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MARKETING
Partido começa a usar as preferências dos eleitores como tática decisiva para
orientar o comportamento dos candidatos de acordo com o perfil do público-alvo em questão
Pesquisas fazem PT adaptar discursos
THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT se rendeu às pesquisas. Tática que vem dando certo na política desde a vitoriosa campanha
de Fernando Collor em 1989, as
pesquisas de opinião orientaram
pela primeira vez o comportamento dos candidatos do PT.
Elas foram fundamentais para
tirar a cor vermelha das propagandas petistas em Curitiba, Londrina, Maringá, Ribeirão Preto e
Santo André. Reforçaram o símbolo da estrela em Aracaju. Deram o tom dos programas de TV
no Recife, Goiânia e São Paulo.
Decidiram a agenda de visitas de
Luiz Inácio Lula da Silva em 19 Estados nos últimos três meses.
"Essa campanha municipal foi
planejada. As pesquisas não alteraram o discurso dos candidatos,
mas ajudaram a entender quais
eram os seus pontos fracos e fortes", disse o deputado federal João
Paulo Cunha (PT-SP), coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, o setor que centralizou o marketing petista.
Acostumado a realizar as suas
campanhas com base apenas nos
militantes de bandeiras vermelhas e broches de estrela, o PT se
profissionalizou. A direção nacional gastou cerca de R$ 600 mil
apenas em pesquisas, jingles, comerciais de TV e fitas de CD para
reprodução em rádios.
Em São Paulo, o programa de
TV de Marta Suplicy foi monitorado diariamente por pesquisas.
Foram os levantamentos que indicaram que a candidata não deveria responder aos ataques dos
adversários.
Em Curitiba, as pesquisas mostraram que a imagem do PT estava associada à desordem e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Por isso, propositalmente, o visual da campanha
do deputado Angelo Vanhoni foi
feito à semelhança dos comerciais
do governador Jaime Lerner
(PFL), que explora a imagem do
sujeito ordeiro que gosta da cidade. A bandeira vermelha que lembra o MST foi aposentada e seu lugar foi tomado por outra, amarela
e com uma estrela diferente da
que simboliza o PT.
O amarelo foi escolhido por ser,
na avaliação dos marqueteiros do
PT, a cor fixada mais facilmente.
Vanhoni, ex-militante de uma
tendência trotskista, fez um discurso ameno. Resultado: o PT,
que tradicionalmente tinha menos de 15% dos votos na cidade,
passou dos 35% e Vanhoni lidera,
indicou ontem o Datafolha.
A suavização do discurso recebeu críticas. "O PT tem que voltar
as suas origens", disse o senador
Roberto Requião (PMDB-PR),
que anunciou apoio a Vanhoni.
Mas não adiantou. "Não vamos
mudar uma vírgula na nossa campanha", disse Jorge Samek, coordenador da campanha do PT.
No Paraná, as pesquisas também determinaram o discurso do
candidato petista Nedson Micheleti. "Houve um momento que
elas mostravam que o candidato
do PSDB era considerado fraco e,
por isso, reforçamos a imagem de
corajoso do Nedson. Depois, investimos na sua honestidade",
contou Cunha.
A agenda dos líderes do PT também dependeu dos planos da direção nacional. Em Imperatriz
(MA), a presença de Lula nas semanas anteriores à eleição foi
considerada decisiva para a vitória de Jomar Fernandes. Em Goiânia, as pesquisas mostravam que
um dos defeitos apontados na
candidatura de Pedro Wilson era
a falta de experiência. A solução
foi enviar para a cidade o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, que gravou depoimentos sobre as administrações petistas.
No Recife, as pesquisas indicaram ao PT que deveria explorar as
diferenças de temperamento entre o intempestivo prefeito Roberto Magalhães (PFL) e o introspectivo deputado estadual petista
João Paulo, adepto da meditação
transcendental e da comida macrobiótica. Franco favorito à reeleição, Magalhães trocou insultos
no final da campanha com militantes petistas. A imagem foi usada pelos adversários. A campanha
petista tentará reforçar a imagem
de equilibrado de João Paulo.
O PT também distribui mais de
1.350 CDs e fitas de vídeo com discursos de Lula e os deputados José
Dirceu, Aloizio Mercadante e José
Genuíno para serem usadas nos
programas de rádio e TV. A direção nacional também norteou a
forma como a propaganda petista
deveria tratar temas da campanha
municipal, como os programas
de renda mínima e bolsa-escola.
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