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JANIO DE FREITAS
Do começo ao fim
O presidente que faz - na própria sede da Presidência da República - uma
manifestação de solidariedade
a políticos praticantes de comprovada improbidade comete,
mais do que a provocação que
pretendeu fazer à sociedade toda, um passo que o leva para fora da responsabilidade constitucional.
O passionalismo (e certa esperteza) dos petistas históricos
tem falado de um "golpe branco", a pretexto das investigações
de corrupção, para derrubar
Lula. Não fosse, porém, a existência de uma conspiração para
proteger (bloquear é a palavra
do mau gosto em moda) Lula e
Palocci, contornando na mídia
e nas CPIs o que quer que possa
comprometer um ou outro, ambos iriam responder pelo ato e
pelas declarações de solidariedade à corrupção política e contra as leis nacionais.
Antonio Palocci não se limitou à conivência verbal: "Gostaria de manifestar total solidariedade aos envolvidos, que estão pagando um preço alto por
práticas irregulares do partido",
é a sua frase, narrada a repórteres por presentes ao ato de congraçamento. Sua frase é uma inverdade: as práticas não foram
do partido, foram de parlamentares que apanharam ou mandaram apanhar dinheiro, altas
quantias, de cuja ilegalidade tinham plena consciência, tanto
que o esconderam de suas prestações de contas pessoais e eleitorais.
Cada um sabe com quê e com
quem se solidariza. Mas a injustiça fere o sentimento público. E
esse foi o pior aspecto da comunhão na Presidência da República. A ausência de Marcos Valério de Souza foi a ausência do
patrono de toda a solidariedade
ali celebrada, assim como de
suas motivações e benefícios. Se
alguns dos presentes embolsaram boas boladas, o maior beneficiário do mecenato de Marcos Valério foi mesmo Lula: os
cheques do ausente e injustiçado Marcos Valério é que azeitaram a Câmara, para sujeitá-la
ao Planalto, e, por intermédio
de Professor Luizinho, João
Paulo Cunha, Paulo Rocha e
outros valerizados, fizeram a
bancada petista curvar-se ao
fernandismo de Lula e Palocci.
Mas a injustiça tem atenuante: ao solidaridar-se com os que
embolsaram o dinheiro ilegal,
Lula e Palocci solidarizavam-se
inevitavelmente, no mesmo gesto, com o doador, Marcos Valério de Souza.
Tudo, portanto, acabou em
casa. Ou, melhor, no Palácio.
Onde, aliás, também começou.
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