São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Para especialistas, discurso de Alckmin explicaria queda

Tucano errou ao concentrar sua campanha em ataques a Lula, dizem cientistas políticos

Leôncio Martins diz que candidato não conseguiu estabelecer ponte entre questão ética e demandas das classes mais baixas


RODRIGO RÖTZSCH
LEANDRO BEGUOCI
DA REDAÇÃO

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, errou na estratégia de campanha ao se concentrar nos ataques a Luiz Inácio Lula da Silva e não em propostas de governo. Essa é a opinião de cientistas políticos ouvidos pela Folha após pesquisa Datafolha que mostrou queda de quatro pontos do tucano -de 28% para 24%.
Para Renato Lessa, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), Alckmin enfrenta os efeitos negativos de se tornar mais conhecido da população. "A rejeição a ele aumenta um pouco mais, porque ele aparece como uma oposição muito vaga, muito denuncista", diz.
Para Lessa, Alckmin erra por fazer uma campanha "totalmente pautada" no presidente. "Mais do que fazer uma campanha a presidente, ele está fazendo uma campanha de oposição a Lula."
Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da Unicamp, diz que falta a Alckmin fazer uma ponte no discurso entre a questão ética e as demandas da população mais pobre. "Ele quer se firmar como um candidato sério, administrativamente honesto, mas tem que estabelecer uma ponte com as demandas sociais. Competência, seriedade e honestidade favorecem os pobres, e ele tem que mostrar isso. Se ele não conseguir fazer isso, não conseguirá bater o Lula."
O escândalo dos sanguessugas, que Alckmin tenta vincular a Lula em seu discurso, não é visto como positivo para o tucano. "Do ponto de vista de Alckmin, seria preferível que não houvesse o escândalo dos sanguessugas", diz Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Reis diz que, como atinge políticos de vários partidos, o caso "não é visto como algo que tem a ver especificamente com o governo".

TV e Heloísa
Se o quadro se mantiver estável, os analistas acreditam que a eleição se encaminha para uma vitória de Lula no primeiro turno. "Isso vai depender da estratégia dos programas de TV. Se a estratégia for a mesma usada até agora, Lula já pode encomendar o terno para a posse", diz Lessa.
Reis também diz que a esperança do tucano é o horário eleitoral gratuito, mas ressalva. "Não há razão para presumir que o horário eleitoral vá alterar o cenário."
Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas, afirma que Alckmin só terá chances de vencer a eleição se fizer um horário eleitoral "brilhante", atraindo os eleitores que historicamente votam contra Lula e o PT. Porém, ressalva Abrucio, o tucano terá um obstáculo não-previsto: Heloísa Helena.
Abrucio diz que a candidata do PSOL não vem crescendo com base no eleitorado lulista, mas naqueles que Alckmin imaginou que seriam seus -escolarizados e de classe média.
"O Alckmin não tem estratégia clara para chegar ao segundo turno. Não sabe se bate no Lula ou se terá de bater na Heloísa Helena", afirma.
Para Leôncio, mais que do horário eleitoral, o tucano precisará dos debates na TV -nos quais Lula até agora não confirmou presença. "O debate pode ser a salvação do Alckmin, talvez a única. Mas ele tem que ter um desempenho avassalador para ter alguma chance."


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