|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO
Presidente afirma que não fará abertura da economia sem levar em conta as empresas
Setor produtivo será ouvido, diz FHC
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que seu
governo não fará nenhuma abertura adicional da economia brasileira sem levar "em consideração,
em profundidade, os interesses
do setor produtivo brasileiro".
FHC disse que a tendência é sim
a de uma maior abertura, mas "o
caminho para chegar lá tem que
ser um caminho que leve em consideração o nosso interesse".
O presidente voltou a criticar a
política de abertura adotada pelo
governo Fernando Collor, a partir
de 1990, que considera "precipitada". "Você não pode pedir ao Brasil que faça o que foi feito e que
achei precipitado: de repente, cair
tarifas, porque você vai ter desemprego, vai ter problemas. Há
aí, portanto, toda uma navegação
que não é fácil", afirmou FHC.
As declarações do presidente foram feitas ao término de uma visita de hora e meia ao Museu Kröller-Müller, encravado no Parque
Nacional Hoge Veluwe, a 110 quilômetros de Haia, a capital holandesa, onde FHC desembarcou por
volta de 12h (8h em Brasília).
O presidente foi cobrado pela
Folha sobre uma aparente contradição entre o presidente do
Banco Central, Armínio Fraga,
que propõe, em entrevista publicada ontem pelo "Estado de S.
Paulo", uma abertura ainda
maior, à la chilena, e o chanceler
Luiz Felipe Lampreia, que repete
sempre que a economia brasileira
"não está preparada para um segundo choque liberal" (o primeiro foi o do governo Collor).
Tendência
O presidente insistiu em que a
tendência é, de fato, a apontada
por Armínio, mas com todas as
restrições e cuidados que FHC
apontou.
No caso específico do entendimento com o Chile, diz o presidente, "o que foi proposto é um
cronograma de tal maneira que
pudéssemos avançar na integração do Chile ao Mercosul".
O Chile cobra tarifas de importação de, no máximo, 9%, ao passo que a tarifa média brasileira é
de 14%, embora o presidente diga
que a efetivamente praticada "deva ser da ordem de 7% ou 8%".
Mas o próprio FHC lembra que
há alguns setores no Brasil em que
as tarifas vão até 35%, como no
caso dos automóveis, "o que não
se pode deixar à margem em uma
negociação". O chanceler Lampreia, que acompanha o presidente na visita, disse que há uma
"diferença conceitual" entre ele e
Armínio Fraga.
Juros
Lampreia acha que o Brasil não
pode abrir mais sua economia enquanto a taxa de juros não for
compatível com as internacionais
e enquanto não houver uma reforma tributária, que desonere as
exportações. O chanceler diz que
uma abertura sem tais precondições levaria os produtores nacionais ao "suicídio".
A Folha apurou que há mais
que uma diferença conceitual entre o pensamento da equipe econômica, da qual Armínio Fraga
faz parte, e o de outros setores do
governo.
O presidente do BC prega uma
rápida e unilateral abertura da
economia, antes mesmo de que
comece para valer a negociação
com os Estados Unidos em torno
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas, que englobará os
34 países americanos, exceto Cuba). O Itamaraty, ao contrário, entende que uma abertura adicional
é uma carta que deve ser guardada para as futuras negociações.
Fernando Henrique também
tocou no tema Alca e em seu contraponto, as negociações com a
União Européia para a formação
de uma zona de livre comércio
com o Mercosul.
"Vi nos jornais que o presidente
da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo voltou dos
EUA dizendo que acredita que o
Brasil precisa se preparar para a
Alca porque é uma coisa que virá.
É natural, então, que a gente tenha
a preocupação de, o mais depressa possível, ter um acordo com a
Europa, porque teríamos como
balancear o nosso relacionamento com a Alca", afirmou FHC.
Traduzindo: o governo brasileiro quer ter abertas as duas portas,
a de um acordo com a Europa e a
de um acordo com os EUA, em
vez de se ver empurrado para um
entendimento com os Estados
Unidos em que o peso norte-americano seria esmagador.
Barreiras
Mas o acordo com a Europa
passa pela derrubada das barreiras às importações de produtos
agrícolas, que FHC chamou ontem de "escandalosas".
É nisso que o presidente bateu
na Alemanha, promete fazer de
novo na Holanda e, mais para o
fim do mês, na Espanha, quando
de sua viagem para receber prêmio concedido pelo governo espanhol.
Mas o próprio FHC diz que o
grande obstáculo para a abertura
agrícola européia não é nenhum
desses três países, mas a França. O
presidente admite: "É claro que,
antes das eleições francesas, é difícil que você tenha alguma abertura ampla por parte da França".
Texto Anterior: Artes Gráficas: Folha faz prova para treinamento Próximo Texto: Para FHC, ACM é questão menor Índice
|