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Renan autoriza nova rádio para empresa de seu grupo
Senador assinou decreto anteontem que aprova contrato entre JR Radiodifusão e União
Um dos donos da vencedora da licitação trabalha no gabinete do peemedebista; "Não sou sócio de empresa nenhuma", afirmou Renan
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), assinou anteontem um decreto
legislativo aprovando uma nova concessão de rádio para a
empresa JR Comunicação, que,
segundo a revista "Veja" desta
semana, pertence ao próprio
senador, por intermédio de laranjas. O decreto legislativo 158
foi assinado por Renan, na condição de presidente da Casa, e
publicado ontem no "Diário
Oficial" da União.
O decreto autoriza a União a
assinar contrato de concessão
de uma radio FM, na cidade de
Joaquim Gomes (Alagoas),
com a JR Radiodifusão. A concessão é pelo prazo de dez anos,
renováveis, e foi adquirida pela
empresa em licitação pública
do Ministério das Comunicações. A concorrência foi aberta
em 2001, e a empresa venceu
com a proposta de pagamento
de R$ 222.121.
Pelo edital, a JR Radiodifusão tem até 60 dias, a contar da
publicação do decreto legislativo no "Diário Oficial", para pagar metade do valor à União e
assinar o contrato de concessão
da rádio com o Ministério das
Comunicações.
A tramitação do processo de
autorização da outorga, no Senado, começou no dia 21 de
maio, depois de ter sido aprovado pela Câmara
A tramitação foi rápida. Ele
foi aprovado na Comissão de
Ciência, Tecnologia e Comunicação, onde teve como relator
o senador João Tenório
(PSDB-AL), em 1º de agosto.
Do contrato social da empresa que o Ministério das Comunicações encaminhou ao Congresso consta que a JR Comunicações pertence a Carlos Ricardo Nascimento Santa Ritta e
a José Carlos Pacheco Paes. A
empresa tem sede em Maceió e
capital social de R$ 100 mil.
Santa Ritta ocupa cargo em
comissão no gabinete de Renan
no Senado, como assessor técnico, desde 2004. Na função,
recebe salário bruto mensal de
R$ 9.031. Ele nega que o senador peemedebista tenha participação nas rádios.
Procurado ontem, Renan
também negou ligação com o
negócio. "Eu não tenho nada a
ver com isso. Não sou sócio de
empresa nenhuma", afirmou.
Rádios
Segundo a revista "Veja", José Pacheco Paes transferiu sua
participação na empresa (50%
das cotas) para Antonio Tito
Uchôa Lopes, primo do senador, em março de 2005, mas
dos documentos da empresa
arquivados no Senado não
consta a mudança.
Ainda de acordo com a revista, Renan usou dinheiro vivo,
parte em dólar, para comprar
duas rádios em Alagoas que estão em nome de Uchôa e de
Santa Ritta. As rádios estariam
avaliadas em R$ 2,5 milhões e
pertenceriam ao senador, que
não as declarou em seu Imposto de Renda.
Em junho, reportagem da
Folha já havia antecipado que
o grupo político do senador Renan Calheiros estava montando uma rede de rádios em Alagoas e que duas já estavam em
funcionamento em Maceió. Informou ainda que outras cinco
estavam em instalação ou em
fase de tramitação para aprovação das outorgas pelo Congresso. Já naquela época, o mercado de radiodifusão dava como
certo que as rádios pertenciam
ao senador, embora seu grupo
político negasse a informação.
A JR disputou várias licitações do Ministério das Comunicações para a compra de rádios em Alagoas e foi declarada
vencedora em quatro municípios: Água Branca, Joaquim
Gomes, Porto Real do Colégio e
Murici. A empresa ofereceu um
total de R$ 1,005 milhão pelas
quatro concessões.
Santa Ritta e Tito Uchôa foram secretários estaduais de
Alagoas, na gestão de Ronaldo
Lessa (PDT), por indicação de
Renan Calheiros. Os dois integram também o diretório regional do PMDB, que é presidido por Renan.
Denúncia
A empreitada de Renan nas
comunicações, de acordo com a
revista "Veja", começou em
1998 numa parceria com o empresário João Lyra, na compra
do grupo O Jornal, que detinha
uma concessão de rádio. O negócio teria sido fechado em
R$ 2,6 milhões (R$ 1,3 milhão
para cada um), e Lyra teria emprestado R$ 700 mil ao senador. Os pagamentos a Lyra teriam sido feitos em dinheiro, às
vezes em dólar.
Segundo a revista, os R$ 650
mil restantes teriam sido pagos
em 1999 por Tito Uchôa.
Em 2005, o presidente do Senado e Lyra teriam decidido
desfazer a sociedade, ficando o
usineiro com o jornal e o peemedebista com as concessionárias de rádio.
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