São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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ELEIÇÕES 2002

Líder do partido faz mais duro ataque ao governo; PSDB diz que Ciro se desqualifica "ladeira abaixo"

PPS vê 'Estado paralelo' sob Serra e afirma que FHC segue Fujimori

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O líder do PPS na Câmara, deputado João Herrmann, um dos coordenadores políticos do presidenciável Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, estendeu ao governo e à pessoa do presidente Fernando Henrique Cardoso críticas que havia feito ao candidato tucano José Serra e a ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O PPS abriu guerra contra o tribunal na última sexta-feira por entender que decisões desfavoráveis a Ciro sobre direito de resposta no horário eleitoral gratuito estariam sendo influenciadas pela relação pessoal de membros do TSE com os tucanos.
Em entrevista coletiva destinada inicialmente à imprensa estrangeira, Herrmann se referiu a FHC em tom de ameaça. Disse que iria "alertar" o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, sobre quem era Fernando Henrique.
"Annan precisa ter mais cuidado. Não pense que o futuro de FHC será diferente do de Carlos Menem [ex-presidente da Argentina que responde a pelo menos seis processos judiciais", de Alberto Fujimori [ex-presidente do Peru, foragido no Japão e acusado de diversos crimes, incluindo corrupção e violações aos direitos humanos" ou de tantos outros homens que, após saírem do poder, foram desmascarados pela realidade, punidos pela Justiça e rejeitados pelo povo", disse.
Em um encontro com o presidente, em 30 de julho, Herrmann aludiu ao risco da "alfonsinização" de Fernando Henrique -em 1989, o presidente argentino Raúl Alfonsín entregou o cargo ao sucessor Carlos Menem cinco meses antes da data prevista.
Em seguida, Herrmann fez duras críticas a Serra, a quem acusou, sem apresentar provas, de comandar um "estado paralelo" para vigiar e "destruir biografias".
"Quero que o presidente coloque fim a este estado paralelo. Se não o fizer, temo que o futuro presidente do Brasil padeça de ilegitimidade eleitoral."

Ladeira abaixo
A assessoria de imprensa da Presidência da República informou que o presidente Fernando Henrique Cardoso não comentaria as declarações de Herrmann. O candidato José Serra, em campanha na Bahia, também evitou comentar o que qualificou de "baixarias sem fundamento".
O presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal, candidato ao Senado, rebateu: "Essa gente se desqualifica a cada dia, ladeira abaixo. Que caiam na vala que quiserem cair", disse. "Manifestamos a nossa confiança nas instituições. Esses atos de desesperados não vamos responder".

Observador engajado
À imprensa estrangeira que acompanhou a coletiva -um jornalista do francês "La Tribune", um da agência de notícias "Reuters" e um do argentino "Clarín"-, Herrmann se apresentou insistentemente como "observador da ONU". "Atuei em outros países como observador eleitoral internacional. Será que neste momento não posso fazer o mesmo dentro do meu país?", perguntou.
Ao ser questionado pela Folha se, pelo engajamento na campanha de Ciro, não estaria incorrendo na mesma promiscuidade que identificava em ministros do TSE, o deputado recuou. Disse que havia citado ser membro da ONU somente para "se credenciar".
Herrmann afirmou, sem apresentar provas, que Serra, como candidato do governo, usou órgãos federais para vigiar opositores. "Estamos vivendo em 1984. Todos são vigiados pelo Big Brother [referência ao livro "1984" de George Orwell". Banqueiros e empresários não falam por telefone. Há uma bisbilhotice generalizada. Serra não teve um único minuto de conduta ética e moral de preservar biografias", disse.
Suas primeiras críticas foram dirigidas ao TSE. Herrmann elencou ministros e citou a seguir supostas ligações pessoais ou profissionais com FHC ou com Serra. Foram mencionados os ministros Nelson Jobim, presidente do tribunal, Carlos Eduardo Caputo Bastos, Ellen Grace Northflet, Francisco Peçanha Martins e José Gerardo Grossi. O TSE informou, por meio de sua assessoria, que eles não iriam se pronunciar.
O deputado colocou em dúvida também a confiabilidade das urnas eletrônicas. Disse que as urnas suspeitas de terem sido fraudadas encontradas na semana passada em Brasília aumentam a necessidade de serem convocados observadores internacionais para esta eleição. "Há um risco claro hoje de fraude da urna eletrônica. Vamos exigir que todos os partidos possam fiscalizar as eleições."
O deputado afirmou ter conversado com Ciro sobre suas denúncias. "Ao falar essas coisas não estou cumprindo uma ordem de Ciro. Faço essas denúncias em nome da democracia. Comuniquei Ciro Gomes, e ele somente disse ser este o caminho."


Colaboraram JULIA DUAILIBI, enviada especial à Bahia, e a Sucursal de Brasília


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