São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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O ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI

Dos 32 parlamentares que integram a CPI dos Correios, 29 dizem que dados bancários, fiscais e telefônicos estão à disposição

Maioria da comissão quebraria próprio sigilo

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Vinte e nove dos 32 parlamentares integrantes da CPI dos Correios afirmaram à Folha que aceitam abrir seus sigilos bancário, fiscal e telefônico durante a investigação. A proposta havia sido feita, em tom de provocação, pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O deputado Nelson Meurer (PP-PR) foi o único dos ouvidos que disse discordar.
A Folha ouviu ontem 30 dos 32 integrantes que compõem a CPI. A comissão é formada por 16 deputados e 16 senadores. Os deputados Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) e Nélio Dias (PP-RN), em viagem pelo interior dos seus Estados, não foram localizados.
Outros dois senadores e um deputado concordam com a quebra dos sigilos, mas fizeram ressalvas.
A polêmica sobre a abertura dos sigilos teve início após Jefferson relacionar os membros da CPI com o chamado escândalo do "mensalão", denunciado por ele, durante entrevista ao "Programa do Jô", da Rede Globo.
A declaração gerou tensão durante a sessão de anteontem da CPI e, logo após comissão aprovar a quebra dos sigilos de Jefferson, ele divulgou nota na qual disse ter confundido os integrantes da CPI com os do Conselho de Ética da Câmara.
Nelson Meurer, do PP, contestou a hipótese sob o argumento de que não é suspeito de irregularidade. "Não concordo, não devo nada, mas sou contra. Tem de se quebrar os sigilos de quem deve, e eu não devo", afirmou Meurer.
Segundo as denúncias de Jefferson, o PT pagava mesadas a deputados do PP e do PL em troca de apoio político no Congresso. Os deputados negam.
Um dos principais defensores da proposta de abertura dos sigilos voluntariamente, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) disse que a iniciativa respaldaria a comissão a pedir quebra de sigilos futuramente.
"Para poder quebrar o sigilo do Roberto Jefferson temos de fazer o mesmo. Isso nos dá força para quebrar o do José Dirceu [PT-SP], do Delúbio Soares [tesoureiro afastado do PT], do Silvio Pereira [secretário-geral afastado do PT] e do Genoino [José, presidente do PT]", disse ACM Neto.
O senadores César Borges (PFL-BA) e Heráclito Fortes (PFL-PI) disseram aceitar a hipótese, mas com ressalvas. "Podemos abrir, mas não na condição de investigados", disse Borges. "Não acredito em sigilo, o PT sempre teve acesso ao meu sigilo quando eu era governo", afirmou Fortes.
O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) disse não ver problemas "do ponto de vista pessoal", mas afirmou considerar inviável do ponto de vista institucional.
O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), e o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) usaram argumento semelhante para defender a abertura do sigilo: "O Congresso está sob suspeita".
Para o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), "o único problema é que criou-se um ambiente de constrangimento" após as declarações de Jefferson. "Não é essa figura execrável que deve pautar o que deve ou não ser feito. Mas como o clima está carregado, acho bom [quebrar os sigilos]."
(SILVIO NAVARRO, RANIER BRAGON E FABIO ZANINI)


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