|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REFORMA SOB PRESSÃO
Em reunião tensa, Lula criticou o lobby dos Estados, e Palocci ameaçou vetar partilha da Cide
Planalto reclama, mas cede a governadores
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A reunião dos cinco governadores com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros
Antonio Palocci Filho (Fazenda) e
José Dirceu (Casa Civil) foi tensa,
mas as duas partes demonstraram não ter disposição real para
um confronto agora.
Assim como o governo abrandou a resistência em relação a novas concessões na reforma tributária, os governadores se deram
por satisfeitos, ao menos temporariamente, com o atendimento
parcial de seus pleitos.
Lula reclamou das recentes declarações dos governadores, que
ameaçavam negociar diretamente no Congresso as reivindicações
negadas pelo governo.
Palocci azedou o início da conversa ao ameaçar com recuos até
nos pontos em que já havia sinalizado com concessões: o repasse
de 25% da Cide e o fundo destinado a compensar os Estados pelo
fim do ICMS sobre exportações.
O governador gaúcho Germano
Rigotto, que presidiu a comissão
da reforma tributária da Câmara
tendo Palocci como vice, não se
conteve. Disse que, em 1999, o ministro defendia o que os governadores hoje propõem, mas esbarrava na oposição do então secretário da Receita, Everardo Maciel:
"Só falta enxergar a cara do Everardo, porque o resto, está tudo aí.
Falta só a barba branca."
Palocci se manteve impassível.
Reafirmou não ver "viabilidade
técnica" nos pleitos dos governadores, uma vez que o governo está
no meio de um ajuste fiscal rigoroso acertado com o FMI.
A certa altura, o mineiro Aécio
Neves pediu uma cigarrilha ao
presidente. Palocci imediatamente passou um isqueiro ao governador, que, após pensar, o devolveu: "Pega seu isqueiro. Vou gastar o fluido do presidente para
economizar o seu".
Diante do impasse, Rigotto se
impacientou: "É bom a gente ir
embora, porque, daqui a pouco, a
gente é que vai dar um dinheirinho para o governo federal".
O grupo lembrou a atuação decisiva dos Estados na aprovação
da reforma da Previdência em
primeiro turno na Câmara, falou
em chamar novamente os 27 governadores para conversar e
ameaçou abandonar o apoio à reforma tributária.
Lula intervém
Foi Lula quem desanuviou o clima de tensão, numa intervenção
política -considerada, por dois
participantes, previsível: "Essa
aliança é fundamental. Não nos
interessa o confronto com os governadores".
"A nós também não", respondeu Aécio. "Pode-se pedir tudo a
um homem público, menos seu
suicídio político. E a situação dos
Estados é grave. Eu torço para o
governo dar certo", disse.
"Eu também", emendou Lula.
Foi a senha para que se desenhasse uma saída honrosa para
todos. A partir de então, avançaram mais amigavelmente as discussões técnicas sobre a Cide e o
fundo de compensação.
José Dirceu voltou a adotar uma
atitude mais flexível que a de Palocci em relação aos pedidos dos
Estados. Mas, ao contrário da reunião anterior, os governadores
não perceberam nenhum sinal de
conflito entre os dois ministros.
Antes da reunião, Lula tratou de
afinar os discursos.
Como saldo, os governadores
entendem que obtiveram o possível no momento, sem fechar as
portas para obter mais no futuro
-do Planalto ou do Congresso.
(RAYMUNDO COSTA e GUSTAVO PATÚ)
Texto Anterior: Alckmin agora quer CPMF e diz que governo precisa "ser menos Brasília" Próximo Texto: Frase Índice
|