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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO
Ministro quer ser ouvido por comissão no Senado, segundo proposta feita à oposição
Palocci negocia para depor sobre caso Cuba sem ir à CPI
FERNANDA KRAKOVICS
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Líderes governistas negociam
com a oposição a ida do ministro
Antonio Palocci (Fazenda) ao
Congresso para dar explicações
sobre seu suposto envolvimento
na remessa de dinheiro de Cuba
para a campanha do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A estratégia é negociar um pedido para que Palocci seja ouvido
na CAE (Comissão de Assuntos
Econômicos) do Senado, e não
em uma das CPIs em funcionamento no Congresso. Como ministro, se for convocado pelas
CPIs ou pelas comissões, ele é
obrigado a comparecer.
Os recados foram mandados
por meio do líder do governo
Aloizio Mercadante (PT-SP), que
se reuniu ontem e anteontem
com Palocci para tratar da medida provisória que cria a Super-Receita. A idéia era marcar uma audiência pública na próxima semana mas, por causa do feriado, deve
ficar para a seguinte.
Nesse cenário, o ministro evitaria o desgaste de uma convocação
para uma CPI e responderia a perguntas sobre o caso Cuba numa
situação mais confortável por estar na CAE, ou seja, não seria ouvido na condição de investigado.
Caso a oposição insista em convocá-lo, Palocci avalia que talvez
não seja suficiente falar numa comissão temática do Congresso.
Aí, seria melhor partir logo para
um depoimento numa CPI.
Na opinião do ministro, uma
eventual turbulência econômica
por sua ida a uma CPI seria debitada na conta da oposição.
"Se eu fosse ele, eu viria de peito
aberto. A economia vai bem e não
é justo que ele tenha sua cabeça
colocada em praça pública para
ser cortada", disse o senador Tião
Viana (PT-AC), que é vice-líder
do governo e tem bom trânsito
com a oposição.
O PSDB e o PFL têm poupado o
ministro desde o início da crise,
temendo uma contaminação da
economia. Eles avaliam, no entanto, que Palocci está sendo arrastado naturalmente para o centro das investigações e seria positivo se ele comparecesse espontaneamente ao Congresso.
"Ninguém tem a intenção de
degolá-lo", disse o senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE), que assumirá a presidência do partido no
dia 18. "Talvez não seja necessário
ele vir ou talvez a CAE não seja suficiente. Tudo vai depender dos
fatos", afirmou o líder do PSDB,
senador Arthur Virgílio (AM).
Após as denúncias de caixa dois
na Prefeitura de Ribeirão Preto
(SP) durante a gestão de Palocci, o
ministro voltou a ser foco das investigações depois que a revista
"Veja" revelou suposto envio de
US$ 1,4 milhão a US$ 3 milhões de
Cuba para a campanha de Lula.
Todos os citados na operação são
ex-assessores de Palocci.
A situação do ministro ficou
mais complicada com depoimento sigiloso colhido anteontem pela CPI do Bingos. Uma testemunha ligada ao PT apontou o empresário Roberto Carlos Kurzweil
como o responsável pela captação
de parte dos recursos da campanha de Lula, em nome de Palocci.
Ele teria conseguido R$ 1 milhão
de dois empresários angolanos,
donos de bingos em São Paulo.
Oportunidade
"Todos os ministros estão sempre dispostos a vir ao Congresso
dar explicações. É uma excelente
oportunidade para discutir toda e
qualquer matéria", afirmou Mercadante. Para o senador, não seria
bom que o ministro da Fazenda
fosse convocado por uma CPI.
Segundo a Folha apurou, os senadores Tasso Jereissati e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)
sinalizaram que acham boa a proposta de Palocci ser ouvido na
CAE. A decisão final deve ser tomada após o depoimento de ex-assessores do ministro na CPI dos
Bingos -Rogério Buratti e Vladimir Poleto, citados no caso Cuba,
devem ser ouvidos amanhã.
"Nós não estamos segurando os
ataques ao Palocci e a vinda dele
aqui. Agora, a imprensa publica
reportagens que criam fatos ruins
para ele. Não é culpa da oposição", diz Tasso. Para o senador,
poderá ser "inevitável" a presença
de Palocci em uma CPI, seja convocado ou por iniciativa própria.
O presidente do PT, deputado
federal Ricardo Berzoini (SP), disse ontem que a oposição poderá
"criar uma crise na economia" se
insistir em chamar Palocci a uma
CPI. "Os fundamentos e os resultados da economia são positivos e
sólidos, mas não se deve brincar
com uma área sensível", afirmou
Berzoini.
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