São Paulo, segunda, 9 de novembro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Funcionário se reúne com juíza e MST para negociar desocupação de fazenda invadida em Itararé
Incra tenta evitar ação de Tropa de Choque

Jorge Araújo/Folha Imagem
Trabalhador sem-terra monta guarda em frente à fazenda Rio Verde, armado com dois coquetéis molotov



WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Itararé

O Incra tenta hoje um último recurso para impedir a retirada dos 600 sem-terra da fazenda Rio Verde pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que deve chegar hoje a Itararé (oeste de São Paulo).
Gilmar Viana, do gabinete do Incra em Brasília, vai se reunir na cidade com integrantes do MST e com a juíza Elizabeth Ashikawa, que determinou a desocupação, para tentar o fim do impasse.
Delwek Matheus, integrante da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse que as famílias só saem da fazenda caso sejam transferidas para outra área determinada pelo governo.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) tentou, na semana passada, encontrar uma área para abrigar as famílias, mas não achou. Isso torna mais difícil um acordo.
A juíza de Itararé (340 km a oeste de São Paulo) disse que não vai recuar da decisão e deixou a cargo da PM fazer a reintegração de posse. A Tropa de Choque está mobilizada e já tem pronto um plano de ação, não divulgado.
A juíza aceitou, na semana passada, dar um prazo de dois dias para o Incra indicar uma área. O prazo se esgotou na sexta-feira.
Os sem-terra dizem estar preparados para resistir à desocupação se não houver o acordo de última hora. Para eles, o dia será de grande expectativa e tensão em relação à chegada da PM.
Três cenários podem ser previstos na fazenda Rio Verde. O primeiro é a saída pacífica dos sem-terra, após um acordo hoje com o governo e a Justiça.
Outra possibilidade é a ação da Tropa de Choque, podendo resultar em um confronto com os invasores. A última, caso a polícia faça a reintegração, é que os sem-terra saiam da área, mas depois de atear fogo na casa, tratores, pasto e máquinas agrícolas da fazenda.
Os sem-terra estão armados com coquetéis molotov (bomba de fabricação caseira) e colocaram madeiras no telhado da casa-sede para atear fogo.
Eles têm dito vão pôr fogo na fazenda se forem retirados do local. "O pessoal está disposto a fazer isso, já que o governo não se mostra preocupado com a miséria e o sofrimento dessas pessoas", afirmou Matheus.
Invasões no Pontal
O MST invadiu duas fazendas no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo) entre a noite de sexta-feira e a tarde de anteontem, quando 55 famílias invadiram a fazenda Inhancá, em Teodoro Sampaio, que já foi adquirida pelo Incra para assentamento.
Segundo o líder do MST José Rainha Jr., as famílias não estavam dispostas a esperar a ação do Incra e fizeram o assentamento "por conta própria". Outro grupo, com 30 famílias, invadiu a fazenda Jaguar, em Rancharia, sexta-feira.
O proprietário da fazenda, Antonio dos Santos, disse não pretender negociar a área com o governo para desapropriação. Os sem-terra começaram a preparar o solo para o plantio nas duas fazendas.



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