdência não mexe
com o bolso do trabalhador da
iniciativa privada. O último
cambondo dessa lorota foi o
presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha. Ele diz
que "nenhum, nenhum, nenhum trabalhador da iniciativa
privada será afetado".
Empulhação. A reforma do
governo embute uma tunga que
lhe permitirá tirar cerca de R$
1,5 bilhão anuais do bolso dos
trabalhadores da iniciativa privada. Logo eles, que nada têm a
ver com o sistema de previdência dos servidores públicos.
Aos fatos:
Hoje o trabalhador desconta
11% de seu salário até R$ 1.869 e
se aposenta recebendo, no máximo, esse teto. Quem ganha
acima de R$ 1.869 paga R$ 205
por mês ao INSS.
A reforma de Lula eleva o teto
da aposentadoria (e da contribuição) para R$ 2.400. Isso significa que cerca de 1.2 milhão de
pessoas que ganham acima de
R$ 2.399 pagarão R$ 264 mensais. Uma diferença de R$ 59
por mês.
A charanga governista às vezes argumenta que o aumento
do teto (e da contribuição) só
afeta os trabalhadores para melhor. Tome-se o exemplo de alguém que ganha R$ 1.869 e vai
se aposentar em dezembro do
ano que vem. Receberá R$ 2.107,
um ganho de R$ 237, ou 13%. O
primeiro cheque de R$ 2.400,
porém, só sairá do INSS daqui a
24 anos.
O aumento do teto dos trabalhadores da iniciativa privada é
uma mistificação hipócrita colocada a serviço do autoritarismo presunçoso do governo de
Lula. É mistificação porque diz
que os trabalhadores não serão
afetados. É hipócrita porque
tunga a patuléia dizendo que
faz isso em seu benefício, quando, na realidade, quer apenas
fazer caixa. O truque permitirá
uma arrecadação imediata três
vezes superior ao que se espera
juntar com a contribuição dos
inativos do serviço público.
A tunga é autoritária porque é
mandatória. Se houvesse tolerância e respeito pelo bolso dos
trabalhadores, o governo poderia pulverizar todas as argumentações contrárias (inclusive
esta) informando que a mudança de teto seria voluntária.
Quem quiser ficar com o teto de
R$ 1.869, fica. Quem não quiser,
passa para o regime de R$ 2.400.
Imagine-se um trabalhador
(Ricardo Gushiken) de 25 anos.
Pela reforma do Planalto, ele
poderá se aposentar aos 60, com
R$ 2.400 depois de 35 anos de
contribuição. Suponha-se que
ele tem um irmão, Luís Berzoini, que preferiu ficar como está e
decidiu botar os R$ 59 mensais
da tunga num plano privado (o
PGBL do Banco do Brasil). Ele
pode escolher três caminhos. No
mais conservador (6% ao ano)
depois de 35 anos, receberá R$
515 mensais. Somando o cheque
do INSS ao do BB. receberá R$
2.384. Perderá R$ 16 por mês. No
intermediário (9%), receberá
R$ 1.012, embolsando um total
de R$ 2881. No mais agressivo
(12%), serão R$ 2.056. Nesse caso, somará R$ 3.925. Em todos
os casos, depois de 35 anos poderá sacar seu dinheiro, coisa que
no INSS não acontece. Dependendo da agressividade escolhida, o BB calcula um mínimo de
R$ 79 mil e um máximo de R$
316 mil. Nada mal.
O autoritarismo é presunçoso
porque os doutores de Brasília
acham que devem ensinar à patuléia o que ela deve fazer com
seu dinheiro. Gente esquisita essa: quer jogar os servidores numa modalidade de previdência
privada e quer obrigar os trabalhadores a enfiar mais um pé na
Previdência pública.
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