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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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MINISTRA NO FOGO

Ministro da Controladoria diz que devolução de verba gasta em viagem seria o melhor a fazer; petista não vê motivos

Pires defende que Benedita devolva dinheiro

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Waldir Pires, defendeu ontem que a ministra da Assistência Social, Benedita da Silva, devolva à União o dinheiro que gastou na viagem que fez no mês passado à Argentina para participar de um encontro evangélico.
Pires disse que a devolução seria o melhor a fazer "do ponto de vista funcional" e que esse seria "um procedimento de natureza ética". Segundo ele, a ministra poderia receber o dinheiro de volta, depois de comprovar o caráter oficial da sua viagem.
"Fica mais fácil, mais simples para a ministra devolver o dinheiro, defender-se e recebê-lo de volta, na medida em que comprovar que a ação pública foi realizada", disse o ministro-chefe.
A ministra Benedita da Silva afirmou, por meio de sua assessoria, que não vê razão para devolver o dinheiro, porque sua viagem teve caráter oficial.
Depois que soube das declarações de Pires, ela ligou para o ministro para dizer que encaminharia a ele a documentação que já havia apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrando que realizou uma viagem de trabalho.
Benedita também prometeu encaminhar a Waldir Pires a documentação que está preparando para enviar ao Ministério Público -o que fará "bem antes" do prazo de dez dias que recebeu. Essa documentação "mostra com clareza que a ministra cumpriu uma agenda de trabalho".
A autorização concedida pela Presidência da República para Benedita deixar o país citava como motivo da viagem a participação no 12º Café da Manhã Anual da Oração -um evento religioso e, portanto, de natureza pessoal. A viagem da ministra foi paga com dinheiro público.
Depois das explicações da ministra, Lula afirmou que se tratou de um "erro administrativo", já que o motivo que seria o principal da viagem (a agenda de trabalho) não constava da autorização.
Benedita afirma que se encontrou com empresários e com a ministra da Ação Social da Argentina, Alícia Kirchner. A Folha apurou em Buenos Aires que o encontro com a ministra foi marcado às pressas, no dia em que Benedita chegou àquela cidade.

"Na religião, seria pecado"
Encarregado de apurar suspeitas de corrupção no governo, Pires ressaltou diversas vezes que o episódio da ministra Benedita era uma questão de natureza ética, não um caso de corrupção.
Segundo o ministro-chefe, o que houve foi um "descuido ou falta, que em religião seriam classificados de pecados veniais".
O caso Benedita, segundo Pires, é "diminuto" se comparado à "corrupção gigantesca" que ocorre em outros setores do país.
Segundo ele, seu ministério já comprovou o desvio de dezenas de milhões de reais de dinheiro público em diversas cidades.
"A sociedade brasileira precisa aprender a fazer gradações entre o que é realmente grave e um desvio eventual", afirmou Pires.


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