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Governo acelera liberação de emendas para aprovar CPMF
Verba destinada a parlamentares em 6 dias supera em 3 vezes total empenhado no ano
Planalto precisa de apoio
dos congressistas para
prorrogar o imposto do
cheque e a Desvinculação
das Receitas da União
RANIER BRAGON
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Correndo contra o tempo para aprovar no Congresso a
prorrogação até 2011 da vigência da CPMF e da DRU, o governo federal abriu a torneira de
verbas para deputados federais
e senadores: só nos primeiros
seis dias de agosto, assumiu o
compromisso de pagar R$ 67,3
milhões relativos a emendas
individuais dos congressistas
ao Orçamento de 2007.
O valor desses seis dias corresponde a mais de três vezes o
total que havia sido empenhado -jargão orçamentário que
significa o comprometimento
de gasto- em todo o ano (R$
20,7 milhões).
A CPMF (o chamado imposto do cheque, que tem receita
prevista de R$ 36 bilhões neste
ano) e a DRU (Desvinculação
das Receitas da União, que permite ao governo o livre manuseio de 20% da arrecadação dos
principais tributos) vencem em
dezembro deste ano.
A proposta de prorrogação
por mais quatro anos já está na
Câmara, mas encontra resistência, já que, entre outras coisas, congressistas ameaçam repartir com Estados e municípios parte da receita da CPMF.
Relacionado à liberação de
verbas ou não, o fato é que ontem governo e oposição chegaram a acordo que deve facilitar
a tramitação da proposta. Ficou
acertado que o projeto terá sua
primeira votação na terça, sem
que haja manobras protelatórias da oposição nem tentativa
do governo de pular etapas.
Alguns argumentam que a
aprovação no Congresso deveria ocorrer até o final de setembro (três meses antes da entrada em vigor), mas governistas
dizem que não há necessidade
dessa "noventena" já que se
trata de prorrogação.
As emendas que os 594 congressistas fazem ao Orçamento
-cada um pode incluir R$ 6
milhões- têm o objetivo de direcionar verbas para obras em
seus redutos eleitorais.
Os R$ 67 milhões de agosto
beneficiaram sobretudo parlamentares do PT, que tiveram
R$ 12,3 milhões de suas emendas empenhadas. O PMDB veio
a seguir, com R$ 9,5 milhões,
seguido do nanico aliado PC do
B (R$ 6 milhões) e do oposicionista DEM (R$ 5,8 milhões).
O parlamentar mais atendido foi o senador Renato Casagrande (PSB-ES), um dos relatores do processo de cassação
contra o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL).
Foram R$ 1,4 milhão para, entre outras coisas, construção de
creches, calçamento de ruas e
instalação de núcleos de informática em municípios capixabas. "Se tive a sorte de ter as
emendas empenhadas, ótimo.
Mas isso não tem relação com
meu trabalho no Conselho de
Ética. O governo não tratou nada comigo sobre esse assunto."
Os dados são referentes a
cruzamento feito pela Folha
com base em informações coletadas no Siafi (sistema de
acompanhamento de gastos federais) pela assessoria de Orçamento da bancada do DEM.
"Na minha opinião, as emendas deveriam ser de execução
obrigatória até mesmo para
evitar essa interpretação permanente sobre se isso é uma
barganha ou não", disse o vice-líder do governo na Câmara
Henrique Fontana (PT-RS),
que também nega vinculação
com a CPMF e DRU.
A ordem para atender logo
aos congressistas partiu do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Na semana passada ele
disse a aliados que a execução
das emendas deveria funcionar
como "relógio" para não dar a
impressão de que deputados
estariam sendo "comprados".
Segundo técnicos do Planalto,
as emendas serão atendidas em
quatro parcelas de R$ 500 milhões, a última em novembro.
"Está aberta a temporada de
caça ao político para votar a
CPMF e a DRU. O governo Lula não aprendeu com o mensalão", afirmou o líder do DEM,
Onyx Lorenzoni (RS). Questionado sobre prática similar durante do governo do PSDB e do
DEM, entre 1995 e 2002, Lorenzoni afirmou: "Estava errado lá e está errado agora."
Para evitar o "desperdício"
de emendas, o Planalto elaborou uma espécie de uma cartilha. O texto orienta os ministérios a procurarem os parlamentares e dizer quais os projetos prioritários de suas áreas,
onde o dinheiro tem maior
chance de ser efetivamente
gasto. A idéia é que as pastas
também deixem claro o que pode e o que não pode ser feito.
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