São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PROCURADOR

Advogado afirma que remessa de dinheiro resulta de serviços prestados pelo pai do procurador Glênio Guedes, titular da conta

Sócio de Valério deu R$ 500 mil a procurador

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GILMAR PENTEADO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A empresa Tolentino & Melo Assessoria Empresarial, da qual o empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza é sócio, fez no último mês de maio uma transferência eletrônica de R$ 500 mil para uma conta bancária no BankBoston da qual o procurador da Fazenda Nacional Glênio Sabbad Guedes é co-titular, juntamente com a mãe, Sami, e o pai, Ramon (este é o titular da conta).
A operação integra um conjunto de dados enviados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) à Procuradoria Geral da República e à CPI dos Correios nesta semana.
É também a Tolentino & Melo a fonte de uma outra transferência eletrônica, de R$ 782 mil, destinada à mesma conta no BankBoston no final de 2003. A conta, que segundo Guedes é utilizada pela sua família conforme declarou ao jornal "O Globo", recebeu no final daquele ano um crédito em espécie de R$ 120 mil. Essas duas remessas foram reveladas pela Folha na edição de anteontem.
Seguindo o que determina a lei, o BankBoston informou ao Coaf a operação. A Folha apurou que o perfil da transação contém fortes indícios de que a origem do dinheiro está em contas bancárias de empresas do empresário.
Relatório do Coaf em junho revelou que os saques em espécie são um procedimento comum nas contas de empresas de Marcos Valério, apontado como um dos operadores do suposto pagamento de mesada a deputados.
Segundo os depoimentos do empresário à Polícia Federal e à CPI dos Correios, o dinheiro era retirado no caixa do banco para pagamento de fornecedores de suas empresas. Sócio do publicitário na Tolentino & Melo, o advogado Rogério Tolentino disse que as remessas eletrônicas, "se estão lá [no relatório do Coaf], é por conta" de serviços de assessoria prestados por Ramon Guedes à empresa. Para Tolentino, os créditos não têm relação com o procurador da Fazenda Nacional.
Quando se tornaram públicas suas relações com Marcos Valério, o procurador Guedes foi afastado do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, o Conselhinho. Nesse foro, ele havia dado parecer pelo arquivamento de um processo aberto pelo Banco Central contra o Banco Rural e dois de seus dirigentes.
Na semana passada, ao julgar o processo, o Conselhinho seguiu por unanimidade o parecer. Marcos Valério era amigo do ex-vice-presidente do Rural, José Augusto Dumont, morto no ano passado.
A ex-secretária de Marcos Valério Fernanda Karina Somaggio também afirmou que a conta do celular do procurador é paga pelo empresário, além de outros gastos, como passagens aéreas e custos de hotéis em Brasília. Marcos Valério disse que o procurador só usava os serviços de sua secretária e reembolsava os gastos.


Texto Anterior: CPI convoca Delúbio e Silvio para depor
Próximo Texto: Outro lado: Pai de procurador redigiu pareceres, afirma Tolentino
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.