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CELSO PINTO
Metas para o déficit público
O governo não pensa em fazer
um pacote fiscal depois das eleições, mas quer dar uma sinalização mais forte em direção à austeridade. Amaury Bier, secretário
de Política Econômica da Fazenda, estuda uma alternativa concreta, inspirada na experiência
recente dos Estados Unidos.
A idéia seria fixar metas graduais para os próximos três ou
quatro anos e transformá-las
num compromisso também do
Legislativo. Nos Estados Unidos,
quando o déficit público saiu de
controle nos anos 80, sucessivas
leis levaram à redução gradual
do desequilíbrio.
O acordo mais recente, de 97,
previa equilíbrio em 2002, mas
ele já aconteceu este ano. Com
metas plurianuais, o Congresso se
compromete a corrigir qualquer
desvio com cortes compensatórios.
Bier está estudando esta experiência. Ele acha que algo parecido no Brasil, em que houvesse a
obrigação legal de correção de
desvios orçamentários, aumentaria a credibilidade de metas fiscais.
Nos últimos dois anos, o governo namorou várias vezes com a
idéia de fixar metas para o déficit
público. Chegou-se a imaginar a
publicação de metas trimestrais,
a exemplo do que acontece nos
países monitorados pelo FMI.
No ano passado, a Fazenda
mencionou, mas de maneira informal, a meta de chegar ao fim
do ano com um superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) equivalente a 1,5% do
PIB. O déficit real ficou em 0,92%
do PIB, e o governo foi duramente cobrado.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, é claramente contra a fixação de metas fiscais. Acha que
elas acabariam exacerbando expectativas e cobranças.
A proposta de Bier é diferente.
Ele acha que as metas teriam que
ser fixadas em reais e não em
relação ao PIB, sujeito a variações inesperadas (por exemplo,
em razão da crise asiática). Com
a inflação anual em torno de 2%,
seu impacto sobre as metas nominais seria mínimo.
As metas teriam que ser realistas. O déficit não pode ser eliminado com uma penada ou um
pacote, diz Bier. É possível, contudo, dar um senso de direção
num período de três ou quatro
anos, se mecanismos legais derem
credibilidade às metas. O Orçamento teria que se basear em previsões realistas de receita. No
passado, receitas superestimadas
acabaram gerando pressões irrealistas de despesas.
O objetivo final é claro. As receitas de privatização têm ajudado, nos últimos anos, a impedir
que a pressão dos déficits públicos elevados se reflitam integralmente no estoque da dívida líquida. Em dois ou três anos, contudo, o grosso das privatizações terá acabado e, se não houver
maior controle sobre o setor público, a dívida poderá crescer de
forma explosiva.
Bier diz que os cálculos mostram que seria preciso gerar um
superávit primário entre 1,5% e
2% do PIB, a partir deste ponto,
para manter o estoque da dívida
líquida estabilizado. Esta teria
que ser a meta embutida no médio prazo.
E como chegar lá? Reformas e
taxas razoáveis de crescimento
são essenciais, diz Bier. Isso supõe
sucesso político nas reformas e
aumento das exportações suficiente para permitir um crescimento econômico que não esbarre em déficits externos insustentáveis.
O próximo ano começa com alguns problemas. Não se repetirão
os R$ 4 bilhões de receita da concessão da banda B deste ano, o
R$ 1,8 bilhão do imposto sobre
aplicações financeiras e os R$ 7
bilhões da CPMF (se o imposto
não for renovado).
Em contrapartida, lembra Bier,
existirão receitas remanescentes
da banda B (o Citibank calcula
em R$ 1 bilhão), receitas das empresas-espelho da telefonia, das
concessões petrolíferas e várias
privatizações (entre elas Banespa, geração de energia e, talvez,
saneamento).
Do lado dos Estados e municípios, ele calcula que o pleno cumprimento dos acordos de renegociação da dívida com o governo
federal gerariam um superávit
primário de cerca de 0,7% do
PIB. Como existem muitas privatizações estaduais em 99, cujo dinheiro é usado à revelia do acordo, não dá para esperar muito do
resultado dos Estados.
Bier diz que não dá para obter
ganhos dramáticos a curto prazo.
Importante é indicar a direção
correta.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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