|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Produção do Congresso no 1º semestre frustra o Planalto
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Congresso correu nos últimos
dias para aprovar vários projetos,
o governo despejou dinheiro para
os congressistas ao liberar emendas, mas a produção final do primeiro semestre ficou longe do
que esperava o Planalto.
Ficaram para trás e sem perspectiva real de votação as reformas trabalhista, sindical e fiscal.
Também continuam empacadas
as leis que tratam de biossegurança e das PPPs (Parcerias Público-Privadas). Mesmo a reforma
constitucional do Poder Judiciário ainda depende da aprovação
-ou rejeição- de mais de uma
centena de itens para que possa
ser promulgada e entrar em vigor.
A conseqüência da não-aprovação de determinados projetos é
quase imediata: obriga o Planalto
a seguir governando por meio de
medidas provisórias. A Folha
apurou que já está quase finalizado no Ministério da Agricultura o
texto de uma MP autorizando,
mais uma vez, o plantio e a comercialização de soja transgênica.
Em 2003, a safra de soja transgênica foi legalizada com uma MP.
Safras seguintes seriam abrangidas, dizia o governo, por legislação perene. Não houve consenso
entre os ministros da Agricultura
(Roberto Rodrigues, pró-transgênicos) e do Meio Ambiente (Marina Silva, refratária a eles). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou enredado pela disputa, não
arbitrou, e o Senado não aprovou
a Lei de Biossegurança.
Esse caso da Biossegurança
exemplifica porque certas leis não
passam no Congresso: o governo
hesita em tomar uma posição firme, os líderes da base aliada não
têm argumentos fortes, e os congressistas empurram o assunto
com a barriga. Sem lei, edita-se
uma MP para tapar o buraco.
Dinheiro das emendas
Em 2003, o Planalto não operou
com vigor na liberação de emendas na hora de convencer deputados e senadores a votarem a favor
do governo. A administração Lula
ainda tomava pé, e muitas votações foram creditadas à popularidade do presidente.
Desta vez, a história foi diferente. A economia está crescendo,
mas os efeitos ainda não são sentidos pela maioria da população. A
imagem de Lula deteriorou-se de
forma acentuada. Tinha 56,6% de
avaliação positiva em janeiro de
2003 contra só 29,4% no mês passado, segundo o Instituto Sensus.
Foi necessário liberar dinheiro
para projetos incluídos no Orçamento por deputados e senadores
-as emendas parlamentares.
Anteontem, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP),
informou diretamente a líderes de
oposição que o governo liberaria
verbas para congressistas do
PSDB e do PFL em troca de um
ritmo acelerado de votação.
A distribuição de dinheiro deu
velocidade aos deputados. Dos 17
projetos de lei aprovados pela Câmara neste ano, nove foram votados anteontem. Os deputados
aprovaram, de fevereiro até ontem, 48 medidas provisórias e
quatro emendas constitucionais.
Apesar da correria, a Câmara
não votou um projeto considerado vital pela equipe econômica: o
que trata da nova formatação das
agências reguladoras. O ministro
Antonio Palocci (Fazenda) recebe
com freqüência queixas de investidores a respeito do tema. Uma
lei clara sobre o poder das agências daria mais tranqüilidade para
o capital externo que desejasse
aportar no Brasil. A LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias) ficou
para ser votada na próxima terça,
encerrando o semestre legislativo.
Futuro legislativo
Há um consenso entre governistas e oposição sobre o que será
feito até o final deste ano: quase
nada. "Praticamente nada será
votado daqui para a frente", diz
Agripino Lima (RN), líder do PFL
no Senado. "Este segundo semestre é atípico por causa das eleições
municipais", afirma João Paulo.
No primeiro semestre, o ritmo
de votações no Congresso foi afetado por quatro fatores: 1) incerteza sobre o crescimento da economia; 2) queda de popularidade
de Lula; 3) caso Waldomiro Diniz,
assessor de José Dirceu demitido
por ter relações ainda não explicadas com um empresário de jogos;
4) desavenças dentro da equipe de
articulação política governista.
Agora, algumas dessas questões
começam a ser superadas. O problema é que faltarão congressistas
para votar. A grande maioria só
retornará ao ritmo normal em
novembro, quando terminar o
processo eleitoral nas cidades.
Texto Anterior: Previdência: Câmara acaba com brechas no teto salarial do setor público Próximo Texto: Sarney vê bom desempenho de senadores Índice
|