São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2000


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JANIO DE FREITAS
Maus conselhos

O caso criado por Eduardo Jorge Caldas Pereira deu oportunidade ao exame de um assunto que, no entanto, está sufocado pela avalanche de constatações e indícios que chamam mais atenção, nas atividades do ex-secretário-geral da Presidência dentro e fora do governo. É a participação de integrantes do governo, como foi o caso de Eduardo Jorge, e de parlamentares em conselhos de empresas, sejam privadas ou de controle estatal.
Desde o seu tempo na Fazenda, Eduardo Jorge integra, por indicação do então ministro Fernando Henrique Cardoso, o conselho da United American Insurance Co.- UAIC, empresa vinculada ao Instituto de Resseguros do Brasil nos Estados Unidos.
A suspeição levantada contra o relator da subcomissão do Senado que investigará, ou deveria investigar, as atividades de Eduardo Jorge decorre, também, da participação do senador José Jorge no conselho da empresa Delphos, no qual era companheiro do seu investigado ou "investigado".
As participações em conselhos representam mais do que um ganho adicional e, em geral, substancioso. Legítimo no caso dos que não participam de governo e, portanto, de decisões e tarefas que envolvem, direta ou indiretamente, o interesse de empresas, como é próprio dos atos governamentais. O parlamentar, por sua vez, influi, por si e pela participação na bancada, em votações e tomadas de posição nos inúmeros assuntos de interesse empresarial.
A isenção do participante de governo e do parlamentar está comprometida por sua participação em conselho de empresa. Mesmo que estatal, porque os interesses desta se realizam também, no mundo dos negócios privados, com todos os vícios e deformações aí presentes.
As participações de Eduardo Jorge Pereira, José Jorge e vários ministros e assessores planaltinos são ilegítimas e merecem exame.

Concentração
A propósito da nota sobre a veloz aprovação, na Superintendência da Zona Franca de Manaus, de um projeto da empresa de bebidas AmBev, o co-presidente da empresa, Victório De Marchi, escreve para contestar que o OK da Suframa se desse "em dois ou três dias", como aqui foi publicado.
O prazo recordista foi mencionado pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Benjamin Sicsu, diante de várias testemunhas, na quinta-feira, 13 de julho, quando se realizou no gabinete ministerial uma reunião a que deveria comparecer, mas não o fez, um dos presidentes da AmBev.
O projeto da AmBev é de construir uma fábrica de chapinhas própria, em substituição às cinco que hoje são suas fornecedoras. "A decisão da AmBev de construir essa fábrica se deve à falta de qualidade do produto nacional", diz a carta. O curioso é que os cinco fabricantes têm sua qualidade reconhecida pelo ISO-9000.
Está prevista para amanhã outra reunião, à qual está pedida, outra vez, a presença de um alto representante da AmBev. O ministro Alcides Tápias está preocupado com a concentração que o projeto da AmBev pretende e com as consequências disso sobre os cinco fabricantes. E o projeto atinge ainda a remessa de divisas para o exterior e queda na compra de matéria-prima brasileira.



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