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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Para especialistas, discurso de Alckmin explicaria queda
Tucano errou ao concentrar sua campanha em ataques a Lula, dizem cientistas políticos
Leôncio Martins diz que
candidato não conseguiu
estabelecer ponte entre
questão ética e demandas
das classes mais baixas
RODRIGO RÖTZSCH
LEANDRO BEGUOCI
DA REDAÇÃO
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, errou
na estratégia de campanha ao
se concentrar nos ataques a
Luiz Inácio Lula da Silva e não
em propostas de governo. Essa
é a opinião de cientistas políticos ouvidos pela Folha após
pesquisa Datafolha que mostrou queda de quatro pontos do
tucano -de 28% para 24%.
Para Renato Lessa, do Iuperj
(Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro),
Alckmin enfrenta os efeitos negativos de se tornar mais conhecido da população. "A rejeição a ele aumenta um pouco
mais, porque ele aparece como
uma oposição muito vaga, muito denuncista", diz.
Para Lessa, Alckmin erra por
fazer uma campanha "totalmente pautada" no presidente.
"Mais do que fazer uma campanha a presidente, ele está fazendo uma campanha de oposição a Lula."
Leôncio Martins Rodrigues,
professor aposentado da Unicamp, diz que falta a Alckmin
fazer uma ponte no discurso
entre a questão ética e as demandas da população mais pobre. "Ele quer se firmar como
um candidato sério, administrativamente honesto, mas tem
que estabelecer uma ponte
com as demandas sociais.
Competência, seriedade e honestidade favorecem os pobres,
e ele tem que mostrar isso. Se
ele não conseguir fazer isso,
não conseguirá bater o Lula."
O escândalo dos sanguessugas, que Alckmin tenta vincular
a Lula em seu discurso, não é
visto como positivo para o tucano. "Do ponto de vista de
Alckmin, seria preferível que
não houvesse o escândalo dos
sanguessugas", diz Fábio Wanderley Reis, professor emérito
da Universidade Federal de
Minas Gerais. Reis diz que, como atinge políticos de vários
partidos, o caso "não é visto como algo que tem a ver especificamente com o governo".
TV e Heloísa
Se o quadro se mantiver estável, os analistas acreditam que
a eleição se encaminha para
uma vitória de Lula no primeiro turno. "Isso vai depender da
estratégia dos programas de
TV. Se a estratégia for a mesma
usada até agora, Lula já pode
encomendar o terno para a posse", diz Lessa.
Reis também diz que a esperança do tucano é o horário
eleitoral gratuito, mas ressalva.
"Não há razão para presumir
que o horário eleitoral vá alterar o cenário."
Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas, afirma
que Alckmin só terá chances de
vencer a eleição se fizer um horário eleitoral "brilhante",
atraindo os eleitores que historicamente votam contra Lula e
o PT. Porém, ressalva Abrucio,
o tucano terá um obstáculo
não-previsto: Heloísa Helena.
Abrucio diz que a candidata
do PSOL não vem crescendo
com base no eleitorado lulista,
mas naqueles que Alckmin
imaginou que seriam seus -escolarizados e de classe média.
"O Alckmin não tem estratégia clara para chegar ao segundo turno. Não sabe se bate no
Lula ou se terá de bater na Heloísa Helena", afirma.
Para Leôncio, mais que do
horário eleitoral, o tucano precisará dos debates na TV -nos
quais Lula até agora não confirmou presença. "O debate pode
ser a salvação do Alckmin, talvez a única. Mas ele tem que ter
um desempenho avassalador
para ter alguma chance."
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