São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

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"Artilharia" malufista será pesada

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Salim Maluf, 69, nega e vai negar de pés juntos até a morte, mas ele não esperava disputar "de verdade" a Prefeitura de São Paulo. Festeja sua vitória no primeiro turno com um misto de surpresa e alegria incontida e dedica-se, agora exclusivamente, ao seu esporte predileto: bater no PT.
E a "artilharia" contra a candidata Marta Suplicy será pesada. Frase entreouvida no eixo rua Costa Rica (onde Maluf mora) e avenida Europa (onde se localiza seu comitê): quantos anos Marta ficou no programa da Globo, falando de sexo oral e sexo anal?
Era uma referência à participação da então psicóloga no programa "TV Mulher", da Rede Globo. Entre 1980 e 1986 Marta tinha um quadro, "Comportamento Sexual", em tratava de temas delicados, entre eles sexo anal e oral.
Já que conseguiu mais que limpar sua imagem dos respingos da administração Pitta e tem um segundo turno pela frente, Maluf resolveu abandonar a imagem "light" e partir para o ataque.
A nova equipe de marqueteiros de Maluf (o jornalista José Maria Braga, o publicitário Márcio Pittliuk e o diretor de TV André Madri), sob as ordens do candidato, de seu filho Flávio e do genro Maurílio Cury (caixa da campanha), vai pegar pesado, muito além de apenas apontar a inexperiência administrativa de Marta.

Bode expiatório
Nem assessores próximos de Maluf escondem que sabiam que ele não queria ser prefeito, mas sim resgatar parte de seu prestígio, candidatar-se ao governo do Estado em 2002 ou, numa última e sentimental tentativa, voltar a concorrer à Presidência.
Mas houve um fato no primeiro turno que mudou o rumo das coisas: a idéia de Nelson Biondi, marqueteiro afastado da campanha, de fazer Maluf aparecer como paladino contra a violência.
Foi um "bode expiatório" lançado só para gerar polêmica, chamar atenção, fazer barulho. No entanto, a coisa pegou: todo mundo discutiu o assunto, fosse para dizer que também iria resolver o problema (Tuma) ou para mostrar que um prefeito pouco pode fazer quanto à questão (Marta).
Não será possível quantificar, mas o lance foi decisivo para a "vitória esplendorosa" que, segundo seus próximos, Maluf alcançou.
Vitória, diga-se, que não trouxe nada de "gordura", ou seja, deveu-se aos votos daqueles que, se existisse, vestiriam uma camiseta com os dizeres: "100% malufista".
Agora, a questão é como seduzir quem não é "100% Marta"?
Conta feita por um ex-assessor de Maluf prevê o seguinte: apenas com a migração dos eleitores conservadores de Tuma, Alckmin e de candidatos nanicos, Maluf chegaria logo a algo em torno dos 35% das intenções de voto. (De acordo com pesquisa Datafolha publicada ontem, ele está com 28%.) Teria, então, que arrancar pontos percentuais de Marta para pelo menos empatar o jogo.
Como fazer isso?
Mudando a campanha e partindo para o ataque, decidiu o estado-maior malufista, que hoje não conta mais com Nelson Biondi.
O motivo "oficial" da saída de Biondi é financeiro. A campanha está sem fundos (Maluf diz que está, "no buraco", devendo dinheiro) e ele preferiu trabalhar com funcionários de sua produtora, Grupo 11, da qual Madri é funcionário, e contratar o jornalista e o publicitário.
Mas há outras versões para a saída de Biondi. São elas:
1) O publicitário deliberadamente pediu muito dinheiro (cerca de R$ 5 milhões) para não ser obrigado a encarar um segundo turno desgastante;
2) O publicitário bateu de frente com Flávio Maluf e Maurílio Cury ao cobrar dinheiro que ele próprio havia investido na campanha e ter encontrado resistências;
3) O publicitário foi afastado por Flávio e Maurílio porque não estaria disposto a partir para a pancadaria na campanha da TV.
Pancadaria que vai resgatar programas de Marta sobre sexo para usá-los contra ela ou ainda levantar dúvidas sobre sua vida privada. A reportagem da Folha ouviu de diversos malufistas que haveria uma lista de situações embaraçosas para serem exploradas.
O fato é que a Maluf está num caminho sem volta, empolgadíssimo com a exposição pública, com a possibilidade de bater em Marta e no PT e vai fazer o que for preciso para tentar derrotá-los.
Já fala em reeleição em 2004 e afirma que o sonho de ser presidente da República "já passou".
Mas Paulo Maluf é Paulo Maluf. Se, mesmo com a "artilharia pesada", perder para Marta Suplicy, terá pronto um discurso vitorioso com o qual pretende "entrar para a história".


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