São Paulo, quinta, 9 de outubro de 1997.



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Entenda as divergências apontadas pelo relator

da Sucursal de Brasília

O deputado Nelson Otoch (PSDB-CE) faz duas observações críticas, em seu relatório votado ontem, sobre as transcrições dos diálogos entre o "Sr. X" e os ex-deputados Ronivon Santiago e João Maia (ambos ex-PFL-AC):
1) que há trechos ou palavras que aparecem na Folha e não estão nas fitas entregues para perícia na Unicamp e vice-versa;
2) que alguns dos trechos em branco (sem gravação) nas fitas entregues à Unicamp não correspondem ao tempo necessário para a leitura das perguntas do "Sr. X".
Otoch classifica tudo isso de "omissões, alterações e inserções de trechos" nas transcrições das conversas feitas pela Folha.
As observações de Otoch são feitas com base nas transcrições das fitas entregues pela Folha à Unicamp em comparação ao que foi publicado no jornal.
Para entender as diferenças nas transcrições, o primeiro fato a ser notado é que a Folha não entregou as fitas originais para a Unicamp. Isso foi amplamente noticiado pelo jornal.
Foram selecionados e regravados os trechos mais próximos do que o jornal transcreveu durante a publicação das reportagens, em maio passado.
Essas novas fitas -com trechos das originais- é que foram periciadas pela Unicamp. Ao final da análise, a conclusão foi que as vozes eram, de fato, de Ronivon Santiago e de João Maia.
A Folha não entregou as fitas originais para preservar a identidade da pessoa que fez as gravações. Essa decisão foi tomada com base em um dispositivo constitucional que permite aos jornalistas manter o sigilo de suas fontes.
Para preservar a identidade da fonte, a Folha suprimiu todas as falas do "Sr. X" nas fitas entregues à Unicamp.
O objetivo da Folha ao fazer essa coletânea de trechos gravados e entregar para a Unicamp foi o seguinte: provar que os diálogos existiram e que as vozes nas gravações eram as de Ronivon Santiago e de João Maia -o que foi atestado pelo laboratório da universidade.
As diferenças apontadas por Otoch são decorrência da necessária edição que a Folha fez para, entre outros motivos, preservar a identidade de pessoas que são citadas de forma dúbia nas fitas.
Há ministros e parlamentares mencionados de forma ambígua por Ronivon Santiago e por João Maia. Assim como algumas declarações dos então parlamentares são entrecortadas por observações de caráter pessoal, que não são de interesse público nem jornalístico. Isso foi suprimido ou condensado.
Muitas vezes, as fitas entregues à Unicamp não contêm frases que estão nas gravações originais. Por exemplo, partes do diálogo com vozes sobrepostas, que permitiriam a identificação do "Sr. X". Ou trechos dos quais a Folha teve de condensar várias frases para dar inteligibilidade ao material.
Também ocorreram casos em que a Folha enviou para Unicamp trechos inaudíveis da fita. E que por isso não haviam sido transcritos no jornal. Os laboratórios da universidade conseguiram melhorar a qualidade do material e incluíram frases ainda inéditas para o público no laudo pericial.
Um caso de frase não publicada pela Folha que foi identificada pela Unicamp é a a seguinte: "...falou ontem para a Célia na minha frente", trecho citado pelo deputado Otoch como uma omissão deliberada da Folha. Na realidade, esse trecho é incompreensível se ouvido em um gravador comum. O deputado chega a insinuar que a Folha trocou a frase para "ele disse que pegou o dele". Esse trecho consta das fitas originais.
Entretanto, em nenhum desses casos -seja de uma frase nova no laudo da Unicamp ou de um trecho apenas presente na transcrição da Folha- fica prejudicado o conteúdo básico do material: os dois então deputados contam que venderam seus votos a favor da emenda da reeleição.
Toda essa explicação estava disponível para o deputado Nelson Otoch durante o período de redação de seu relatório. O jornalista Fernando Rodrigues, autor das reportagens, explicou esse procedimento pessoalmente ao parlamentar durante o seu depoimento na CCJ, em junho. Além disso, a Folha publicou vários textos explicando qual havia sido o procedimento da reportagem, como, por exemplo, já no dia 13 de maio, quando o caso foi revelado.



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