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INVESTIGAÇÃO
Em gravação do FBI, brasileiro preso nos EUA diz que receberia mais US$ 3 mi por corrupção na Prefeitura de SP
Fita sugere que MetroRED pagou suborno
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A MetroRED, empresa do grupo norte-americano Fidelity, pagou US$ 1,5 milhão pela corrupção de autoridades da Prefeitura
de São Paulo em 98, diz o empresário preso em Miami José Maria
Teixeira Ferraz em gravação do
FBI (polícia federal dos EUA).
Obtida pela Folha, a gravação
mostra o brasileiro preso relatando a um informante do FBI como
foi a operação na qual autoridades foram subornadas para que
dessem autorização à MetroRED
para instalação de cabos de fibras
ópticas em São Paulo.
Segundo as gravações, a MetroRED prometeu ainda pagar pelo
menos mais US$ 3 milhões a Ferraz e a seu sócio Oscar de Barros.
Os dois brasileiros estão presos
em Miami sob acusação de envolvimento com o narcotráfico.
A Fidelity, administradora do
maior fundo de investimentos do
mundo e dona da MetroRED, é
investigada por promotores de
Nova York devido à ação de sua
controlada no Brasil. O caso foi
revelado pela Folha em abril.
De acordo com as gravações, os
dois empresários receberam apenas US$ 1,5 milhão do prometido
porque, depois de descobrir indícios de corrupção, a sede da Fidelity nos EUA mandou demitir três
diretores da MetroRED no Brasil
e interrompeu os pagamentos.
O informante do FBI, o ex-doleiro Jamil Degan, que fez a gravação em seu escritório em Nova
York, explicou a promotores dos
EUA que os "mil e quinhentos" a
que se refere na fita são US$ 1,5
milhão. "Para despistar, usei mil
em vez de milhão", disse Degan à
Folha. Logo depois de Degan falar
"mil e quinhentos", Ferraz afirma
ainda faltar "US$ 3 milhões".
A MetroRED constrói redes de
fibras ópticas e fornece serviços
de telecomunicações a empresas.
Em 98, começou a funcionar em
São Paulo depois de vencer resistências do Convias, departamento da Secretaria de Vias Públicas.
Nas gravações, Ferraz reclama
de ele e de o sócio não terem recebido US$ 3 milhões. O FBI investiga ainda o valor total do negócio,
que poderia chegar a US$ 8 milhões se concretizado.
"Nós fizemos dinheiro com esse
caso", disse Ferraz na gravação,
referindo-se à MetroRED. "Mas o
que aconteceu é que o cara deve
US$ 3 milhões ao escritório. O
que aconteceu é que ele foi demitido porque descobriram algumas
coisas que ele fez e o demitiram."
Ferraz conta ainda que consultou um advogado, aventando a
possibilidade de processar a Fidelity para receber o que a MetroRED prometera. Segundo ele, o
advogado disse que ele poderia
tentar um processo no Brasil, mas
não nos EUA. "Se eu tivesse um
pequeno pedaço de papel que me
permitisse processar a Fidelity
aqui", lamenta Ferraz.
O nome de Ferraz e de Barros
veio a público pela primeira vez
em 1998, quando tentaram lucrar
com a venda do dossiê Caribe. A
Folha revelou ontem que eles negociavam os papéis contra o presidente Fernando Henrique Cardoso e tucanos.
O dossiê é um conjunto de papéis sem autenticidade comprovada sobre uma suposta conta secreta de FHC, do ministro José
Serra (Saúde), do governador
Mário Covas (SP) e de Sérgio
Motta, ministro das Comunicações que morreu em 1998.
Além do dossiê Caribe, outras
gravações do FBI, também em
poder da Folha, revelam ainda a
ligação de Ferraz e de Barros com
o narcotráfico e mostram que ambos montaram em Miami uma fábrica de crimes com conexões em
Brasília e em São Paulo.
O FBI investiga um esquema
que se especializou em lavar dinheiro para políticos brasileiros,
intermediar corrupção empresarial, falsificar documentos e, nos
últimos dois anos, envolveu-se
com o narcotráfico.
Pelas gravações, Ferraz menciona ter conseguido o contrato com
a MetroRED pela influência de
um "pastor", que seria amigo de
um dos diretores da empresa.
Segundo o FBI, esse pastor é
Caio Fábio d'Araújo Filho, o mesmo evangélico que, a pedido de
Barros e de Ferraz, tentou vender
o dossiê Caribe em 1998 a Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), então
candidato a presidente, e a outros
políticos de oposição a FHC.
Segundo as gravações do FBI,
ao explicar por que o negócio com
a MetroRED não havia sido concluído, Ferraz disse: "Não funcionou porque o pastor teve problemas e um cara perdeu seu trabalho. O amigo do pastor. O negócio
era o seguinte: o cara era presidente de uma multinacional. Ele
queria usar cabos na Prefeitura de
São Paulo".
O FBI identificou Jorge Luiz
Frederich Vital, ex-diretor da MetroRED, como sendo o amigo do
pastor. O nome Vital e do pastor
constam de intimação do FBI obtida pela Folha.
Desde novembro de 1999, baseado em relatório do FBI e de informações entregues extra-oficialmente por autoridades brasileiras, um grupo de promotores
de Nova York reuniu documentos, impressões digitais, extratos
bancários e fotografias indicando
que a empresa pagou propina a
fim de obter autorização para instalar cabos em São Paulo.
Os documentos apreendidos
pelo FBI em janeiro estavam no
escritório de Barros e de Ferraz.
Além de Barros e de Ferraz, o FBI
investiga ainda, no caso MetroRED, Flávio Maluf, filho do ex-governador e candidato à Prefeitura
de São Paulo, Paulo Maluf.
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