|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRESIDENTE
FORÇA DO AÇUCAR
Ministério da Agricultura sofreu pressão para concessão de pacote, que seria reação ao contato entre produtores e o PT
Governo libera R$ 400 mi a usineiros do NE
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas da eleição presidencial, o governo federal está liberando um pacote de R$ 400 milhões para os produtores de cana-de-açúcar do Nordeste.
Trata-se da retomada do programa de equalização dos custos
de produção de cana na região,
suspenso desde a safra de 1998/99,
quando foram denunciadas as
suspeitas de irregularidades na
concessão desses subsídios.
A Folha apurou que houve fortes pressões políticas no Ministério da Agricultura, num lobby que
pretendia ver aprovada a concessão de um pacote mais amplo de
incentivos para favorecer produtores de outras regiões.
O mecanismo de equalização
consiste no pagamento de um
subsídio de R$ 5,07 por tonelada
de cana para compensar as diferenças de custo de produção do
Nordeste e do Centro-Sul.
"Isso não tem nada a ver com
eleição ou com política", diz o deputado federal José Múcio Monteiro Filho (PSDB-PE), fornecedor de cana, ex-dirigente do PFL
pernambucano, e que atua junto à
"Frente Parlamentar Sucroalcooleira", no Congresso.
Monteiro diz que os recursos
aprovados são bem menores do
que havia sido negociado. "Foi fechado um acordo. Esses recursos
nasceram sob uma lei específica,
votada em plenário. O Ministério
da Agricultura fiscalizou as empresas. Parlamentares e presidentes de sindicatos do Nordeste trabalharam ao longo do ano. Houve
uma barganha [pelo governo]:
"Ou vocês aceitam [R$ 400 milhões" ou a gente não paga'", diz.
O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de
Pernambuco, Renato Cunha, 44,
diz que houve "negociação" na
Casa Civil. "O valor total deveria
ser R$ 530 milhões, mas demos
um desconto de R$ 130 milhões",
diz. Para Cunha, o calendário eleitoral é uma "coincidência". "Querem transformar uma questão
econômica líquida e certa em decisão eleitoral", diz Monteiro.
Poder eleitoral
Embora não exibam a mesma
influência política dos anos do regime autoritário, os produtores
nordestinos mantêm poder eleitoral. Os usineiros alagoanos ajudaram a conduzir à Presidência o
então candidato Fernando Collor
de Mello, em 1989, e também
apoiaram Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), em 1994.
Naquele ano, usineiros de Pernambuco, ligados ao PSB de Miguel Arraes, apoiaram o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Os empresários do setor sucroalcooleiro contam com uma
das maiores bancadas no Legislativo. A bandeira da retomada do
Proálcool -programa instituído
no início dos anos 80 para incentivar a produção do álcool combustível- ampliou o lobby político.
Foram incorporados representantes de partidos de oposição
-como José Machado (PT) e Aldo Rebelo (PC do B), que vêem no
combustível alternativo um incentivo à criação de empregos, e
parlamentares preocupados com
a questão ambiental, como Fernando Gabeira (PV-RJ).
A defesa do Proálcool é citada
nos programas de José Serra
(PSDB) e, com maior ênfase, no
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os usineiros paulistas vêm
mantendo, há um bom tempo,
contatos constantes com assessores econômicos dos candidatos
tucano e petista. Não teriam interlocutores mais próximos nas assessorias dos candidatos Ciro Gomes (Frente Trabalhista) e Anthony Garotinho (PSB).
Reação
A retomada dos incentivos aos
usineiros nordestinos pode ser interpretada como uma reação do
governo à aproximação do setor
com representantes do PT.
Nos últimos anos, o Partido dos
Trabalhadores e os usineiros paulistas estreitaram as relações desenvolvendo o que os empresários chamam de "conquista mútua". Nas eleições de 1998, os usineiros do Centro-Sul apoiaram
abertamente os candidatos petistas que se comprometiam com o
Proálcool.
Nas eleições de 2000, usineiros
paulistas fizeram campanha e deram dinheiro para eleger candidatos a prefeito do PT afinados
com a defesa do Proálcool, entre
os quais o prefeito de Ribeirão
Preto, Antônio Palocci Filho, que
foi reeleito e hoje é o coordenador
do programa de governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Calculava-se, então, que metade
da produção paulista de cana-de-açúcar já provinha de regiões lideradas por prefeitos do PT.
Texto Anterior: Folclore político: A bicicleta de João Batista Próximo Texto: Entidade teme que subsídio seja estendido Índice
|