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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Direção nacional do partido e publicitário renegociaram dívidas feitas entre 2003 e 2005 nos bancos Rural e BMG, segundo CPI
PT e Valério rolaram empréstimos 30 vezes
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A direção nacional do PT e o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suspeito de ser o
operador do "mensalão", conseguiram rolar 30 vezes os empréstimos que contraíram nos bancos
Rural e BMG entre 2003 e 2005.
Ao longo desses dois anos de dívidas não pagas -um rombo que
hoje alcança pelo menos R$ 100,8
milhões-, o PT e as empresas de
Valério fizeram apenas quatro
amortizações, num total de R$ 3,6
milhões (uma parcela de R$ 750
mil do partido e o restante das
empresas do publicitário), ou cerca de 5% da dívida original, de
R$ 63 milhões.
Para o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator
de movimentação financeira na
CPI dos Correios, as seguidas rolagens das dívidas feitas pelo PT e
pelas empresas de Valério reforçam indícios de que os empréstimos foram tomados já com o objetivo de não serem pagos aos
bancos.
O deputado pedirá um estudo
aos técnicos do Banco Central sobre a freqüência com que operações deste tipo são realizadas nas
duas instituições.
Questionada diretamente sobre
isto pela Folha -"se são comuns
no banco as sucessivas renegociações de empréstimos"-, a assessoria do Banco Rural deu uma
resposta diversa: "Executar uma
dívida de um cliente na Justiça
pode resultar em um processo
longo e desgastante, e que nem
sempre tem um resultado positivo para o banco. O Rural opta por
esgotar todas as negociações com
os clientes".
"É estranho renegociar sempre
sem nada receber. É o tipo de empréstimo contraído para não ser
cobrado", afirmou o deputado
Gustavo Fruet.
A CPI dos Correios recebeu dos
bancos uma relação de todos os
empréstimos concedidos desde o
ano 2000 e que tiveram a participação de Marcos Valério de Souza, seja como tomador, seja como
avalista, além de todos os empréstimos relacionados à direção nacional do PT.
Os empréstimos do PT foram
rolados 14 vezes e os de Marcos
Valério 16 vezes.
Continuidade
A análise dos dados ressalta que
os bancos continuaram liberando
recursos mesmo após amargar
meses sem nada receber.
O dia 14 de julho de 2004 é um
exemplo. Em 24 horas, o BMG rolou dois empréstimos (um de
R$ 2,4 milhões para o PT e outro
de R$ 15,7 milhões para a empresa
Graffiti, de Valério), mas ainda assim não se furtou em conceder
mais um novo crédito, para a
SMPB Comunicação, em que Valério era sócio, no valor de R$ 3,5
milhões. Em março seguinte,
também este empréstimo foi renegociado.
O empréstimo de R$ 3 milhões
contraído pelo comando do PT
no banco BMG em 12 de agosto de
2003, com aval de Valério, do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares e do ex-presidente da
sigla José Genoino, foi o que mais
passou por renegociações. Foram
dez tratativas, o que fez a dívida
saltar para R$ 6,4 milhões (valor
em 13 de junho último).
Não liquidados
Há hoje sete empréstimos não
liquidados. Dois são para o PT,
um no Rural e outro no BMG, no
valor aproximado acumulado de
R$ 10 milhões. As cinco dívidas
das empresas de Valério são as seguintes: duas da Graffiti Participações (uma no Rural e outra no
BMG), uma da Tolentino & Associados, no BMG, e outra da SMPB
no Banco Rural.
As renegociações foram tema
de abordagens dos parlamentares
durante o depoimento concedido
à CPI dos Correios pela presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo,
no último dia 13.
Ao responder a uma pergunta
de Fruet, a vice-presidente de suporte operacional do banco, Ayana Tenório Torres de Jesus, que
acompanhava Kátia Rabelo, deu
uma resposta genérica. Disse à comissão que "as renovações fazem
parte da história normal dessas
operações" feitas por Marcos Valério, mas não explicou a freqüência das repactuações no conjunto
das operações do banco.
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