São Paulo, domingo, 9 de agosto de 1998

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SUCESSÃO
Aliados torcem por crescimento, mas assessores apostam no continuísmo
Malan e Franco ficam em 2º mandato, diz presidente

Folha Imagem
O ministro da Fazenda Pedro Malan (à esq.), e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco


ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse à Folha que, se for reeleito, manterá nos respectivos cargos o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
FHC tenta encerrar as especulações recorrentes sobre uma possível mudança da equipe econômica num eventual segundo mandato.
A pergunta da Folha: "O ministro Pedro Malan e o presidente do BC, Gustavo Franco, vão continuar nos seus cargos se o senhor vencer as eleições?"
A resposta do presidente, ditada pela assessoria: "Se eu vencer as eleições de outubro, certamente".
A decisão, no entanto, não acaba com as intensas discussões, no governo e no comitê de campanha, sobre a necessidade de mudanças de rumo no segundo governo.
Pressionada sobretudo pela crise da Ásia, a equipe econômica foi acusada de transformar a política monetária em dogma, gerando estagnação econômica, desemprego e poucos investimentos no social.
Com as eleições e a chance de vitória, a equipe política argumenta que a estabilidade já está garantida e tenta forçar uma guinada nas prioridades, com mais crescimento e investimentos no social.
Até o ministro-chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, diz que em um segundo mandato a prioridade será o social. "Essa é a obsessão do presidente. Antes, ele arrumou a casa e garantiu a estabilidade. Agora é a vez da arrancada social", diz. "Malan é um homem extremamente flexível. Duvido que não saiba fazer diferente."
Malan anda calado. Franco não já avisou que não há recursos para aumentar a fatia da área social.
As grandes marcas do primeiro mandato foram: o início da reforma do Estado, com o fim de monopólios estatais, as privatizações e as mudanças (por concluir) na Previdência e na administração.
No segundo mandato, não há grandes lances sendo engatilhados. Há, sim, um megaproblema: o déficit público. Mesmo com a mudança na definição do déficit, ele já chega a 6,52% do PIB.
O secretário-executivo da Fazenda, Pedro Parente, diz que "as atuais taxas de juros estrangulam o país" e defende que no próximo governo os juros de empréstimos se aproximem dos das aplicações.
Tudo, entretanto depende do combate ao déficit. Ninguém admite um novo "pacote", como o que elevou os juros em 1997.
Fala-se apenas no fim da votação da reforma da Previdência, a regulamentação da administrativa e o início da discussão da reforma tributária pelo Congresso. A reforma da Previdência vem se arrastando desde 95. A tributária, para criar o Imposto de Valor Agregado, de caráter nacional, encontra fortes reações nos Estados e municípios.
"Ninguém quer perder nada", resume o governador do Ceará, Tasso Jereissati, que é muito próximo de FHC -ele prevê intermináveis discussões sobre o assunto antes de qualquer decisão.
Ainda neste ano, duas medidas políticas: o Ministério da Defesa, em novembro, e a tentativa de votar o resto da reforma política.
O novo ministério irá centralizar órgãos, funções e recursos hoje dispersos pelas três Forças Armadas. Só depois de sua criação FHC terá condições políticas de definir novos rumos para a aviação civil -hoje, com a Aeronáutica.
A comissão do Senado que analisa a reforma política aprovou a fidelidade partidária, o voto distrital misto, a cláusula de barreira (para limitar o total de partidos) e o voto facultativo. Falta o de mais difícil aceitação popular: financiamento público de campanhas.
São decisões que abrem caminho para uma reformulação da base de sustentação do governo no Congresso e para uma posterior implantação do parlamentarismo, na sucessão seguinte, de 2002.
Entre economistas e políticos que discutem rumos para o governo, existem assessores diretos e velhos amigos do presidente. Eles acham que não há muito o que mudar, só o que intensificar.
O coordenador do programa de governo, Carlos Pacheco, concorda. Ele destaca, porém, o que considera "o grande desafio" de um segundo mandato: "Tirar um contingente de milhões de pessoas da linha da miséria, sem contar mais com a estabilização para isso. O que a estabilização tinha de fazer por si nessa área, ela já fez".
Políticas de caráter compensatório têm efeito limitado -mesmo a Bolsa-Escola, programa de renda para quem mantem filhos na escola. Foi votado no Congresso como um "ovo de Colombo" para a área social, mas só vai começar em 99. E com reservas. O Bolsa-Escola virou "uma vitrine" para engajar prefeitos e comunidades.
"Não há mágicas", tem dito FHC. A conclusão é que o segundo mandato será, realisticamente, uma continuação do primeiro. Começando com uma velha nova prioridade: o combate ao déficit.



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