São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2000

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Ex-juiz está 28 kg mais magro e com o cabelo comprido
Lula Marques-4.mai.99/Folha Imagem
O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, acusado de desvio de verba do TRT-SP, que se apresentou ontem à PF, após 227 dias foragido



DA REPORTAGEM LOCAL

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto chorou quando chegou ontem à superintendência da Polícia Federal, no centro de São Paulo. Em seu depoimento, afirmou ter dormido apenas uma hora por dia nos últimos tempos.
Com o cabelo comprido, em um tom entre o grisalho e o amarelado, ele vestia terno azul marinho e camisa xadrez, com gravata, ao chegar ao prédio da PF. Nicolau estava 28 quilos mais magro, segundo o diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho.
Ao chegar ao prédio, Nicolau entrou em um elevador que parou em todos os andares até o 18º piso do prédio.
Segundo seu relato aos policiais, Nicolau teria esperado para se entregar à PF em um motel chamado Dolphin, nas redondezas da cidade gaúcha de Bagé. Ele teria estado escondido no Uruguai.
O superintendente da PF no Rio Grande do Sul, Lauro Noguez, afirmou que Nicolau vivia no Uruguai "nos últimos tempos".
Com base em registros de compras e escuta de telefonemas do ex-juiz para familiares, as pistas do paradeiro dele apontavam principalmente para Montevidéu e Punta del Este.
Nicolau foi preso na rodovia Dom Pedrito-Bagé, que liga as duas cidades gaúchas. Elas ficam perto da fronteira com o Uruguai.
De lá para São Paulo, Nicolau voou em um táxi aéreo bimotor, de prefixo PT-NGH. A aeronave pousou no Campo de Marte (zona norte), por volta das 20h30.
Na caça ao ex-juiz, a Polícia Federal ficou dividida em duas facções com meios distintos.
Enquanto alguns agentes tentavam até o último minuto cumprir o mandato de prisão contra Nicolau, outra facção comandava as negociações para a entrega do ex-juiz foragido.
Ontem, os agentes que estavam à procura de Nicolau já haviam identificado o avião que o trazia e estavam se direcionando ao Campo de Marte para prendê-lo.
O acordo, entretanto, foi mais rápido, e o ex-juiz se entregou antes de ser alcançado pelos agentes que queriam prendê-lo.
A rendição ocorreu conforme as exigências do ex-juiz. Elas incluíam a de não ser fotografado e a de se apresentar ao delegado Roberto Precioso.
As negociações com a PF e com o Ministério da Justiça aconteciam há cerca de um mês.
Oficialmente, o ministério e a PF negam. O advogado de Nicolau, Alberto Zacharias Toron, porém, definiu as buscas da PF como a brincadeira infantil de quente e frio. "A PF sempre esteve muito frio", afirmou.
À 0h25 de hoje, Nicolau foi transferido da superintendência para a carceragem da PF, na rua Piauí, no bairro Higienópolis, onde deverá ficar preso.
Foi montada um verdadeira operação de guerra durante a transferência do ex-juiz. Na porta da superintendência que dá acesso à avenida Rio Branco, um delegado da PF atravessou um Santana no meio da via para impedir a aproximação da imprensa.
Logo após, uma Blazer com vidros com película preta deixou a sede da PF rumo à carceragem. Não foi possível identificar quem estava no carro.
Simultaneamente, uma outra Blazer com vidros escuros parou em frente à saída do prédio na rua Antonio de Godói. Uma pessoa com a cabeça coberta entrou no veículo, que seguiu para a carceragem da Polícia Federal.
Três minutos depois, Toron deixou a superintendência com um agente da PF não-identificado em direção à carceragem.
O delegado Precioso também seguiu da sede da PF rumo à carceragem logo depois.





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