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Relatora da ONU quer
ouvidorias mais ágeis
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após passar 21 dias viajando
por seis Estados brasileiros, a relatora especial das Nações Unidas
para execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais, Asma Jahangir, 51, disse ontem que vai sugerir
a racionalização do trabalho de
instituições que cuidam desses tipos de crime no país.
Essa é uma de suas sugestões,
assim como o envio de observadores para o Poder Judiciário.
Na prática, isso significaria: dar
mais agilidade às instituições já
existentes, como ouvidorias e corregedorias; evitar sobreposição de
funções, inclusive em investigações; reduzir a burocracia e ampliar o mandato de coordenadores desses órgãos.
"É fácil dizer para criar mais um
órgão", afirmou ela durante entrevista em Brasília, após se encontrar com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Ela criticou
também setores da elite brasileira,
que para ela não teriam interesse
na melhor apuração dos casos de
violação de direitos humanos.
Para ela, a ausência de prestação
de contas das instituições e a concessão de poderes ilimitados, como no caso da polícia, ajudam a
levar à impunidade.
Chamando os crimes praticados por policiais, inclusive homicídios, de "situação altamente
preocupante", a relatora ressaltou
a necessidade de mudança na
orientação do treinamento da polícia, principalmente a PM.
"A polícia não tem o direito de
matar, seja a pessoa criminosa ou
não. A polícia precisa ser pública
para atender ao povo, não a grupos de interesse", afirmou, ao citar casos relatados a ela no Pará.
Segundo a relatora da ONU, no
Estado há execuções extrajudiciais ligadas à posse da terra.
"Muitas vezes a polícia entra na
terra e abusa da força."
Advogada
Advogada paquistanesa, Jahangir está no cargo de relatora desde
1998 e visitou o Brasil a convite do
governo. Evitando fazer comparações da situação brasileira com
outros países, disse que seu relatório vai citar os casos de violação
dos direitos humanos, mas também trará os esforços dos governos para superar o problema.
O documento deve estar pronto
no início do próximo ano.
Durante a entrevista, Jahangir
fez um breve relato de alguns casos que ouviu. Entre eles os de jovens mortos pela polícia e de famílias de vítimas ameaçadas.
Além do caso de uma mãe que,
após ter o filho morto por companheiros de cela mesmo depois de
denúncias dessa possibilidade, foi
chamada à prisão para buscar um
olho do filho. "Estou contando essas experiências porque esse comportamento é desumano."
Por cerca de uma hora e meia
Jahangir esteve com Lula no Palácio do Planalto e se disse "impressionada" com o interesse do presidente pelo tema dos direitos humanos. Recebeu um relatório sobre violência no campo.
O próximo relator da ONU a visitar o Brasil, em novembro, será
Juan Manuel Petit, que trata de assuntos relacionados à prostituição infantil e de adolescentes.
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