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JANIO DE FREITAS
A fria dos cubanos
O governo sonegou a clareza das razões de repatriamento, da legalidade da formalização
e da urgência aplicada no caso
AS ACUSAÇÕES de que o governo
evitou a concessão de asilo e
deportou impropriamente os
dois pugilistas cubanos, fugitivos da
delegação de Cuba no Pan, até agora
faz lembrar as imediatas explicações
e culpas lançadas em seguida à tragédia de Congonhas. O governo, em
certa medida, por certo errou na
operação. Mas o desenrolar do caso,
entre a fuga dos pugilistas e sua saída do Brasil, ainda está repleto de
zonas obscuras e de contradições
em que um dos lados tem que ser
mentira fabricada.
A polícia já comprovou que os tais
agentes alemães de um empresário
de boxe, que seriam os indutores da
fuga e estariam aguardando os passaportes falsos para a saída dos cubanos, (já) estavam na Alemanha
enquanto Guillermo Rigondeaux e
Erislandy Lara continuavam em
uma pousada na região de Araruama, no Rio.
Iriam os agentes deixar os dois cubanos assim à solta, enquanto tomavam providências na Alemanha? Estranho, mas pode ser que confiassem no interesse de ambos de ir para
a Europa. Ou havia um negócio que
não se completou, e os alemães partiram e os cubanos ficaram zanzando por aí? Ou nem havia negócio algum? Assim como os alemães, as
prostitutas que acompanhavam os
lutadores, segundo uma reportagem
que os teria descoberto perto de Niterói, nem foram vistas na pousada
que os hospedava em Araruama.
Daí saíram, ao que testemunha o
hospedeiro, depois de entrar apenas
para pegar as malas já deixadas
prontas, sem aparência de estarem
presos pelos PMs fluminenses que
os aguardavam (todos vindos, diz-se, de "uma praia onde os fugitivos
foram reconhecidos"). A informação da Polícia Federal, que os recebeu, é de que recusaram asilo e pediram para voltar a Cuba, nem ao menos dispostos a entender-se com os
dois advogados que lá estiveram para assessorá-los.
Os motivos da movimentação dos
dois cubanos permitem muitas hipóteses. O que é suficiente para haver poucas certezas. Duas, porém,
estão disponíveis. O governo errou.
Errou politicamente, como sempre,
levado pela má comunicação e pela
auto-suficiência. A ser verdadeiro o
desejo dos cubanos de voltar logo
para casa, o governo negou à opinião
pública a clareza dos motivos de repatriamento, da legalidade de sua
formalização e da urgência aplicada.
E, além de sonegar clareza, a surdina
do procedimento refletiu a presunção expressa no sentimento do
"nunca neste país".
A outra certeza foi dada por Fidel
Castro. Com os castigos adjetivos e
esportivos recebidos pelos recém-chegados a Havana, ficou demonstrado que eles tinham razões para
decidir pela fuga, seja o que for que a
tenha abortado.
Há o que investigar na parte brasileira desse caso, e fazê-lo é, ainda,
uma dívida do governo e, em especial, do seu Ministério da Justiça.
Enquanto se aguarda, vamos lendo e
rememorando aqueles termos sumidos desde o fim da Guerra Fria.
Perdidos e achados
"Sumiram 190 mil armas doadas
pelos EUA ao governo do Iraque".
Já procuraram no Brasil?
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