São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Medo de invasão aumenta no Natal

DA ENVIADA ESPECIAL

À medida em que se aproxima o final do ano, cresce a tensão na fronteira do Brasil com a Colômbia em relação à possibilidade de ataques de guerrilheiros das Farc. Nas noites de Natal e de passagem de ano, os soldados brasileiros e colombianos que guarnecem os dois lados da fronteira não podem se afastar das armas, nem mesmo na hora da ceia.
O clima de tensão dos fins de ano foi relatado à Folha por civis que moram junto aos postos de controle de fronteira da Vila Ipiranga (Brasil) e da Vila Tarapacá (Colômbia).
Os dois postos são cercados por selva e água e ficam na margem de um mesmo rio, que recebe o nome de Putumaio, no país vizinho, e de Içá, em território nacional. A distância entre um e outro é de 15 minutos, por barco.
"Todo mês de dezembro o clima fica tenso, com muitos boatos sobre ataques guerrilheiros. O Exército envia reforços de Tabatinga e os soldados carregam as armas nas costas", relata Irazer Alves Batista, 38, diretor da Escola Estadual Presidente Vargas, de Vila Ipiranga.
Pelo menos do lado brasileiro, segundo ele, as ameaças nunca se confirmaram. O diretor não acredita que traficantes e guerrilheiros possam se esconder na selva para fugir do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico.
"Eles não teriam como sobreviver por muito tempo na floresta, que, nesta região, é quase toda sobre terreno alagado. Além disso, não há comunidades por perto. A nossa proteção é o isolamento", afirma Batista. A cidade mais próxima de Vila Ipiranga é Santo Antônio do Içá, que fica a 36 horas de viagem por barco.
O Brasil tem 1.644 km de fronteira com a Colômbia, mas o acesso só é possível por avião ou pelos rios que cortam verticalmente a divisa dos dois territórios.
O 2º Batalhão Especial de Fronteira fiscaliza os barcos que entram no rio Içá, vindos da Colômbia e do Peru, e faz inspeções periódicas pela floresta. Além disso, presta assistência médica às populações ribeirinhas.

Trincheiras colombianas
Quem sai do Brasil pelo rio Içá e entra na Colômbia se surpreende com o cenário de guerra do outro lado da fronteira.
O Exército colombiano construiu suas instalações no alto de um morro e cercou as construções de trincheiras e casamatas (construções subterrâneas onde os soldados se escondem armados de fuzis e metralhadoras).
Os prédios ocupados pelos militares e os tanques de combustível têm pintura camuflada.
Na entrada, há um painel com a figura de um soldado e os seguintes dizeres: "La infanteria es el hombre y esta no desaparecerá hasta que Dios la borre de la faz de la Tierra" (a infantaria é o homem e não desparecerá até que Deus a elimine).
Também há outro cartaz com fotos e nomes dos dirigentes das Farc sob o título: inimigos do país.
O pelotão é comandado pelo comandante Huiza, que afirma não ter conhecimento da presença de guerrilheiros na região. "Estamos tranquilos aqui", declara.
Junto ao posto militar fica a comunidade de Tarapacá, onde vivem 1.500 civis. A vila é administrada pelo corregedor Luiz Fernando Alfonso. Segundo ele, 25% dos moradores são brasileiros.
A exemplo de Vila Ipiranga, Tarapacá é isolada. A comunidade mais próxima é Puerto Arica, a 12 horas de viagem por barco.
Luiz Alfonso confirma que os fins de ano são de grande tensão na área e que os soldados não folgam no dia de Natal, temendo um ataque de guerrilheiros.



Texto Anterior: Outro lado: Guerrilha nega envolvimento com narcotráfico
Próximo Texto: Investigação: Fita sugere que MetroRED pagou suborno
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.