São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2000 |
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Ex-juiz está 28 kg mais magro e com o cabelo comprido
DA REPORTAGEM LOCAL DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto chorou quando chegou ontem à superintendência da Polícia Federal, no centro de São Paulo. Em seu depoimento, afirmou ter dormido apenas uma hora por dia nos últimos tempos. Com o cabelo comprido, em um tom entre o grisalho e o amarelado, ele vestia terno azul marinho e camisa xadrez, com gravata, ao chegar ao prédio da PF. Nicolau estava 28 quilos mais magro, segundo o diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho. Ao chegar ao prédio, Nicolau entrou em um elevador que parou em todos os andares até o 18º piso do prédio. Segundo seu relato aos policiais, Nicolau teria esperado para se entregar à PF em um motel chamado Dolphin, nas redondezas da cidade gaúcha de Bagé. Ele teria estado escondido no Uruguai. O superintendente da PF no Rio Grande do Sul, Lauro Noguez, afirmou que Nicolau vivia no Uruguai "nos últimos tempos". Com base em registros de compras e escuta de telefonemas do ex-juiz para familiares, as pistas do paradeiro dele apontavam principalmente para Montevidéu e Punta del Este. Nicolau foi preso na rodovia Dom Pedrito-Bagé, que liga as duas cidades gaúchas. Elas ficam perto da fronteira com o Uruguai. De lá para São Paulo, Nicolau voou em um táxi aéreo bimotor, de prefixo PT-NGH. A aeronave pousou no Campo de Marte (zona norte), por volta das 20h30. Na caça ao ex-juiz, a Polícia Federal ficou dividida em duas facções com meios distintos. Enquanto alguns agentes tentavam até o último minuto cumprir o mandato de prisão contra Nicolau, outra facção comandava as negociações para a entrega do ex-juiz foragido. Ontem, os agentes que estavam à procura de Nicolau já haviam identificado o avião que o trazia e estavam se direcionando ao Campo de Marte para prendê-lo. O acordo, entretanto, foi mais rápido, e o ex-juiz se entregou antes de ser alcançado pelos agentes que queriam prendê-lo. A rendição ocorreu conforme as exigências do ex-juiz. Elas incluíam a de não ser fotografado e a de se apresentar ao delegado Roberto Precioso. As negociações com a PF e com o Ministério da Justiça aconteciam há cerca de um mês. Oficialmente, o ministério e a PF negam. O advogado de Nicolau, Alberto Zacharias Toron, porém, definiu as buscas da PF como a brincadeira infantil de quente e frio. "A PF sempre esteve muito frio", afirmou. À 0h25 de hoje, Nicolau foi transferido da superintendência para a carceragem da PF, na rua Piauí, no bairro Higienópolis, onde deverá ficar preso. Foi montada um verdadeira operação de guerra durante a transferência do ex-juiz. Na porta da superintendência que dá acesso à avenida Rio Branco, um delegado da PF atravessou um Santana no meio da via para impedir a aproximação da imprensa. Logo após, uma Blazer com vidros com película preta deixou a sede da PF rumo à carceragem. Não foi possível identificar quem estava no carro. Simultaneamente, uma outra Blazer com vidros escuros parou em frente à saída do prédio na rua Antonio de Godói. Uma pessoa com a cabeça coberta entrou no veículo, que seguiu para a carceragem da Polícia Federal. Três minutos depois, Toron deixou a superintendência com um agente da PF não-identificado em direção à carceragem. O delegado Precioso também seguiu da sede da PF rumo à carceragem logo depois. Texto Anterior: Caso TRT: Ex-juiz Nicolau se entrega para a PF depois de mais de sete meses de fuga Próximo Texto: Ministro da Justiça nega acordo Índice |
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