São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Segundo turno define se presidente do partido será Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, ou Raul Pont, da Democracia Socialista

PT deve confirmar hoje lealdade total a Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

O PT que vai hoje às urnas escolher seu novo presidente decidirá se permanece seguidor fiel do Palácio do Planalto, como se comportou até agora, ou se adota discurso mais crítico e potencialmente embaraçoso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A primeira opção é representada pelo deputado Ricardo Berzoini (SP), do Campo Majoritário, o favorito, e a outra pelo ex-prefeito de Porto Alegre (RS) Raul Pont, da Democracia Socialista, o azarão. Qualquer que seja o eleito, no entanto, não deve haver mudança significativa no legado do ex-ministro José Dirceu, presidente do PT entre 1995 e 2002, que está plenamente enraizado no partido, seja no tocante à ortodoxia econômica ou à política de alianças.
Até herdar a candidatura a presidente, há cerca de um mês, Berzoini ensaiou um discurso de "transição", com críticas pontuais à gestão da economia, mas hoje defende o governo. No máximo fala em "insuficiências".
Antes defensor de que os acusados de "mensalão" deixassem a chapa do Campo, Berzoini agora diz que eles têm o direito a renunciar e candidatar-se em 2006.
Ontem, em debate em Curitiba (PR), ele afirmou que não será favorável a punições de petistas "sem que o presidente nacional do PSDB [o senador mineiro Eduardo Azeredo], que também usou caixa dois, seja punido. Sem que o ex-ministro Roberto Brant, que é meu amigo, pessoa séria e digna, mas que também usou caixa dois, seja punido. Sem que o ex-líder do PSDB Custódio Mattos seja punido".
Berzoini procura mobilizar a base do partido que permanece convencida de que a metamorfose vivida pelo PT nos últimos anos para torná-lo viável eleitoralmente é fundamentalmente correta e carece apenas de correções pontuais. "É um momento de afirmação do partido e do governo", diz ele, que teve 42% no primeiro turno, contra 14,7% de Pont.
Pont, da chamada esquerda do partido, aposta na reavaliação de práticas do governo. "Sou governo, mas não podemos fechar os olhos para questões que nós mesmos sinalizamos para a população e que não conseguimos realizar ainda", afirma.
Prevendo uma disputa apertada, os coordenadores da eleição prometem uma rígida fiscalização para evitar as irregularidades -como transporte maciço de filiados- que marcaram o primeiro turno, no dia 18 de setembro.
Pelo fato de as chapas e a maioria das disputas locais já terem sido definidas na primeira etapa da eleição, o partido prevê queda no número de votantes -no primeiro turno, 314.926 foram às urnas.
Até agora, o partido não instalou uma Comissão de Ética para investigar os parlamentares petistas que receberam dinheiro do esquema de Marcos Valério.
No debate ontem, Pont prometeu como sua primeira medida a abertura de processo disciplinar contra petistas envolvidos no escândalo, apesar de isso ser uma decisão que compete ao diretório nacional, dominado pelo Campo.
Se depender de Berzoini, tal comissão só será aberta após a conclusão das apurações no Congresso. "O PT não quer pizza nem fuzilamento", afirma o candidato, para quem há um foco exagerado da imprensa apenas sobre as denúncias que atingem os petistas.
Em Curitiba, ambos criticaram a imprensa por concentrar-se apenas nas acusações contra deputados petistas e não no processo de "reconstrução" do partido.
Berzoini, sem citar nomes, criticou a atitude de alguns integrantes do PT. Ele sugeriu que alguns petistas procuram a imprensa para atacar o Campo Majoritário. "A "Veja" e a Folha não mandam no PT", disse o candidato. "Mas alguns [do PT] preferem dialogar com a "Veja" e com a Folha."
Pont concorda que há uma "cobrança desigual" da imprensa, mas quer uma investigação interna imediata. Ele ainda é a favor de barrar a legenda em 2006 para o parlamentar que renunciar.


Colaborou a Agência Folha, em Curitiba

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