São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2000

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CASO TRT

Rendição encerrou longa série de fracassos da Polícia Federal na tentativa de prender Nicolau no Brasil, Uruguai, Itália e Suíça

Ex-juiz estava foragido desde 25 de abril



DA REDAÇÃO

O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto estava foragido desde o dia 25 de abril deste ano, quando teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Casem Mazloum, da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
Nicolau presidiu o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo entre 15 de setembro de 1990 e 15 de setembro de 1992. De 1992 a 1998, ele presidiu a Comissão de Obras do TRT, quando foram liberados os recursos para a obra do Fórum Trabalhista de São Paulo. O ex-juiz é acusado de ter desviado, entre 1992 e 1998, R$ 169,5 milhões dos R$ 223,7 milhões destinados à obra do fórum.
A obra, que estava a cargo da construtora Incal, foi abandonada em 1998. A CPI do Judiciário investigou o caso em 1999. A quebra dos sigilos bancários dos envolvidos mostra pagamentos vultosos das empresas de Fábio Monteiro de Barros, da Incal, para o Grupo OK, do ex-senador Luiz Estevão (cassado pelo Senado no último dia 28 de junho).
Na conta do ex-juiz nas Ilhas Cayman foram identificados depósitos vultosos. Em 23 de novembro de 1994 aparece um depósito de US$ 2 milhões. No dia 22 de junho de 1994 aparece outro depósito, de US$ 1,4 milhão. Mais US$ 1 milhão é depositado em 23 de setembro de 1995. Em junho de 1996, US$ 1 milhão.
Após a fuga de Nicolau, o governo brasileiro conseguiu bloquear os US$ 7 milhões que estavam depositados em uma conta de Nicolau na agência do banco Santander em Genebra. Os US$ 7 milhões, porém, só serão repatriados quando o ex-juiz for condenado pela Justiça brasileira. O Ministério da Justiça calcula que isso levará pelo menos dois anos.
No dia 6 de setembro, a Justiça dos Estados Unidos, em Miami, concedeu uma liminar bloqueando transações com o apartamento do ex-juiz naquela cidade.
O imóvel, avaliado em US$ 1,3 milhão, foi vendido pela Hillside Trade Group, empresa do ex-juiz localizada nas Bahamas, para a Stedman Properties Inc. em dezembro de 1999.
A pressão sobre Nicolau também atingiu suas fontes de renda no Brasil. No último dia 23 de outubro, o Tribunal Regional do Trabalho suspendeu a aposentadoria paga ao ex-juiz.
A aposentadoria, no valor de R$ 10.735,60, era depositada mensalmente na conta de Nicolau e retirada por uma de suas filhas, foi cancelada por falhas em seu pedido de recadastramento como funcionário inativo do TRT paulista.

Buscas
A negociação que resultou na rendição de Nicolau dos Santos Neto encerrou um longo período de fracassos da Polícia Federal na tentativa de prender o ex-juiz.
Ele havia sido visto pela última vez no dia 22 de agosto em uma loja Renaissance, em frente da catedral de Milão (Itália), por uma embaixatriz brasileira.
O primeiro país em que a polícia procurou Nicolau foi o Uruguai. Além de procurá-lo por Montevidéu, capital do país, os agentes da polícia também foram ao balneário de Punta del Este.
Com os seus dois passaportes retidos pela Justiça, o ex-juiz poderia entrar no Uruguai usando apenas a carteira de identidade, já que o país integra o Mercosul.
Depois de passar pelo Uruguai, os agentes seguiram em direção ao Rio Grande do Sul. A busca se concentrou em cidades fronteiriças, por onde o ex-juiz poderia tentar escapar em direção à Argentina ou ao Uruguai.
Depois, dois agentes da Polícia Federal desembarcaram na Europa, onde procuraram Nicolau na Itália, onde as buscas se concentraram em pequenas cidades nos arredores de Milão, e na Suíça, onde os agentes vasculharam Lugano e arredores. Por meio de um cartão de crédito do Corner Banca de Lugano, o ex-juiz chegou a comprar duas passagens aéreas em Miami, dois meses após ter sido decretada sua prisão.
Em Minas Gerais, a polícia procurou Nicolau na cidade de Capitólio, na pousada Escarpas do Lago. A polícia foi até o local, mas não informou se encontrou indícios de que ele passou por lá.


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