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Entenda as divergências apontadas pelo relator
da Sucursal de Brasília
O deputado Nelson Otoch
(PSDB-CE) faz duas observações
críticas, em seu relatório votado
ontem, sobre as transcrições dos
diálogos entre o "Sr. X" e os
ex-deputados Ronivon Santiago e
João Maia (ambos ex-PFL-AC):
1) que há trechos ou palavras que
aparecem na Folha e não estão nas
fitas entregues para perícia na Unicamp e vice-versa;
2) que alguns dos trechos em
branco (sem gravação) nas fitas
entregues à Unicamp não correspondem ao tempo necessário para
a leitura das perguntas do "Sr. X".
Otoch classifica tudo isso de
"omissões, alterações e inserções
de trechos" nas transcrições das
conversas feitas pela Folha.
As observações de Otoch são feitas com base nas transcrições das
fitas entregues pela Folha à Unicamp em comparação ao que foi
publicado no jornal.
Para entender as diferenças nas
transcrições, o primeiro fato a ser
notado é que a Folha não entregou
as fitas originais para a Unicamp.
Isso foi amplamente noticiado pelo jornal.
Foram selecionados e regravados os trechos mais próximos do
que o jornal transcreveu durante a
publicação das reportagens, em
maio passado.
Essas novas fitas -com trechos
das originais- é que foram periciadas pela Unicamp. Ao final da
análise, a conclusão foi que as vozes eram, de fato, de Ronivon Santiago e de João Maia.
A Folha não entregou as fitas originais para preservar a identidade
da pessoa que fez as gravações. Essa decisão foi tomada com base em
um dispositivo constitucional que
permite aos jornalistas manter o
sigilo de suas fontes.
Para preservar a identidade da
fonte, a Folha suprimiu todas as
falas do "Sr. X" nas fitas entregues
à Unicamp.
O objetivo da Folha ao fazer essa
coletânea de trechos gravados e
entregar para a Unicamp foi o seguinte: provar que os diálogos
existiram e que as vozes nas gravações eram as de Ronivon Santiago
e de João Maia -o que foi atestado
pelo laboratório da universidade.
As diferenças apontadas por
Otoch são decorrência da necessária edição que a Folha fez para, entre outros motivos, preservar a
identidade de pessoas que são citadas de forma dúbia nas fitas.
Há ministros e parlamentares
mencionados de forma ambígua
por Ronivon Santiago e por João
Maia. Assim como algumas declarações dos então parlamentares
são entrecortadas por observações
de caráter pessoal, que não são de
interesse público nem jornalístico.
Isso foi suprimido ou condensado.
Muitas vezes, as fitas entregues à
Unicamp não contêm frases que
estão nas gravações originais. Por
exemplo, partes do diálogo com
vozes sobrepostas, que permitiriam a identificação do "Sr. X".
Ou trechos dos quais a Folha teve
de condensar várias frases para dar
inteligibilidade ao material.
Também ocorreram casos em
que a Folha enviou para Unicamp
trechos inaudíveis da fita. E que
por isso não haviam sido transcritos no jornal. Os laboratórios da
universidade conseguiram melhorar a qualidade do material e incluíram frases ainda inéditas para
o público no laudo pericial.
Um caso de frase não publicada
pela Folha que foi identificada pela
Unicamp é a a seguinte: "...falou
ontem para a Célia na minha frente", trecho citado pelo deputado
Otoch como uma omissão deliberada da Folha. Na realidade, esse
trecho é incompreensível se ouvido em um gravador comum. O deputado chega a insinuar que a Folha trocou a frase para "ele disse
que pegou o dele". Esse trecho
consta das fitas originais.
Entretanto, em nenhum desses
casos -seja de uma frase nova no
laudo da Unicamp ou de um trecho apenas presente na transcrição da Folha- fica prejudicado o
conteúdo básico do material: os
dois então deputados contam que
venderam seus votos a favor da
emenda da reeleição.
Toda essa explicação estava disponível para o deputado Nelson
Otoch durante o período de redação de seu relatório. O jornalista
Fernando Rodrigues, autor das reportagens, explicou esse procedimento pessoalmente ao parlamentar durante o seu depoimento na
CCJ, em junho. Além disso, a Folha publicou vários textos explicando qual havia sido o procedimento da reportagem, como, por
exemplo, já no dia 13 de maio,
quando o caso foi revelado.
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