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Montreal prestou serviços sem contrato, diz Antônio Anastasia
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento prestado aos
procuradores Guilherme Schelb e
Luiz Francisco de Souza, o secretário-executivo do Ministério da
Justiça, Antônio Anastasia, disse
ontem que a empresa Montreal
Informática prestou serviços ao
Ministério da Justiça durante dez
meses sem ter sequer contrato.
Desde fevereiro de 1999, quando foi contratada sem licitação, a
Montreal é responsável pelo processamento dos dados dos sistemas Renavam e Renach, os cadastros nacionais de veículos e de
carteiras de habilitação. Nos últimos 18 meses, recebeu R$ 36 milhões pelo trabalho.
Segundo o depoimento de
Anastasia, o contrato emergencial, que deveria valer por seis meses, só foi renovado em maio deste ano, mas ainda assim os pagamentos foram efetuados.
A descrição feita por Anastasia
sobre a contratação da Montreal
pode ser a matéria-prima para a
elaboração de uma ação judicial
contra os administradores públicos e dirigentes da companhia
responsáveis pela operação.
"O ponto central é que há uma
empresa contratada sem licitação
e que durante meses recebeu dinheiro público sem sequer ter
contrato", afirmou o procurador
Luiz Francisco.
"Não existe possibilidade de
ação judicial contra nossa empresa", afirma Angela Alvarenga,
uma das diretoras da Montreal.
Antônio Anastasia disse aos
procuradores que, ao assumir a
Secretaria Executiva do Ministério da Justiça, ao final de julho de
1999, o contrato com a Montreal
já terminara. Sua "primeira idéia"
era devolver o processamento dos
dados referentes aos sistemas Renavam/Renach ao Serpro, estatal
responsável pela função até outubro de 1998. A troca de empresas
aconteceu porque portaria de 13
de outubro de 1998, determinou
que o Serpro prestasse serviços
apenas ao Ministério da Fazenda.
A mesma portaria apresentou
as regras para o PDV (Programa
de Demissão Voluntária) do Serpro. Segundo o depoimento de
Anastasia, os funcionários que fizeram o sistema de processamento de dados do Renavam/Renach
saíram da empresa no PDV e não
deixaram registros do trabalho
realizado, o que inviabilizava o retorno do Serpro à função.
No depoimento, Anastasia também falou do encontro com o ex-secretário geral da Presidência
Eduardo Jorge, no final do mês de
janeiro deste ano. Na visita, segundo Anastasia, EJ perguntou
"sobre o andamento do sistema
Renach/Renavam, mas "em nenhum momento o sr. Eduardo
Jorge fez qualquer pressão ou pedido sobre a necessidade de se
realizar ou não licitação". A afirmativa contradiz em parte a versão apresentada pelo ex-secretário da Presidência Eduardo Jorge,
na semana passada, aos senadores da subcomissão criada para
investigar o desvio de verbas do
Fórum Trabalhista de São Paulo.
Na ocasião, EJ disse aos senadores: "Procurei Anastasia para informá-lo de que o contrato emergencial com a Montreal estava
vencendo, e pedi que fizessem licitação o mais rápido possível para o sistema não entrar em colapso. Não fiz isso como consultor,
não recebi absolutamente nada,
fiz por interesse público".
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