|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORÇAMENTO
Estados governados pelo PT recebem mais recursos para investimento
União libera mais verba para o Piauí do que para São Paulo
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Piauí do governador petista
Wellington Dias é o Estado que
teve até o momento o maior volume de liberação de recursos federais para investimentos no país,
R$ 48,5 milhões até o dia 3.
O valor representa quase quatro
vezes mais que o dinheiro liberado para São Paulo. O número de
habitantes do Estado nordestino é
de pouco mais de 5% da população de São Paulo.
Dados obtidos no Siafi (sistema
de acompanhamento de gastos
federais) mostram que o Piauí e o
Acre (que também é administrado pelo PT) são, proporcionalmente às suas populações, os Estados mais beneficiados em 2004
com os recursos federais de investimento.
O Acre recebeu até o momento
R$ 10,3 milhões, de um total de R$
51,2 milhões empenhados. Empenho é quando o governo assume o
compromisso orçamentário com
o gasto. Isso dá R$ 17,53 liberados
até agora por habitante (R$ 87,29
de empenho por habitante).
Já o Piauí tem empenhos que
somam R$ 68 milhões, sendo R$
48,5 milhões já liberados. Isso dá
R$ 16,74 de verbas federais já gastas por habitante.
São Paulo tem empenho de R$
65 milhões, mas só 15% (R$ 10 milhões) já saíram do papel. O índice
de recursos liberados por habitante é de R$ 0,26.
"Dívida histórica"
Os dois governadores petistas
defendem a atitude da União argumentando que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva cumpre a
palavra de pagar aos Estados mais
pobres do país a dívida social e
econômica contraída por décadas
de privilégio orçamentário aos
Estados mais desenvolvidos.
"Não acredito em desenvolvimento da Amazônia ou do Nordeste sem uma forte e efetiva participação do Orçamento da
União", diz o governador do
Acre, Jorge Viana.
Segundo ele, a comparação entre verbas e habitantes é "lamentável" e beira o "preconceito".
"Para fazer uma coisa justa, você
deveria fazer a conta de quanto os
governos passados investiram no
Sul e no Sudeste. Tenho defendido que o presidente Lula possa
pagar uma dívida histórica do
Brasil com o Norte e o Nordeste."
Viana nega privilégio e diz que
mais da metade dos recursos se
destinam a obras federais nas BRs
317 e 364, que teriam recebido o
maior aporte de recursos no último ano da gestão de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
"Levando-se em conta o volume de problemas que temos, os
recursos teriam que ser bem mais.
O Piauí é a África brasileira", afirma o governador piauiense, Wellington Dias.
"Vivíamos até há pouco com a
concentração de recursos nas regiões mais desenvolvidas. Estamos muito animados com a coerência do presidente, que faz no
Brasil o que ele fala no mundo",
acrescentou ele.
Na outra ponta
Do lado inverso da planilha, o
dos pouco ou quase nada atendidos, constam um Estado "aliado"
que adota postura de oposição
-o Rio de Janeiro, governado pelo PMDB- e um Estado "oposicionista" que se diz aliado do governo -o Maranhão, pelo PFL.
Os dois Estados apresentam
apenas R$ 0,08 de verbas federais
já liberadas por habitante. Dos R$
14 milhões de empenhos do Maranhão, só R$ 440 mil foram liberados. Dos R$ 22 milhões empenhados para o Rio, apenas R$ 1,3
milhão saiu do papel.
"Lamento o fato de o presidente
Lula ter obtido o primeiro lugar
na votação do Rio, com o nosso
apoio, e agora colocar o Rio em
último lugar. É a prova de que o
PT não gosta do Rio", afirmou a
governadora Rosinha Matheus.
A governadora e seu marido,
Anthony Garotinho, secretário de
Segurança Pública do Estado, fazem parte da ala peemedebista
que faz oposição ao governo.
No Maranhão do governador
José Reinaldo Tavarez (PFL), o
problema, segundo ele, foi o seu
rompimento com a família Sarney, que há mais de 40 anos comanda a política no Estado. José
Sarney (PMDB-AP), presidente
do Senado, é aliado do governo.
"Não acho motivo para o que
acontece aqui. Apoiei e apóio o
Lula desde o início. Começo a não
duvidar de que haja interferência
política", diz José Reinaldo.
Os governadores do PSDB, que
afirmam haver privilégio partidário no tratamento dispensado pelo governo, ficam em grupos distintos. Tocantins (R$ 4,95) e Ceará (R$ 3,34) são os mais atendidos
na relação verba liberada/habitante. Goiás e Rondônia têm um
empenho proporcional alto, mas
uma liberação baixa. Pará, Paraíba e São Paulo têm os piores índices proporcionais no grupo.
Na semana passada, a Folha
mostrou que as grandes cidades
administradas por aliados de Lula
estão recebendo verbas federais
para investimentos três vezes
maiores que as destinadas aos
grandes municípios administrados pela oposição. Das 15 cidades
com maior média de recursos, 12
são comandadas pelo PT.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Outro lado: Pasta afirma que repasse atende às metas sociais Índice
|