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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Em reunião tensa, Lula criticou o lobby dos Estados, e Palocci ameaçou vetar partilha da Cide

Planalto reclama, mas cede a governadores

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reunião dos cinco governadores com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil) foi tensa, mas as duas partes demonstraram não ter disposição real para um confronto agora.
Assim como o governo abrandou a resistência em relação a novas concessões na reforma tributária, os governadores se deram por satisfeitos, ao menos temporariamente, com o atendimento parcial de seus pleitos.
Lula reclamou das recentes declarações dos governadores, que ameaçavam negociar diretamente no Congresso as reivindicações negadas pelo governo.
Palocci azedou o início da conversa ao ameaçar com recuos até nos pontos em que já havia sinalizado com concessões: o repasse de 25% da Cide e o fundo destinado a compensar os Estados pelo fim do ICMS sobre exportações.
O governador gaúcho Germano Rigotto, que presidiu a comissão da reforma tributária da Câmara tendo Palocci como vice, não se conteve. Disse que, em 1999, o ministro defendia o que os governadores hoje propõem, mas esbarrava na oposição do então secretário da Receita, Everardo Maciel:
"Só falta enxergar a cara do Everardo, porque o resto, está tudo aí. Falta só a barba branca."
Palocci se manteve impassível. Reafirmou não ver "viabilidade técnica" nos pleitos dos governadores, uma vez que o governo está no meio de um ajuste fiscal rigoroso acertado com o FMI.
A certa altura, o mineiro Aécio Neves pediu uma cigarrilha ao presidente. Palocci imediatamente passou um isqueiro ao governador, que, após pensar, o devolveu: "Pega seu isqueiro. Vou gastar o fluido do presidente para economizar o seu".
Diante do impasse, Rigotto se impacientou: "É bom a gente ir embora, porque, daqui a pouco, a gente é que vai dar um dinheirinho para o governo federal".
O grupo lembrou a atuação decisiva dos Estados na aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara, falou em chamar novamente os 27 governadores para conversar e ameaçou abandonar o apoio à reforma tributária.

Lula intervém
Foi Lula quem desanuviou o clima de tensão, numa intervenção política -considerada, por dois participantes, previsível: "Essa aliança é fundamental. Não nos interessa o confronto com os governadores".
"A nós também não", respondeu Aécio. "Pode-se pedir tudo a um homem público, menos seu suicídio político. E a situação dos Estados é grave. Eu torço para o governo dar certo", disse.
"Eu também", emendou Lula.
Foi a senha para que se desenhasse uma saída honrosa para todos. A partir de então, avançaram mais amigavelmente as discussões técnicas sobre a Cide e o fundo de compensação.
José Dirceu voltou a adotar uma atitude mais flexível que a de Palocci em relação aos pedidos dos Estados. Mas, ao contrário da reunião anterior, os governadores não perceberam nenhum sinal de conflito entre os dois ministros. Antes da reunião, Lula tratou de afinar os discursos.
Como saldo, os governadores entendem que obtiveram o possível no momento, sem fechar as portas para obter mais no futuro -do Planalto ou do Congresso. (RAYMUNDO COSTA e GUSTAVO PATÚ)


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