São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

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RIO
Rompimento com PDT no Estado pode afetar composições para a Presidência

PT atribui derrota à aliança de 98

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

A derrota do PT no Rio de Janeiro vai dificultar as futuras alianças que a direção nacional do partido pretenda fazer para viabilizar uma candidatura presidencial em 2002.
Os petistas fluminenses prometem resistir a novas pressões que envolvam o sacrifício do partido no Estado, evitando acordos como o feito para a eleição do governador Anthony Garotinho (PDT). O acordo foi a condição imposta por Brizola para ser o vice de Lula nas eleições de 1998.
"Sempre que possível vamos ter nossos próprios candidatos", afirma o deputado federal Jorge Bittar, que coordenou a campanha de Benedita da Silva, foi defensor da aliança com Garotinho e hoje faz uma crítica desse apoio.
"Acreditávamos que Garotinho viesse para modernizar a prática política do PDT, mas ele mostrou que seu projeto é autoritário e personalista", afirma Bittar, para quem uma das causas da derrota de Benedita foi o rompimento de um compromisso de apoio feito por Garotinho e Brizola em 1998.
O governador reconhece que o acordo para apoiar Benedita existiu, mas diz que ele foi rompido por Brizola quando o presidente do PDT resolveu lançar sua própria candidatura. Brizola sempre negou ter feito qualquer acordo.

Causas da derrota
O Rio foi o Estado em que os petistas tiveram o pior desempenho no país, ficando fora da eleição da capital e perdendo duas prefeituras no interior: Barra Mansa, onde tentavam a reeleição, e Angra dos Reis, onde pretendiam eleger o quarto prefeito consecutivo.
O deputado federal José Genoino (PT-SP) diz que o partido vai analisar a situação do Rio após as eleições do segundo turno.
"Todo mundo errou. Não tem ninguém santo nessa história", diz o deputado, fazendo referência à falta de empenho dos próprios petistas do Rio na campanha de Benedita. Para ele, o acordo com o PDT, em 1998, serviu para mostrar que o PT é um partido aberto a alianças.
Naquele ano, o PT do Rio sofreu intervenção do diretório nacional, que impôs o apoio a Garotinho contra a candidatura própria de Vladimir Palmeira, ex-deputado federal pelo Rio.
Depois de seguidos conflitos em que o governador chamou o PT de "partido da boquinha", os petistas acabaram saindo do seu governo, em abril.
Bittar, que era secretário de Planejamento, foi um dos defensores do apoio dos petistas a Garotinho e liderou o movimento para que o PT continuasse em seu governo.
"Eu continuo acreditando que as alianças são importantes, mas estou decepcionado com a experiência que tivemos aqui. Garotinho é um novo Quércia, um político que veio do interior, cresceu e depois murchou", afirma.

Discursos e apatia
Reunidos na noite de quinta-feira, cerca de 150 militantes do PT carioca discutiram uma estratégia para disputa entre Conde (PFL) e Cesar Maia (PTB), e as causas da derrota do partido.
A grande presença e os discursos inflamados contrastavam com a apatia que marcou boa parte da campanha petista no Rio.
Lula foi seis vezes ao Rio para impulsionar a campanha de Benedita, mas a candidata terminou o primeiro turno em terceiro lugar, com 22,63% dos votos válidos. Em 1996, Chico Alencar disputou a prefeitura e conseguiu 21,67%, também ficando em terceiro.
A campanha de Alencar foi lançada contra a vontade da direção nacional do PT, que defendia o apoio a Miro Teixeira (PDT). Lula só compareceu ao Rio no último comício e elogiou a decisão dos petistas em manter candidatura própria. Teixeira acabou ficando em quarto lugar na disputa.
Já naquela época, a tentativa de apoio a Teixeira era parte da estratégia para conseguir uma futura aliança com o PDT na eleição presidencial.
Os petistas do Rio vinham crescendo justamente na medida em que o brizolismo declinava. Brizola sabia disso e fez exigências que possibilitassem sua sobrevivência política.
A última exigência foi o apoio a Garotinho, que hoje articula a derrubada do próprio Brizola da presidência do PDT.


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