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JANIO DE FREITAS
Maus conselhos
O caso criado por Eduardo
Jorge Caldas Pereira deu
oportunidade ao exame de um
assunto que, no entanto, está
sufocado pela avalanche de
constatações e indícios que chamam mais atenção, nas atividades do ex-secretário-geral da
Presidência dentro e fora do governo. É a participação de integrantes do governo, como foi o
caso de Eduardo Jorge, e de parlamentares em conselhos de
empresas, sejam privadas ou de
controle estatal.
Desde o seu tempo na Fazenda, Eduardo Jorge integra, por
indicação do então ministro
Fernando Henrique Cardoso, o
conselho da United American
Insurance Co.- UAIC, empresa
vinculada ao Instituto de Resseguros do Brasil nos Estados
Unidos.
A suspeição levantada contra
o relator da subcomissão do Senado que investigará, ou deveria investigar, as atividades de
Eduardo Jorge decorre, também, da participação do senador José Jorge no conselho da
empresa Delphos, no qual era
companheiro do seu investigado ou "investigado".
As participações em conselhos
representam mais do que um
ganho adicional e, em geral,
substancioso. Legítimo no caso
dos que não participam de governo e, portanto, de decisões e
tarefas que envolvem, direta ou
indiretamente, o interesse de
empresas, como é próprio dos
atos governamentais. O parlamentar, por sua vez, influi, por
si e pela participação na bancada, em votações e tomadas de
posição nos inúmeros assuntos
de interesse empresarial.
A isenção do participante de
governo e do parlamentar está
comprometida por sua participação em conselho de empresa.
Mesmo que estatal, porque os
interesses desta se realizam
também, no mundo dos negócios privados, com todos os vícios e deformações aí presentes.
As participações de Eduardo
Jorge Pereira, José Jorge e vários
ministros e assessores planaltinos são ilegítimas e merecem
exame.
Concentração
A propósito da nota sobre a
veloz aprovação, na Superintendência da Zona Franca de
Manaus, de um projeto da empresa de bebidas AmBev, o co-presidente da empresa, Victório
De Marchi, escreve para contestar que o OK da Suframa se desse "em dois ou três dias", como
aqui foi publicado.
O prazo recordista foi mencionado pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Benjamin Sicsu, diante
de várias testemunhas, na
quinta-feira, 13 de julho, quando se realizou no gabinete ministerial uma reunião a que deveria comparecer, mas não o
fez, um dos presidentes da AmBev.
O projeto da AmBev é de
construir uma fábrica de chapinhas própria, em substituição
às cinco que hoje são suas fornecedoras. "A decisão da AmBev
de construir essa fábrica se deve
à falta de qualidade do produto
nacional", diz a carta. O curioso
é que os cinco fabricantes têm
sua qualidade reconhecida pelo
ISO-9000.
Está prevista para amanhã
outra reunião, à qual está pedida, outra vez, a presença de um
alto representante da AmBev. O
ministro Alcides Tápias está
preocupado com a concentração que o projeto da AmBev
pretende e com as consequências disso sobre os cinco fabricantes. E o projeto atinge ainda
a remessa de divisas para o exterior e queda na compra de
matéria-prima brasileira.
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