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Medo de invasão aumenta no Natal
DA ENVIADA ESPECIAL
À medida em que se aproxima o
final do ano, cresce a tensão na
fronteira do Brasil com a Colômbia em relação à possibilidade de
ataques de guerrilheiros das Farc.
Nas noites de Natal e de passagem
de ano, os soldados brasileiros e
colombianos que guarnecem os
dois lados da fronteira não podem se afastar das armas, nem
mesmo na hora da ceia.
O clima de tensão dos fins de
ano foi relatado à Folha por civis
que moram junto aos postos de
controle de fronteira da Vila Ipiranga (Brasil) e da Vila Tarapacá
(Colômbia).
Os dois postos são cercados por
selva e água e ficam na margem de
um mesmo rio, que recebe o nome de Putumaio, no país vizinho,
e de Içá, em território nacional. A
distância entre um e outro é de 15
minutos, por barco.
"Todo mês de dezembro o clima fica tenso, com muitos boatos
sobre ataques guerrilheiros. O
Exército envia reforços de Tabatinga e os soldados carregam as
armas nas costas", relata Irazer
Alves Batista, 38, diretor da Escola
Estadual Presidente Vargas, de
Vila Ipiranga.
Pelo menos do lado brasileiro,
segundo ele, as ameaças nunca se
confirmaram. O diretor não acredita que traficantes e guerrilheiros
possam se esconder na selva para
fugir do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico.
"Eles não teriam como sobreviver por muito tempo na floresta,
que, nesta região, é quase toda sobre terreno alagado. Além disso,
não há comunidades por perto. A
nossa proteção é o isolamento",
afirma Batista. A cidade mais próxima de Vila Ipiranga é Santo Antônio do Içá, que fica a 36 horas de
viagem por barco.
O Brasil tem 1.644 km de fronteira com a Colômbia, mas o acesso só é possível por avião ou pelos
rios que cortam verticalmente a
divisa dos dois territórios.
O 2º Batalhão Especial de Fronteira fiscaliza os barcos que entram no rio Içá, vindos da Colômbia e do Peru, e faz inspeções periódicas pela floresta. Além disso,
presta assistência médica às populações ribeirinhas.
Trincheiras colombianas
Quem sai do Brasil pelo rio Içá e
entra na Colômbia se surpreende
com o cenário de guerra do outro
lado da fronteira.
O Exército colombiano construiu suas instalações no alto de
um morro e cercou as construções de trincheiras e casamatas
(construções subterrâneas onde
os soldados se escondem armados de fuzis e metralhadoras).
Os prédios ocupados pelos militares e os tanques de combustível
têm pintura camuflada.
Na entrada, há um painel com a
figura de um soldado e os seguintes dizeres: "La infanteria es el
hombre y esta no desaparecerá
hasta que Dios la borre de la faz de
la Tierra" (a infantaria é o homem
e não desparecerá até que Deus a
elimine).
Também há outro cartaz com
fotos e nomes dos dirigentes das
Farc sob o título: inimigos do país.
O pelotão é comandado pelo comandante Huiza, que afirma não
ter conhecimento da presença de
guerrilheiros na região. "Estamos
tranquilos aqui", declara.
Junto ao posto militar fica a comunidade de Tarapacá, onde vivem 1.500 civis. A vila é administrada pelo corregedor Luiz Fernando Alfonso. Segundo ele, 25%
dos moradores são brasileiros.
A exemplo de Vila Ipiranga, Tarapacá é isolada. A comunidade
mais próxima é Puerto Arica, a 12
horas de viagem por barco.
Luiz Alfonso confirma que os
fins de ano são de grande tensão
na área e que os soldados não folgam no dia de Natal, temendo um
ataque de guerrilheiros.
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