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"Artilharia" malufista será pesada
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Salim Maluf, 69, nega e vai
negar de pés juntos até a morte,
mas ele não esperava disputar "de
verdade" a Prefeitura de São Paulo. Festeja sua vitória no primeiro
turno com um misto de surpresa
e alegria incontida e dedica-se,
agora exclusivamente, ao seu esporte predileto: bater no PT.
E a "artilharia" contra a candidata Marta Suplicy será pesada.
Frase entreouvida no eixo rua
Costa Rica (onde Maluf mora) e
avenida Europa (onde se localiza
seu comitê): quantos anos Marta
ficou no programa da Globo, falando de sexo oral e sexo anal?
Era uma referência à participação da então psicóloga no programa "TV Mulher", da Rede Globo.
Entre 1980 e 1986 Marta tinha um
quadro, "Comportamento Sexual", em tratava de temas delicados, entre eles sexo anal e oral.
Já que conseguiu mais que limpar sua imagem dos respingos da
administração Pitta e tem um segundo turno pela frente, Maluf resolveu abandonar a imagem
"light" e partir para o ataque.
A nova equipe de marqueteiros
de Maluf (o jornalista José Maria
Braga, o publicitário Márcio Pittliuk e o diretor de TV André Madri), sob as ordens do candidato,
de seu filho Flávio e do genro
Maurílio Cury (caixa da campanha), vai pegar pesado, muito
além de apenas apontar a inexperiência administrativa de Marta.
Bode expiatório
Nem assessores próximos de
Maluf escondem que sabiam que
ele não queria ser prefeito, mas
sim resgatar parte de seu prestígio, candidatar-se ao governo do
Estado em 2002 ou, numa última
e sentimental tentativa, voltar a
concorrer à Presidência.
Mas houve um fato no primeiro
turno que mudou o rumo das coisas: a idéia de Nelson Biondi, marqueteiro afastado da campanha,
de fazer Maluf aparecer como paladino contra a violência.
Foi um "bode expiatório" lançado só para gerar polêmica, chamar atenção, fazer barulho. No
entanto, a coisa pegou: todo mundo discutiu o assunto, fosse para
dizer que também iria resolver o
problema (Tuma) ou para mostrar que um prefeito pouco pode
fazer quanto à questão (Marta).
Não será possível quantificar,
mas o lance foi decisivo para a "vitória esplendorosa" que, segundo
seus próximos, Maluf alcançou.
Vitória, diga-se, que não trouxe
nada de "gordura", ou seja, deveu-se aos votos daqueles que, se
existisse, vestiriam uma camiseta
com os dizeres: "100% malufista".
Agora, a questão é como seduzir
quem não é "100% Marta"?
Conta feita por um ex-assessor
de Maluf prevê o seguinte: apenas
com a migração dos eleitores conservadores de Tuma, Alckmin e
de candidatos nanicos, Maluf chegaria logo a algo em torno dos
35% das intenções de voto. (De
acordo com pesquisa Datafolha
publicada ontem, ele está com
28%.) Teria, então, que arrancar
pontos percentuais de Marta para
pelo menos empatar o jogo.
Como fazer isso?
Mudando a campanha e partindo para o ataque, decidiu o estado-maior malufista, que hoje não
conta mais com Nelson Biondi.
O motivo "oficial" da saída de
Biondi é financeiro. A campanha
está sem fundos (Maluf diz que
está, "no buraco", devendo dinheiro) e ele preferiu trabalhar
com funcionários de sua produtora, Grupo 11, da qual Madri é
funcionário, e contratar o jornalista e o publicitário.
Mas há outras versões para a
saída de Biondi. São elas:
1) O publicitário deliberadamente pediu muito dinheiro (cerca de R$ 5 milhões) para não ser
obrigado a encarar um segundo
turno desgastante;
2) O publicitário bateu de frente
com Flávio Maluf e Maurílio Cury
ao cobrar dinheiro que ele próprio havia investido na campanha
e ter encontrado resistências;
3) O publicitário foi afastado
por Flávio e Maurílio porque não
estaria disposto a partir para a
pancadaria na campanha da TV.
Pancadaria que vai resgatar
programas de Marta sobre sexo
para usá-los contra ela ou ainda
levantar dúvidas sobre sua vida
privada. A reportagem da Folha
ouviu de diversos malufistas que
haveria uma lista de situações embaraçosas para serem exploradas.
O fato é que a Maluf está num
caminho sem volta, empolgadíssimo com a exposição pública,
com a possibilidade de bater em
Marta e no PT e vai fazer o que for
preciso para tentar derrotá-los.
Já fala em reeleição em 2004 e
afirma que o sonho de ser presidente da República "já passou".
Mas Paulo Maluf é Paulo Maluf.
Se, mesmo com a "artilharia pesada", perder para Marta Suplicy,
terá pronto um discurso vitorioso
com o qual pretende "entrar para
a história".
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