São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

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MARKETING
Partido começa a usar as preferências dos eleitores como tática decisiva para orientar o comportamento dos candidatos de acordo com o perfil do público-alvo em questão

Pesquisas fazem PT adaptar discursos

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT se rendeu às pesquisas. Tática que vem dando certo na política desde a vitoriosa campanha de Fernando Collor em 1989, as pesquisas de opinião orientaram pela primeira vez o comportamento dos candidatos do PT.
Elas foram fundamentais para tirar a cor vermelha das propagandas petistas em Curitiba, Londrina, Maringá, Ribeirão Preto e Santo André. Reforçaram o símbolo da estrela em Aracaju. Deram o tom dos programas de TV no Recife, Goiânia e São Paulo. Decidiram a agenda de visitas de Luiz Inácio Lula da Silva em 19 Estados nos últimos três meses.
"Essa campanha municipal foi planejada. As pesquisas não alteraram o discurso dos candidatos, mas ajudaram a entender quais eram os seus pontos fracos e fortes", disse o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, o setor que centralizou o marketing petista.
Acostumado a realizar as suas campanhas com base apenas nos militantes de bandeiras vermelhas e broches de estrela, o PT se profissionalizou. A direção nacional gastou cerca de R$ 600 mil apenas em pesquisas, jingles, comerciais de TV e fitas de CD para reprodução em rádios.
Em São Paulo, o programa de TV de Marta Suplicy foi monitorado diariamente por pesquisas. Foram os levantamentos que indicaram que a candidata não deveria responder aos ataques dos adversários.
Em Curitiba, as pesquisas mostraram que a imagem do PT estava associada à desordem e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Por isso, propositalmente, o visual da campanha do deputado Angelo Vanhoni foi feito à semelhança dos comerciais do governador Jaime Lerner (PFL), que explora a imagem do sujeito ordeiro que gosta da cidade. A bandeira vermelha que lembra o MST foi aposentada e seu lugar foi tomado por outra, amarela e com uma estrela diferente da que simboliza o PT.
O amarelo foi escolhido por ser, na avaliação dos marqueteiros do PT, a cor fixada mais facilmente. Vanhoni, ex-militante de uma tendência trotskista, fez um discurso ameno. Resultado: o PT, que tradicionalmente tinha menos de 15% dos votos na cidade, passou dos 35% e Vanhoni lidera, indicou ontem o Datafolha.
A suavização do discurso recebeu críticas. "O PT tem que voltar as suas origens", disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que anunciou apoio a Vanhoni. Mas não adiantou. "Não vamos mudar uma vírgula na nossa campanha", disse Jorge Samek, coordenador da campanha do PT.
No Paraná, as pesquisas também determinaram o discurso do candidato petista Nedson Micheleti. "Houve um momento que elas mostravam que o candidato do PSDB era considerado fraco e, por isso, reforçamos a imagem de corajoso do Nedson. Depois, investimos na sua honestidade", contou Cunha.
A agenda dos líderes do PT também dependeu dos planos da direção nacional. Em Imperatriz (MA), a presença de Lula nas semanas anteriores à eleição foi considerada decisiva para a vitória de Jomar Fernandes. Em Goiânia, as pesquisas mostravam que um dos defeitos apontados na candidatura de Pedro Wilson era a falta de experiência. A solução foi enviar para a cidade o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, que gravou depoimentos sobre as administrações petistas.
No Recife, as pesquisas indicaram ao PT que deveria explorar as diferenças de temperamento entre o intempestivo prefeito Roberto Magalhães (PFL) e o introspectivo deputado estadual petista João Paulo, adepto da meditação transcendental e da comida macrobiótica. Franco favorito à reeleição, Magalhães trocou insultos no final da campanha com militantes petistas. A imagem foi usada pelos adversários. A campanha petista tentará reforçar a imagem de equilibrado de João Paulo.
O PT também distribui mais de 1.350 CDs e fitas de vídeo com discursos de Lula e os deputados José Dirceu, Aloizio Mercadante e José Genuíno para serem usadas nos programas de rádio e TV. A direção nacional também norteou a forma como a propaganda petista deveria tratar temas da campanha municipal, como os programas de renda mínima e bolsa-escola.



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