São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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NO AR

Quem não quer mudança

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A "esquerda", como diz Garotinho, pode cobrar o quanto quiser pelo apoio a Lula, que o petista segue em compras em outra parte.
É na "direita" que estão os votos que ele deseja, como deixou claro ontem o próprio candidato. Era o que queria dizer, em seu "café da manhã" diante das câmeras, ao anunciar que vai atrás do voto "até de quem não quer mudança".
Afinal, como sublinhou um dia antes em entrevista ao Jornal Nacional, "76% votaram contra o governo". E agora José Serra, no entender de Duda Mendonça, já não tem como escapar -ele é governo.
Do marqueteiro, ontem na Globo, comentando o que muda no segundo turno:
- Muda que, para o eleitor, fica mais claro quem é governo e quem é oposição.
"Colegas de oposição", como chamou Lula um dia, podem pressionar o quanto quiserem que os seus votos, os que foram de oposição, tendem a se encaminhar naturalmente.
São os outros votos que Lula e Duda cortejam. São os votos dos membros da Igreja Universal, cujo bispo Rodrigues, vice-presidente do PL, já estava dizendo, ontem na CBN:
- Nosso partido tem o vice-presidente (da chapa), então nós temos a obrigação de entrar de cabeça na campanha de Lula. Eu já estou fazendo.
ACM, segundo a CBN, também "recomendou abertamente o voto em Lula". Assim agiu uma parte da "direita", ontem. Quanto à esquerda, continuou tentando vender.
Roberto Freire, presidente do PPS, começou o dia insinuando que o apoio dependia da "possibilidade de participação", ou seja, de cargos. Mas ele foi atropelado por Ciro Gomes, ao vivo na Globo News. Disse o impulsivo Ciro:
- Estou à disposição do PT. Apoio irrestrito e entusiástico.
O mesmo fez Leonel Brizola. Mas não é deles que Lula precisa, nem de Miguel Arraes cobrando "firmeza" com o FMI ou de Garotinho vetando Sarney. Aliás, nem é de apoio, segundo Franklin Martins:
- É muito discutível se candidato derrotado transfere votos. O eleitor não tem cabresto. Logo (os presidenciáveis) estarão correndo atrás não dos chefes políticos, mas do eleitor.
No que depender do petista, ele vai atrás do eleitor "que não quer mudança" sem qualquer veto "ideológico".
No caminho, vai descobrir que Serra já está por lá, cortejando PFL e PPB -como ficou claro nos telejornais.
 
Lula e Serra deram entrevistas exclusivas ao JN, anteontem. E só ontem fizeram o mesmo nos jornais da Record e da Band.



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