São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2000


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MEMÓRIA
Jânio Quadros e Adhemar de Barros concentraram o poder político em SP nos anos 50 e 60, fazendo sucessores
Direita dominou as eleições no passado

DA REDAÇÃO

A capital paulista nunca foi um reduto eleitoral da esquerda. Embora São Paulo ainda seja um núcleo industrial importante, boa parte do operariado que trabalha na cidade reside em municípios próximos e não vota na capital.
Uma evidência disso é o fato de que, historicamente, a esquerda obtém suas melhores votações nas áreas distantes do centro, nas periferias leste e sul. O eleitorado de esquerda "paulistano" na realidade vota nas cidades da Grande São Paulo (ABCD, por exemplo).
Em contrapartida, o fato de São Paulo ser o maior centro comercial e financeiro do país, sede de numerosas empresas, os partidos conservadores encontram aí mais respaldo para suas campanhas.
Por essa razão São Paulo possui uma direita forte e bem organizada. Essa direita controla a administração da cidade por meio de lideranças populistas.

Polarização
Desde que a cidade de São Paulo voltou a eleger diretamente seus prefeitos, em 1953, a política na capital paulista (e no Estado) ficou polarizada entre Adhemar de Barros e Jânio Quadros.
Adhemar foi interventor no Estado de 1938 e 1941. Com a redemocratização do país em 1945, organizou seu partido, o PSP (Partido Social Progressista), pelo qual foi eleito governador em 1947 e elegeu Lucas Nogueira Garcez como seu sucessor em 1950.
Garcez rompeu com Adhemar em 1953 e, nas eleições para a capital paulista daquele ano, articulou uma grande aliança em torno de seu secretário da Saúde, Francisco Antônio Cardoso. Adhemar apoiou, inclusive financeiramente, a candidatura de Jânio Quadros, na época um deputado estadual de oposição a Garcez.
Apesar de contar com o apoio do PSB (Partido Socialista Brasileiro), Jânio não podia ser considerado um político de esquerda. Venceu com 67,7% dos votos válidos -um recorde.
No ano seguinte, tanto Jânio como Adhemar disputaram a eleição para governador. Jânio venceu Adhemar por apenas 18.304 votos de vantagem.

Prestígio
Apesar da derrota, Adhemar manteve seu prestígio na capital paulista, e conseguiu eleger Lino de Matos prefeito de São Paulo em 1955 e, dois anos depois, foi ele próprio eleito prefeito, derrotando os candidatos janistas.
Sem deixar a prefeitura, Adhemar disputou o governo do Estado em 1958 (perdeu para Carvalho Pinto, candidato de Jânio) e a Presidência da República em 1960, perdendo para o próprio Jânio. Em 1961, o udenista Prestes Maia interrompeu o domínio adhemarista na capital.
Após o movimento militar de 1964, houve ainda uma eleição para prefeito da capital paulista, em 1965. O vencedor foi José Vicente de Faria Lima, do MTR, político ligado a Jânio Quadros.
Após a derrota dos candidatos do regime militar nessa eleição e, principalmente, na disputa pelos governos estaduais do Rio e de Minas, o general Castello Branco suprimiu a eleição direta para prefeitos de capitais, que passaram a ser nomeados pelos governadores (eleitos indiretamente).
O fim do regime militar, em março de 1985, permitiu o restabelecimento de eleições diretas para prefeitos das capitais. A vitória em São Paulo coube a Jânio Quadros, então no PTB, que derrotou Fernando Henrique Cardoso (PMDB) por pequena margem.
Na eleição seguinte, em 1988, o candidato do PDS, Paulo Maluf, liderou as pesquisas até a última semana, quando foi ultrapassado pela então candidata do PT, Luiza Erundina. Essa foi, de fato, a primeira vez que a esquerda venceu uma eleição na capital paulista.
Quatro anos depois, Paulo Maluf, cujo eleitorado guarda semelhanças com o de Adhemar de Barros, assumiu a prefeitura, derrotando Eduardo Suplicy (PT) no segundo turno.



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